FOTOGRAFIA

Wilson Carneiro Cunha, o 'fotógrafo do Recife', ganha fotobiografia e exposição

"Wilson Carneiro da Cunha: do Instantâneo de Rua aos Registros Caseiros" será lançado em formato de e-book com distribuição gratuita

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Emannuel Bento

Publicado em 28/09/2023 às 13:40 | Atualizado em 28/09/2023 às 17:34
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O fotógrafo Wilson Carneiro Cunha, também conhecido como "Wilson do Kiosque", "o fotógrafo ímpar" ou mesmo "o fotógrafo do Recife", está ganhando uma fotobiografia.

O livro "Wilson Carneiro da Cunha: do Instantâneo de Rua aos Registros Caseiros" será lançado nesta quinta-feira (28), a partir das 18h, na Fundação Joaquim Nabuco do Derby, no Recife.

Em formato de e-book e com distribuição gratuita, a publicação traz 164 imagens, além de artigos sobre a obra e o contexto histórico, filosófico e sociocultural onde ela está inserida. As fotos foram escolhidas em um acervo construído pelo fotógrafo durante 40 anos.

O lançamento será acompanhado da exposição com 40 fotos originais de Wilson e um bate-papo com a equipe de pesquisa, coordenada por sua neta, a fotógrafa e arte educadora Bia Lima, que divide a curadoria, autoria e organização da publicação com a pesquisadora e artista, Bruna Rafaella Ferrer.

Já os 17 anos, Wilson saiu em expedição pelo interior de Pernambuco como assistente do fotógrafo austríaco J. Kaltnek, na função de retratista de lambe-lambe. Em 1943, aos 24 anos, Wilson constituiu família ao lado de Conceição, com quem teve cinco filhos. Todos eles deram alguma contribuição ao negócio de registrar, revelar negativos, atender clientes e vender fotografias. Essas são algumas das memórias do livro.

O "Kiosque do Wilson" existiu entre 1951 e 1983, na Rua Nova, na calçada da igreja de Santo Antônio, Centro do Recife. Em 1983, com o desinteresse das pessoas pelos serviços, Wilson decidiu fechar o espaço e vender parte do acervo para a Fundação Joaquim Nabuco, que digitalizou a obra, que pode ser consultada na Villa Digital.

Trabalho

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Wilson e Conceição Carneiro da Cunha - DIVULGAÇÃO
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Kiosque do Wilson foto Wilson Carneiro da Cunha - DIVULGAÇÃO
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Fotobiografia e exposição reúnem fotografias de Wilson Carneiro Cunha - DIVULGAÇÃO

Foram dois anos de trabalho de uma equipe empenhada em mapear e sistematizar o acervo alimentado durante 40 anos. A ideia da curadoria foi, segundo Bia Lima, fazer um registro fotobiográfico de WCC, destacando seu olhar "curioso, instintivo e engraçado".

Entre os "achados" que a pesquisa ao acervo propiciou, Bia Lima destaca o apreço de Wilson aos flagrantes, tanto na esfera pública, onde ficou conhecido pelos "instantâneos de rua", quanto na esfera familiar, com flagras da vida caseira, as poses dos animais domésticos, as crianças dormindo no sofá.

"Descobrimos essa unidade, dos flagrantes. Segundo minha tia (Olegária, filha de Wilson), ele comprava os filmes para fazer o trabalho dos clientes e a sobra usava com a família. Ele saia da rua, mas a rua não saia dele".

Nessa mesma linha, a pesquisa identificou o gosto de Wilson por produzir fotos em série, também com o protagonismo dos filhos e esposa, tendo como temas a geladeira nova, as capas de revista, a inundação da casa nas famosas enchentes no Recife da década de 1970. "Ele dirigia as cenas, como uma fotonovela", conta.

Retratos Fantasmas

WILSON CARNEIRO DA CUNHA
Fotobiografia e exposição reúnem fotografias de Wilson Carneiro Cunha - WILSON CARNEIRO DA CUNHA

O fascínio de Wilson pelo cinema e por artistas hollywoodianos, segundo Bia Lima, também fica evidente nas fotos que fazia da esposa, "com alguma produção cinematográfica".

Por um desses acasos do destino, tem a assinatura de Wilson Carneiro da Cunha a foto escolhida por Kleber Mendonça Filho para ilustrar o cartaz do seu Retratos Fantasmas, filme lançado este ano que fala com nostalgia dos cinemas de rua do Recife. A foto é um registro carnavalesco, com um grupo de palhaços mascarados, na Avenida Guararapes, também no Centro do Recife.

"Wilson foi inovador e extremamente criativo. Deixou uma marca para a contemporaneidade que vai além da atuação no campo da Fotografia. Eu vejo a sua contribuição também no campo do Design, da Arquitetura, da Comunicação. A maneira de se comunicar com as pessoas e a identidade visual que ele cria é muito forte", diz a pesquisadora Bruna Rafaella.

"O modus operandi, a forma como ela faz o registro rápido de alguém, depois se aproxima e entrega o comprovante para a pessoa ir buscar a foto revelada no dia seguinte".

Ela também vê a contribuição de Wilson e do Kiosque, que também servia como expositor de fotos, na democratização do serviço fotográfico. "Muito se fala da popularização da fotografia com a chegada ao mercado das máquinas mais baratas, mas não era para todo. Muitas pessoas se viram em foto pela primeira vez nas imagens de Wilson expostas no Kiosque", lembra.

SERVIÇO
Wilson Carneiro da Cunha: do Instantâneo de Rua aos Registros Caseiros
Quando: quinta-feira, 28 de setembro, 18h
Onde: Fundação Joaquim Nabuco, Derby (exposição no térreo, na Sala de Leitura Nilo Pereira, e bate-papo na Sala João Cardoso Ayres, 1º andar) - Rua Henrique Dias, 609 – Derby. Evento com tradução simultânea em Libras.

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