MORTE

Léa Garcia deixa legado que transcende personagens

Artista estava em Gramado (RS) para ser homenageada no Festival de Cinema pelo conjunto da obra; com mais de 100 produções no currículo, artista continuava no pleno exercício da profissão

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Agência Estado

Publicado em 15/08/2023 às 18:22 | Atualizado em 15/08/2023 às 20:29
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Uma das atrizes mais longevas do Brasil, Léa Garcia morreu na terça-feira (15), aos 90 anos, vítima de um enfarte no miocárdio. Ela estava em Gramado (RS) para participar do Festival de Cinema.

Garcia seria homenageada na mesma noite de terça, pelo festival, ao lado de Laura Cardoso, com o troféu Oscarito. As duas foram vistas juntas no sábado (12), em uma das sessões do evento. 

Reconhecida agora pelo conjunto da obra, a atriz já ganhou Kikitos por "Filhas do Vento", "Hoje Tem Ragu" e "Acalanto" e foi indicada em 1957 para o prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes por "Orfeu Negro".

O filho da atriz, Marcelo Garcia, receberá o troféu em nome da mãe no palco do Palácio dos Festivais no início da primeira sessão. Já a entrega do troféu Oscarito para Laura Cardoso foi reagendada. A cerimônia será realizada na sexta-feira, 18 de agosto, também no Palácio dos Festivais.

Com mais de 100 produções no currículo, incluindo cinema, teatro e TV, Léa continuava no pleno exercício da profissão - e estava em negociação para reviver a personagem Chica Xavier no remake da novela Renascer, segundo informações do jornal O Globo.

Léa fez uma participação especial na série "Vizinhos", que estreia no Canal Brasil dia 25, dirigida por José Eduardo Belmonte, e também esteve em cartaz nos palcos de São Paulo, no final do ano passado, ao lado de Emiliano Queiroz no espetáculo A Vida Não É Justa, sob a direção de Tonico Pereira.

Neste ano, ela ganhou uma biografia, Entre Mira, Serafina, Rosa e Tia Neguita: a Trajetória e o Protagonismo de Léa Garcia, de Julio Claudio da Silva.

TRAJETÓRIA

Nascida em 11 de março de 1933, no Rio, Léa Garcia teve grande importância ao coroar o espaço de artistas negros na dramaturgia brasileira. Foi aos 16 anos que ela conheceu o Teatro Experimental do Negro (TEN), então liderado por Abdias Nascimento, e sua estreia nos palcos se deu em 1952, com Rapsódia Negra. Demorou para que Abdias a convencesse a atuar, mas Léa estaria presente em sete montagens do TEN.

A atriz atingiu o apogeu de sua carreira, no início dos anos 1970, interpretando Rosa na novela A Escrava Isaura, da TV Globo. Entre outros espetáculos, também trabalhou em "Anjo Negro" e "Perdoa-me por me Traíres", de Nelson Rodrigues, além de Orfeu da Conceição, de Vinicius de Moraes e Tom Jobim, e Piaf, ao lado de Bibi Ferreira.

PRÊMIOS

Orfeu da Conceição daria origem a uma das obras mais marcantes de sua carreira: Orfeu do Carnaval, lançado fora do Brasil como Orfeu Negro, em 1959. Dirigido pelo francês Marcel Camus, o longa recebeu a Palma de Ouro no Festival de Cannes e o Oscar de filme estrangeiro em 1960.

O cineasta Joel Zito Araújo, que trabalhou com ela em Filhos do Vento, longa premiado no Festival de Gramado, e O Pai da Rita, elogiou a trajetória de Léa. "Nós a perdemos no apogeu do seu reconhecimento artístico, que veio tarde, mas veio Enquanto o Brasil perde uma estrela de primeira grandeza, o Orum (céu) fica mais bonito", escreveu.

ATIVISMO

A atriz também levaria seu ativismo antirracista para fora dos palcos e das telas. Léa trabalhou, até a década de 1990, no Hospital Psiquiátrico Philippe Pinel, onde desenvolveu projeto que unia teatro e terapia em prol dos pacientes da instituição. A atriz teria se inspirado em atividades realizadas no TEN para aliviar os efeitos do racismo. Léa deixa um legado que transcende suas personagens e adentra a história da resistência da arte brasileira.

LUTO: Morre Léa Garcia, horas antes de receber homenagem no Festival de Gramado

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