Coco Raízes de Arcoverde faz intercâmbio artístico em Moçambique
Dayane e Kell Calixto representam o grupo no projeto "PE em Moçambique", que engloba residência artística em parceria com a Banda e a Companhia de Canto e Dança Hodi
Um dos principais representantes do coco do Brasil e tradição afro-indígena do Nordeste, o Samba de Coco Raízes de Arcoverde ainda guarda em sua batida percussiva a memória do ritual africano de amassar o barro para a construção das casas.
Agora, essa ancestralidade está sendo levada para Moçambique. O grupo está no país africano para apresentar, até o sábado (26), uma residência artística em intercâmbio com a Associação Cultural Hodi Maputo Afro Swing.
O trupé (nome dado à pisada acelerada feita com tamancos de madeira) está sendo representado pelos bailarinos Dayane e Kell Calixto. Eles se apresentam com a Banda e a Companhia de Canto e Dança Hodi, de Maputo.
O Grupo Hodi é reconhecido por preservar ritmos tradicionais moçambicanos e por criar fusões inovadoras com gêneros musicais como reggae e jazz, mantendo firmes suas raízes nos ritmos e instrumentos tradicionais.
Experiências
"Quando a gente chegou, fomos bem-recebidos pelo pessoal de Moçambique, conhecemos pontos da cidade e nos deparamos com a lindeza de ver o povo preto de Moçambique, sentir o calor e a energia de perto", diz Kell.
"A conexão com a Banda Hodi também foi muito boa. Eles são bem entrosados e conseguimos encaixar perfeitamente nossos passos dentro da musicalidade deles. Acredito que não vai ser só por aqui, mas que vai impactar o Brasil quando chegarmos em Arcoverde e mostrarmos tudo que cativamos daqui".
No ensaio, os pernambucanos já conseguiram identificar que o ritmo moçambicano trabalha muito com o contratempo musical, o, que encaixou perfeitamente com a batida do coco. Assim, já começaram a incorporar suas identidades nos ensaios.
A música "Carro ou Trem", do Coco Raízes de Arcoverde, por exemplo, será uma das que eles apresentarão nos shows em conjunto, com algumas adaptações, como a substituição da palavra "ônibus" por "chapa", que é a forma usada em Moçambique para se referir ao transporte coletivo.
"Nesse primeiro encontro que tivemos, já conseguimos encaixar alguns movimentos, como a parcela e o trupé, inclusive o trupé rápido, que é quando a gente faz no ritmo ligeiro, impressionando o pessoal", reforça Dayane.
Kell conta que sempre se interessou pelas musicalidades africanas e suas formas de se dançar, o que aumenta ainda mais as suas expectativas. "Acredito que será muito massa essa experiência de estar lá e poder ensinar a nossa cultura, de Arcoverde, e aprender também. Já consigo imaginar como será linda e interessante a junção do coco com o estilo da música e da dança africana. Espero aprender muito e estou indo completamente disposto a ensinar tudo o que foi criado nessa minha nova geração".
Sobre o Hodi
Com mais de 80 artistas, a Hodi desenvolve espaços de cultura nos bairros Polana Caniço, na capital de Moçambique, focando ainda na profissionalização dos agentes culturais da região e em intercâmbios com centros culturais de vários países.
Sua banda já trabalhou com artistas como Leon Mobley (EUA), Timbuktu (Suécia), Mingas (Moçambique), Harlem Hot Shots (Suécia), Lenna Bahule (Moçambique/Brasil), Matuto (EUA), Sol Homar (Colômbia), Rhodalia Silvestre (Moçambique), dentre outros.
"É a primeira vez que temos contato com um grupo que traz o trupé, e esperamos aprender muito com os artistas, assim como partilhar a nossa experiência e encontrar danças moçambicanas que tenham uma batida própria", pontua Elias José Manhiça, diretor geral da Hodi.
"Com este intercâmbio esperamos, mais uma vez, tornar firme a ponte cultural entre Moçambique e o mundo e, neste caso específico, o Brasil. Tratando-se de dois países com uma forte ligação histórica e cultural, será uma grande reafirmação e desta vez com a música, dança e oficinas."
Augusto Manhiça, também fundador e músico da Banda Hodi, se surpreendeu com o resultado do encontro com os artistas pernambucanos. No primeiro dia de atividades, nesta terça-feira (22), os moçambicanos e os brasileiros já puderam identificar sintonias entre os ritmos e danças de suas culturas.
"Nosso estilo característico é Mandowa, um ritmo da província de Sofala (que também associa som e dança, como o samba de coco), e que tem como um dos instrumentos característicos a marimba. Fizemos uma pesquisa de três meses na região, para podermos beber desse ritmo. Estamos muito felizes em poder fazer essa fusão entre o Mandowa e o samba de coco. Todos nos surpreendemos com o resultado que esse encontro está trazendo. Esperamos que vamos ter um show memorável, no dia 26", reforçou.