LGBTQIA+

Parada da Diversidade: Pela primeira vez, Clube Metrópole e outras instituições se ausentam de desfile

Insegurança e falta de 'posicionamento mais político' estão entre os motivos apontados pelas fontes ouvidas pelo JC; evento está marcado para o domingo (17), na Zona Sul

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Emannuel Bento

Publicado em 13/09/2023 às 12:38 | Atualizado em 14/09/2023 às 11:56
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Responsável por um dos trios mais populares da Parada da Diversidade de Pernambuco, o Clube Metrópole decidiu não participar do desfile em 2023. Além da boate, ONGs como Leões do Norte (instituição fundadora do evento, em 2002) e Instituto Papai também optaram por não colocar trios na Avenida Boa Viagem.

A 22ª edição do evento ocorre neste domingo (17), com concentração às 8h, no Parque Dona Lindu, Zona Sul do Recife, e desfile às 13h. O evento é organizado pelo Fórum LGBT de Pernambuco.

Desde 2002, a Parada da Diversidade de Pernambuco é um marco na luta pelos direitos sexuais, promovendo visibilidade e livre expressão no Estado. Ela teve início na Avenida Conde da Boa Vista, em 28 de julho daquele ano, em prol do respeito e visibilidade da população LGBTQIA+.

Trio do Clube Metrópole

Em entrevista ao JC, Maria do Céu, empresária do Clube Metrópole, informou que tomou a decisão por conta dos episódios de violência no evento nos últimos anos.

"Desde 2016, a gente vem sentindo falta de segurança pública. O Estado manda os efetivos, mas isso não tem sido resolvido ou ao menos amenizado a situação. No ano passado, várias vezes eu tive de parar o trio para indicar onde a polícia teria de ir. Eu desci do trio com a sensação de que não voltaríamos neste ano", conta Maria.

MANU FERRÃO
Trio do Clube Metrópole na Parada da Diversidade de 2022, no Recife - MANU FERRÃO

Ela relata que também já ocorreu de tentarem invadir o trio pela parte traseira. Em 2022, uma equipe da boate que realizava uma ação de entrega de panfletos e outros brindes também foi ameaçada e roubada por um grupo de vândalos.

"Vivemos um momento social em que precisamos repensar essa questão com as pessoas, principalmente com os jovens que vão curtir. Não só na Parada, mas no Carnaval e demais eventos de rua. Precisamos dialogar mais sobre isso. Essa nossa saída é uma oportunidade para discutir a segurança da Parada, sabendo que a violência não vem do público LGBT", ressalta.

Trio da ONG Leões do Norte

A ONG Leões do Norte, que atua há 20 anos na defesa e promoção de direitos humanos e cidadania dos LGBT, também não irá desfilar. A instituição foi a atuante desde a organização das primeiras edições do evento, quando a concentração ainda ocorria no Parque 13 de Maio, Centro do Recife. O Fórum assumiu a organização em 2005 - sendo a Leões do Norte uma das integrantes.

"Todo ano tínhamos trio. Não era a gente que pagava, pois recebíamos apoio. Neste ano, que é um ano pouco emblemático, tomamos a decisão de não participar. Inicialmente, faríamos algum tipo de intervenção, mesmo que não tivesse clima, como a panfletagem. Porém, decidimos não fazer nenhuma atividade", explica Wellington Medeiros, coordenador da ONG.

MANU FERRÃO
Parada da Diversidade de 2022, no Recife - MANU FERRÃO

De acordo com Medeiros, a ausência ocorre por uma "falta de posicionamento mais político" por parte do Fórum. "A Parada acabou sendo o único evento que essa entidade faz. Vou dar um exemplo simples: o Grito dos Excluídos, realizado no Centro no Dia da Independência, não tem intervenção do Fórum, mesmo sendo um evento de pauta política e reivindicação dos direitos humanos para todas as minorias sociais", diz.

Para ele, a violência seria uma consequência da perda do tom "político" do evento. "Quando você perde o tom reivindicatório, perde a essência que existia nas primeiras edições. Assim, você atrai um outro tipo de público", diz.

Wellington Medeiros opina que um processo similar vem ocorrendo em outras paradas do país. "O número de pessoas subiu um pouco o orgulho, então essas coisas ofuscaram um pouco, chegaram a ponto de não perceberem que iria causar uma ruptura. Acho bom que tenha chegado a isso, porque a gente tem que perceber que a quantidade de pessoas que colocamos na rua em uma parada não exatamente reflete força ou poder do movimento."

A reportagem entrou em contato com representantes do Instituto Papai, que também não irá colocar trio neste ano, mas não conseguiu retorno.

Fórum LGBT

Procurado pela reportagem, Thiago Rocha, da coordenação colegiada do Fórum LGBT de Pernambuco, informou que a ausência dos trios citados não irá impactar a realização da 22ª Parada da Diversidade.

"É comum que algumas instituições coloquem trios em alguns anos, mas não coloquem no ano seguinte. Já tivemos trios de aplicativos de corridas e do Chá da Alice [produtora de festas do Rio de Janeiro]. Ao mesmo tempo, temos a busca de outras instituições. Então, não tem diferença nenhuma", disse Thiago. "Lamentamos muito a saída dos trios que estão com a gente desde o início".

EDMAR MELO / ACERVO JC IMAGEM
Parada da Diversidade na Avenida Boa Viagem, Zona Sul do Recife - EDMAR MELO / ACERVO JC IMAGEM

O representante explicou que o Fórum reforça todo o direcionamento necessário para a segurança da Parada junto às Polícias e ao Governo do Estado. "De antemão, em qualquer grande evento terá casos isolados. Em uma de nossas reuniões com o 10º Batalhão, reforçamos ainda mais a logística de segurança."

Por fim, Tiago Rocha ressaltou que os registros de violência não costumam partir do público que vai celebrar a diversidade. "Não são as pessoas que vão para a parada se expressar que acometem algum tipo de violação. É preciso identificar quem vai para a Parada só para fazer baderna."

Segurança

Procurada pela reportagem, a Polícia Militar informou que "a segurança no evento está em fase de planejamento".

A Prefeitura do Recife informou que a Guarda Civil Municipal "atuará com o efetivo de 32 agentes, distribuídos em 20 agentes a pé com atuação na concentração Parque Dona Lindu, em Boa Viagem, local da concentração do desfile e todo o percurso até a Padaria Boa Viagem, e apoio de quatro viaturas operacionais com três agentes cada".

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