FIG: Audiência pública na Alepe acaba sem acordo entre Prefeitura e Governo do Estado
Prefeito Sivaldo Albino manteve posição de realizar o evento sem o Governo do Estado, enquanto a presidente da Fundarpe se colocou à disposição da classe artística para diálogo
O desentendimento da Prefeitura de Garanhuns e do Governo do Estado sobre a realização do Festival de Inverno de Garanhuns (FIG) de 2024 não cessou com a audiência pública organizada pela Comissão de Assuntos Municipais da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), na manhã desta quarta-feira (20).
Realizado no auditório Sérgio Guerra, o evento foi organizado pelo deputado estadual João Paulo (PT) com o objetivo de possibilitar o diálogo entre as gestões, além de ouvir representantes da classe artística.
Um dos eventos mais importantes do calendário cultural de Pernambuco, o FIG transformou-se em palco de um embate político neste ano, com diversas amostras de desentendimento entre o munícipio (do PSB), que acusa o governo estadual (do PSDB) de enfraquecer o evento.
O prefeito de Garanhuns Sivaldo Albino (PSB) manteve a sua posição de realizar o evento, mesmo sem participação da Governo. A presidente da Fundarpe Renata Borba, por sua vez, se colocou à disposição da classe artística para diálogo. Em meio a isso, João Paulo externou que torce para que a briga não "chegue a um processo de judicialização".
A municipalização do festival, anunciada pelo prefeito, dividiu opiniões de vereadores da cidade presentes à audiência. Entre os que declararam apoio à medida está o presidente da Câmara, Luizinho Roldão (PSB). Os contrários à proposta argumentaram que o FIG pode perder terreno para outras cidades do circuito do frio e alertaram para o risco de que haja privatização do evento e precarização dos cachês pagos às atrações locais.
Ao longo de quase três horas, a maior parte dos convidados ao microfone defendeu o lado que mais simpatizava, evidenciando como o debate ganhou uma conotação política. Apesar disso, alguns representantes também chamaram atenção para as dificuldades dos artistas, como cachês defasados e atrasados, além da falta de estrutura.
Conselheiro cultural eleito, Wagner Stader lamentou a disputa política envolvendo a realização do evento e defendeu que o sucesso de um festival de fomento à cultura não pode ser medido apenas pelo tamanho do público. Já os vendedores ambulantes se queixaram da queda de público e declararam que, datas e atrações anunciadas em cima da hora, "os impedem de dimensionar os estoques para evitar prejuízos."
Prefeito
O prefeito Sivaldo Albino manteve o tom que tem usado em seus últimos discursos: reforçou que o FIG de 2024 será realizado pela Prefeitura e que a gestão municipal pode entrar como convidada para colaborar.
"A gente não está politizando, fazendo guerra ou intriga. Estamos tomando uma decisão que precisa ser compreendida: vamos realizar o festival sem o Governo do Estado. Não tem briga, pois da nossa parte não falta diálogo. Ninguém entra na sua casa sem pedir permissão. Para usar qualquer espaço público de uma cidade, é preciso pedir autorização", disse Albino.
Questionado sobre quais os recursos utilizados, o prefeito disse que irá usar do orçamento do município, além de buscar ajuda na iniciativa privada. “Se a gente corre o risco de ‘privatizar’, cabe ao município, mas não vamos fazer isso. Vamos buscar parceria na iniciativa privada, no governo federal e em emendas parlamentares. Queremos também recursos do Governo do Estado”, disse, citando o sucesso do São João de Caruaru na parceria com a iniciativa privada.
O gestor informou que pretende realizar o evento com R$ 15 milhões. Caso não consiga recursos dessas possíveis parcerias, ele iria bancar tudo através da Prefeitura.
Outro receio exposto pelos convidados foi uma possível descaracterização do festival, já que o modelo conhecido da Secult-PE/Fundarpe garantia a participação da cultura popular. Sobre isso, Silvado afirmou que a Prefeitura também realizará uma convocatória para "todas as linguagens", com circo e teatro.
"Nos antecipamos de fechar com alguns artistas para garantir que eles estejam disponíveis nas datas", disse. Até o momento, a Prefeitura anunciou atrações como Pitty, Jota Quest, José Augusto, Biquini Cavadão, Anavitória, Ana Carolina, Hungria, Teto, Roupa Nova, Joanna, João Bosco, Os Paralamas do Sucesso e Zélia Duncan. Também foram divulgados detalhes como a volta das noites temáticas no palco principal, além do retorno dos palcos Pop, Forró e Som na Rural.
Governo
Representando o Governo, a presidente da Fundarpe Renata Borba explicou sobre as dificuldades para a realização do evento neste ano. De acordo com ela, foi herdado um orçamento de apenas R$ 6 milhões para a realização do FIG de 2023. Além disso, a gestão se deparou com muitas cobranças de serviços prestados e não pagos. "Decidimos trabalhar com muita responsabilidade, o que impediu um FIG de 17 dias, como a Prefeitura queria", disse.
Depois, ela lamentou que o embate da audiência "foi para um caminho político". "Já recebemos muitas críticas e especialmente muitos elogios. A gente trabalha com diálogo, de fato. O prefeito, eu acho, já fechou o diálogo ao dizer que 'vai ser do jeito que é'. Enalteceu artistas pernambucanos, mas só divulgou artistas de fora."
"Então, eu mantenho compromisso da Fundarpe e do Governo de Pernambuco em valorizar e deixar sempre os artistas pernambucanos como prioridade. Já conversamos muito com vários representantes. Aprendemos com críticas e erros, mas sempre priorizando a nossa missão: promover e agregar o patrimônio cultural de Pernambuco", finalizou a gestora, ressaltando que a Fundarpe fica à disposição para conversar com os fazedores.
'Esperança'
O deputado João Paulo (PT) ressaltou que ainda existe tempo para que uma possível conciliação seja alinhada. "Foram colocadas as condições para realização do festival. Se o Governo vai aceitar ou não, é uma decisão do Governo".
"Nós temos tempo para superar. Eu espero que não chegue a um processo de judicialização. Mas, acho que dentro de um entendimento se retomaria a possibilidade do que se pode fazer, garantindo uma unidade para que todo o sofrimento seja evitado pelo setor da cultura. Essa foi a primeira categoria a sofrer com a pandemia", disse.
"Saímos daqui com a esperança de que esse diálogo se aprofunde, que a Câmara de Vereadores e a sociedade civil tenham uma inserção no sentido de ajudar nesse diálogo e nesse sentimento", finalizou.