Marcelo Peixoto lança livro de contos gays
"Ava Gardner Nunca Disse Te Amei" reúne 18 contos que se desenvolvem a partir das histórias de personagens diversos, fugindo de visões fetichizadas ou estereotipadas do universo gay
Aos 80 anos, o escritor recifense Marcelo Peixoto mergulha em temáticas da homossexualidade sem fetichizações ou estereótipos comumente associadas a este universo. O livro de contos "Ava Gardner Nunca Disse Te Amei" (Editora Mirada) é um convite para que o leitor seja provocado pela imaginação e abandone preconceitos.
A obra reúne dezesseis contos que se desenvolvem a partir das histórias de personagens diversos: jovens, velhos, prostitutos, castos, decadentes ou glamourosos; de Paris, Rio de Janeiro, Recife e Nova Iorque. Os personagens vivem amores concretizados, sufocados, reprimidos, erotizados ou até mesmo fantasiados. O livro é escrito sem pudores, com doses certas de sarcasmo e ousadia.
"Ava Gardner" já teve um lançamento no Rio de Janeiro, e agora chega a vez do Recife. A noite de autógrafos acontecerá nesta quinta-feira (19), a partir das 19h, no Museu do Estado de Pernambuco (Mepe). Posteriormente, estará disponível para venda em alguns sites e também pode ser adquirido diretamente com o editor e produtor executivo do livro, Léo Asfora, pelo WhatsApp (81) 993797711.
Temáticas
O livro surgiu a partir de três contos já escritos por Marcelo, em períodos distintos, e que abordam a homossexualidade. "Quando reli os contos que tinha escrito, percebi que eles poderiam formar uma ótima temática, especialmente considerando o momento de violência, principalmente contra pessoas que expressam livremente opiniões sobre sua sexualidade e que pagam um preço muito alto por isso. Vi que havia muitas coisas a serem ditas e muitas a serem conhecidas", diz o escritor.
"Existe ainda muito preconceito, inclusive em expor um livro gay na vitrine. Quando eu perguntava se havia livros gays ao entrar em uma livraria, apontavam para uma prateleira apertada, pequena, com uns cinco livros. Mas em destaque, exposto na vitrine, nunca vi. Mesmo quando eu morava no Rio, nos últimos dez anos. Estou agora assumindo isso, tendo a coragem de mostrar para as pessoas o que elas vão ler", conta Marcelo.
Marcelo Peixoto escreve desde a juventude, tendo sido apresentado a um editor do Suplemento Cultural do Jornal do Commercio aos 17 anos. Na época, o jornal publicou os poemas com destaque, intitulados: "Dois Poemas de Marcelo Peixoto". Foi assim que estreou na poesia.
Linguagem
Além da temática, o livro provoca ainda pela linguagem. Marcelo Peixoto faz uso do método literário que ficou conhecido como fluxo de consciência, quando as falas ou ideias dos personagens surgem descritas sem edição, linearidade, mas de forma muitas vezes desordenada tal como como os pensamentos nos acometem.
Ao abdicar de uma linha ordenada de raciocínio, as rupturas de sintaxe e de pontuação acontecem para permitir que, ao ler a história, o leitor penetre nessa consciência de fluxo ininterrupto das razão humana.
O resultado pode ser lido ainda como se Marcelo transferisse a linguagem da poesia para a prosa, um modo de contar por meio de silêncios. As ausências verbais também comunicam implicitamente. Isso se torna um exercício para o leitor, que ao longo das narrativas aprende a ler Marcelo Peixoto não apenas através das palavras, mas abrindo-se a novos sentidos, perspectivas e reflexões que, ao final, estimulam o entendimento de que a literatura pode ser - e é bela quando é - uma ferramenta de confronto e posicionamento político.
Versão em inglês
Após lançar o livro em duas capitais brasileiras, Marcelo e seu editor, Léo Asfora, já consideraram uma versão em inglês. "Acredito que essa temática realmente desperta interesse em todo o mundo. Acho que isso é extremamente benéfico para contribuir com a disseminação de informações. É importante que as pessoas percebam que não se trata apenas de sofrimento e dor. Muitos dos contos são alegres. Afinal, pensar que os gays são apenas infelizes é um equívoco", desabafa Marcelo.
“Assim como qualquer pessoa de qualquer orientação sexual, os gays também podem ser felizes. No entanto, o preconceito... O preconceito é algo que continua causando muita violência. Mesmo nos dias de hoje, por causa do preconceito, vidas são perdidas. E tudo isso por causa da escolha de orientação sexual de outra pessoa. Nunca consegui entender e aceitar isso”, finaliza.
Sobre o autor
Marcelo Pedrosa também cursou sociologia e política na Universidade Federal de Pernambuco, participou do Movimento de Cultura da Ribeira em Olinda e atuou no teatro no Recife e no Rio de Janeiro. Foi professor de desenvolvimento da criação na Organização Brasileira de Ensino Pedagógico e trabalhou na TV Educativa, nos anos 70. Em 1978, ao retornar para Recife, criou o Baile dos Artistas, que completou 45 anos de existência.
Na Fundação Joaquim Nabuco, produziu diversos documentários na Massangana Multimídia, sendo premiado com melhor curta-documentário por Axexe, do Festival Nacional de Curitiba. Nessa instituição, também criou a Galeria Vicente do Rego Monteiro.
Também é autor dos livros: "Pastor da Solidão" (poesia), "Ai, Quem me Dera Beijar os Lábios de Dorothy Lamour" (contos), "Cemitério Canários" (contos) e "Solidão Quebrada" (uma retrospectiva de sua poesia dos anos 60 até 2010).