Exposição no Recife Antigo celebra o povo negro com desenhos hiper-realistas e premiados internacionalmente
"A Cultura e suas Peculiaridades", do artista plástico mineiro Eduardo Carvalho, chega ao Recife após passar por nove cidades com histórico de resistência dos povos negros
O Museu de Artes Afro-Brasil Rolando Toro - Muafro, criado no Recife Antigo para manter viva a memória cultural afro brasileira, recebe, a partir desta terça-feira (29), uma exposição que "perfila" povos de matriz africana que ajudaram a fundar conceitos como nação, cultura e resistência no Brasil.
"A Cultura e suas Peculiaridades", do artista plástico mineiro Eduardo Carvalho, é uma exposição itinerante que aporta na capital pernambucana com o incentivo do Ministério da Cultura, tendo passagens por Belo Horizonte e França. No Muafro, a visitação ocorre até 29 de setembro, das quartas aos domingos, das 13h às 17h.
"Estou muito honrado e ansioso para levar minha arte para Pernambuco, interagir com as pessoas, conhecer um pouco da cultura pernambucana. Essa é uma terra de gigantes, de onde saíram artistas como Luiz Gonzaga. Lugar de gente guerreira, batalhadora. Respeito muito a cultura e o povo desse estado. Mal posso esperar para ver de perto suas belezas", diz o artista.
Carvalho lança um olhar cuidadoso e realista, conectando ancestralidade e geopolítica. O seu estilo pode ser considerado como parte do hiperrealismo, tendência criada na Europa, ainda nos idos de 1960, e que consiste na reprodução artística e manual, com máxima precisão e verossimilhança, de fotografias e objetos ou cenas reais em pinturas e esculturas.
Destaque
Um dos destaques da mostra é a premiada obra "Olhar Africano", que captura e traduz com lápis grafite, papel e minúcia, a força e a beleza de todo um povo.
O desenho reproduz com perfeição a fotografia de Leif Steiner, tirada na tribo Hamar, na Etiópia, retratando uma mulher africana, cujo olhar contundente e inevitável parece intimar à reverência e deferência, num grito silencioso e secular, que ainda ecoa no mundo inteiro, por respeito e liberdade.
Além do desenho, impresso numa lona com três metros de comprimento por três metros de largura, a exposição apresenta o passo a passo de sua confecção, desde os primeiros estudos e traços até o esboço completo.
Itinerância
Desde o dia 2 de agosto, o projeto passou por outras sete cidades antes de chegar no Recife: Antônio Dias, Bielo Oriente, Sabinópolis e Peçanha, em Minas Gerais, além de São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ) e Salvador (BA).
O critério de seleção das cidades foi histórico: todas foram importantes cenários para a resistência dos povos e da cultura de matriz africana no Brasil, abrigando quilombos de referência na luta do povo negro por liberdade.
Autodidata
Os locais foram escolhidos pelo próprio Eduardo Carvalho, um autodidata que subverteu, por meio da arte, o caminho de trabalhador rural legada a ele por muitas gerações de familiares. O artista já alcançou importantes premiações nacionais e até mercados internacionais.
Carvalho já recebeu, por exemplo, o prestigiado "Prêmio Funarte Artes Visuais 2020/2021 - O Diálogo entre o Patrimônio Histórico da Cidade do Rio de Janeiro e o Brasileiro Presente nas Artes Visuais, na Arquitetura e nos Espaços Urbanos". Também conquistou prêmios em Dubai, Londres e Escócia.
Workshop
Para multiplicar conhecimento, inspirar e pavimentar futuros com mais arte e cidadania, o mineiro vai partilhar as habilidades que lhe abriram caminhos e expandiram horizontes num workshop gratuito de desenho realista, realizado no próprio museu, no dia 29, das 14h às 16h. Há 40 vagas disponíveis para o público a partir de 12 anos. Inscrições:
SERVIÇO
Exposição Itinerante "A Cultura e suas Peculiaridades"
Onde: Museu de Artes Afro-Brasil Rolando Toro (Rua Mariz e Barros, 328, Bairro do Recife)
Quando: de 29 de agosto a 29 de setembro de 2023
Visitação: quarta a domingo, das 13h às 17h
Quanto: Gratuito