Livro preserva memória e legado do pintor Ismael Caldas, nome do expressionismo em Pernambuco
Título será lançado pela Cepe em coedição com o Instituto Raul Córdula nesta quinta-feira (17), às 19h,
"A pintura de Ismael Caldas é uma expressão do insólito, isto é, do incomum, do infrequente, do anormal, pois ela trata da procura pelo outro lado da beleza". O trecho é do crítico de arte e pintor Raul Córdula durante o texto de abertura do livro "Ismael Caldas", do qual é organizador.
O título será lançado pela Cepe em coedição com o Instituto Raul Córdula nesta quinta-feira (17), às 19h, no no Museu do Estado de Pernambuco (MEPE), situado nas Graças, bairro da Zona Norte do Recife.
Caldas, que viveu entre 1944 e 2016, foi um dos maiores representantes do expressionismo em Pernambuco. Em seus 50 anos de carreira, retratou de modo particular a época em que viveu, levando para as telas temas do cotidiano e personagens da política nacional.
Ao optar por esse caminho, o artista criou imagens disformes de generais, em alusão à ditadura civil-militar (1964-1985), de políticos corruptos, de figuras femininas, de bonecos e anões, por exemplo.
Livro
Com 240 páginas e edição bilíngue (português e inglês), o livro traz 159 fotografias de quadros assinados por Ismael Caldas, artigos sobre a sua obra e textos escritos pelo próprio artista plástico. "Artista excepcional, Ismael tem o trabalho muito reconhecido no Recife e o livro é o melhor veículo para preservar a memória de um artista como ele", diz Córdula.
Essa "disformidade" presente em sua obra, segundo o organizador, ”não se trata de feiura do ponto de vista corriqueiro, mas da realidade escondida na visibilidade da figura que se apresenta despida de engodos ou adornos ou, quando isto acontece, acontece como um gesto de ironia, de crítica sarcástica”
Ele acrescenta que, na verdade, Ismael procura uma beleza rara escondida sob uma pintura tecnicamente pura e com ânsias de perfeição. "Jamais seria uma ode ao feio, qualidade – ou defeito – que se desfaz na sua fatura pictórica", completa.
O livro revela a produção de Ismael para além do sarcástico e irônico. Os quadros com cenas de shows de jazz exemplificam isso. "São uma homenagem aos músicos e à música de que ele sempre gostou, criando uma atmosfera de rara habilidade cromática e pictórica. Com esta série, ele realizou uma de suas mais brilhantes exposições", pontua o organizador.
Exposições
Ao todo, Ismael participou de 33 mostras, salões e bienais, de 1966 a 2010. Entre elas, alguns destaques, como: “Galeria 86”, Recife (1972); Instituto Goethe, Salvador (1974); Galeria Vernissage, Rio de Janeiro (1975); Artespaço, Recife (1984/1990/1994); e Galeria Bonino, Rio de Janeiro (1986).
A lista dos eventos está no livro, organizada com base nos registros deixados por Ismael. A publicação também possui um levantamento dos quadros apresentados pelo artista em exposições e a relação de artigos de jornais sobre a obra do artista.
Na obra, Córdula reúne artigos seus, do engenheiro e amigo de Ismael, José Antonio (Totonho) Sales de Melo, da curadora Joana D’Arc Lima e de Ismael Caldas, que faz breve análise da pintura de Francisco Brennand. Junto ao texto de Ismael sobre Brennand vêm os facsimiles de duas correspondências do ceramista para o amigo.
Numa delas é que Brennand lembra a Ismael que "seus quadros falam por si próprios" e, por fim, sentencia: "Você tem razão: as pessoas gritam demais e dizem pouco".
Avesso a entrevistas, Ismael Caldas preferia a pintura à fala, mas não deixou de ser contestador, principalmente na ditadura. Em uma de suas poucas entrevistas, concedida em 1981 para o Suplemento de Artes Plásticas (São Paulo), ele disse: "A pintura não é uma atividade verbal".
SERVIÇO
Lançamento do livro Ismael Caldas
Quando: 17 de agosto, quinta-feira
Horário: 19h
Onde: Museu do Estado de Pernambuco (Avenida Rui Barbosa, 960, Graças)
Quanto: Entrada franca | Livro por R$ 200