Paulinho Moska faz show com instrumentos construídos a partir da madeira do Museu Nacional: 'Foi um crime contra a humanidade'
Turnê "Os Violões Fênix do Museu Nacional" chega ao Recife nesta sexta-feira (15), no Teatro do Parque, dentro do projeto Seis e Meia.
Paulinho Moska encontrou uma forma de não deixar o incêndio do Museu Nacional, um das maiores tragédias com o patrimônio histórico brasileiro, ser esquecido como tantas outros desastres que atravessam o nosso cotidiano.
O músico, que está celebrando 30 anos de carreira solo, tem rodado o país com dois violões construídos com madeiras de rescaldo do Museu, dando origem à turnê "Os Violões Fênix do Museu Nacional". O projeto chega ao Recife nesta sexta-feira (15), no Teatro do Parque, dentro do projeto Seis e Meia. Os ingressos custam a partir de R$ 30.
Origem
Ao JC, ele conta como surgiram os instrumentos que resultaram na turnê: "Conheci o subtenente bombeiro Davi Lopes em 2016. Paralelamente à sua atividade militar ele também exerce a profissão de luthier (artesão de instrumentos musicais). E uma curiosidade interessante é que Davi, por ser bombeiro, constrói seus violões com madeiras parcialmente destruídas pelo fogo que ele mesmo apaga".
Quando o Museu Nacional pegou fogo Davi foi acionado junto com mais 12 quartéis para ajudar a apagar o incêndio. "Lá, ele teve a ideia de sempre, mas um pouco mais ousada: produzir um leilão dos violões do museu para empresas que pagariam uma fortuna por uma peça rara como esses violões. O dinheiro seria destinado à recuperação do museu. Um herói, com seu sonho poético e sua vontade de lutar pelo bem. Comovente demais", continua.
Paulinho, Davi e mais um grupo de interessados conseguiram passar pelas burocracias do IPHAN, dando origem também ao documentário "Fenix: o Voo de Davi", com roteiro de Vinícius Dônola e direção de João Marcos Rocha e Roberta Salomone, no GloboPlay.
Paulinho é um dos sete integrantes do grupo Fênix e tem sua canção "Tudo Novo de Novo" como trilha oficial. Ele, ao lado de Gilberto Gil, Paulinho da Viola, Hamilton de Holanda, Nilze Carvalho e Felipe Prazeres contam com música a história de ressignificação das madeiras sobreviventes ao incêndio que destruiu o Museu Nacional em 2018.
"Enfim, com os violões prontos desistimos da ideia do leilão, porque é muito mais bonito que ele esteja em contato com o público do que numa empresa qualquer. Os instrumentos pertencem ao museu, eu sou só o 'padrinho'".
Repertório
O show "Paulinho Moska: Os Violões Fênix do Museu Nacional" inicia com a exibição dos primeiros minutos do documentário e segue com um repertório composto por grandes sucessos da carreira do artista, como "Tudo Novo de Novo", "A Seta e o Alvo" (Paulinho Moska / Nilo Romero) e "Pensando em Você" (Paulinho Moska).
Ainda estão presentes "A Idade do Céu" (versão de Paulinho Moska para música de Jorge Drexler), "Lágrimas de Diamantes" (Paulinho Moska), "Último Dia" (Paulinho Moska / Billy Brandão), "Muito Pouco" (Paulinho Moska), além de uma música até então inédita do mestre Pixinguinha, que ganhou letra escrita recentemente por Moska: "A Dor Traz o Presente" (Pixinguinha / Paulinho Moska).
"Num momento como agora em que há uma guerra de narrativas sobre a verdade, perder dez milhões de itens raros foi uma tragédia inigualável porque foi se embora a materialização de algumas memórias. Sarcófagos egípcios, ossos de dinossauros, crânios de primatas, documentos, cartas, fósseis, catálogos, dados… um acervo gigante virou cinza. E tudo por causa de uma falha elétrica. O museu não recebia apoio financeiro há muitos anos… descaso é pouco, foi um crime contra a humanidade", diz, sobre o incêndio.
"A arte é necessariamente política, até quando parece não ser. Música é uma onda invisível assim como as palavras… quando escutamos uma letra cantada viajamos para o universo dos sentidos. Eu escrevo muito de um jeito metafórico, com imagens que podem significar diferentemente para cada ouvinte. A verdade é que cada um interpreta de acordo com sua própria versão possível. Eu adoraria que meu show modificasse a empatia do público com a cultura e a memória assim como essa história modificou a minha", finaliza.
Seis e Meia
O Seis e Meia terá ainda abertura do pernambucano Mazuli, que é um dos bons nomes da nova música pernambucana. Ele une poesia, a referência de artistas do interior de Pernambuco e compõe com tons de pop, romance e brega. Para o show, vem acompanhado do irmão Carlos Filizola, e com voz e violão trará músicas do seu disco de estreia Mazuli (2021) e faixas como “8 ou 80”, "Entre Eu e Você”, “Desafogo” e o mais recente single “Foi Mal”.
SERVIÇO
Projeto Seis e Meia, com Paulinho Moska, com abertura de Mazuli
Quando: Sexta-feira (15), 18h30
Onde: Teatro do Parque (Rua do Hospício, 81, Boa Vista)
Quanto: Ingressos a partir de R$ 60 no Sympla e na Loja Vagamundo (Shopping Boa Vista)