Exposição no Recife celebra os 50 anos do Movimento Armorial com mais de 140 itens; conheça a mostra
Mostra no Museu do Estado de Pernambuco reúne obras de artistas como Ariano Suassuna, Francisco Brennand e Gilvan Samico, além de passear por linguagens como música, dança, xilogravura, literatura de cordel e cinema
Há exatos 53 anos, em 18 de outubro de 1970, Ariano Suassuna discursava na Igreja de São Pedro dos Clérigos, no Recife, no evento que ficou marcado como o lançamento do movimento armorial. Em 2020, uma celebração mais completa dos 50 anos do movimento, que pregou a elaboração de uma arte erudita baseada no popular, foi impedida pelo contexto pandêmico.
Agora, o movimento ganha a homenagem merecida com uma exposição com mais de 140 itens que vai ocupar o Museu do Estado de Pernambuco (MEPE), na Zona Norte, a partir desta quinta-feira (18). A "Mostra Movimento Armorial 50 anos" seguirá em cartaz até 7 de janeiro.
O visitante poderá conferir obras de artistas importantes para a arte armorial, Além do próprio Ariano, marcam presença Miguel dos Santos, Francisco Brennand, Gilvan Samico, Aluísio Braga, Zélia Suassuna e Lourdes Magalhães. A imersão ocorre através das artes plásticas, da música, da dança, da xilogravura, da literatura de cordel, do cinema e de recortes das aulas espetáculos do mestre Ariano.
Em um ato simbólico, a Igreja de São Pedro dos Clérigos também reabre suas portas para a música armorial com o espetáculo "Concerto para Ariano - 53 anos do Armorial". o grupo Quinteto da Paraíba, que há 32 anos se dedica a manter acesa a chama da música armorial, assume o palco para executar clássicos da música regional nordestina.
A chegada da celebração em Pernambuco ocorre em meio a uma nova "alta" do armorialismo, após o anúncio do filme "O Auto da Compadecida 2", longa-metragem de Guel Arraes que é mais um exemplo da atemporalidade do legado deixado por Suassuna. Trechos das aulas-espetáculos e palestras do autor estão ressurgindo nas redes.
Exposição
A "Mostra Movimento Armorial 50 anos" foi idealizada pela produtora Regina Rosa de Godoy, com curadoria de Denise Mattar e consultoria de Manuel Dantas Suassuna, artista plástico e filho de Ariano, e do professor Carlos Newton Júnior.
O projeto deveria ter estreado em 2020, mas, pela impossibilidade da pandemia, foi adiado para dezembro de 2021, quando estreou em Belo Horizonte, passando ainda pelo Rio de Janeiro, por São Paulo e Brasília, atraindo um público de cerca de 250 mil pessoas.
A mostra aportou na região Nordeste pela cidade de Campina Grande, na Paraíba, com um sucesso que marcou 35.000 visitantes. A vinda para a região onde tudo começou foi viabilizada graças ao patrocínio do Ministério da Cultura e da Petrobras.
Obras
A maior parte das obras pertence a colecionadores particulares e a instituições (como a Universidade Federal de Pernambuco, o Museu da Arte Moderna Aluísio Magalhães e a Oficina Brennand) e nunca haviam saído do Recife.
Ao acervo original do Movimento Armorial se somam obras mais contemporâneas, como as do artista plástico, Manuel Dantas Suassuna, e uma intervenção do xilogravurista Pablo Borges, filho do mestre J. Borges, mostrando que a produção armorial vem se renovando.
A curadoria de Denise Matta está espalhada pela cenografia de Guilherme Isnard, com identidade visual de Ricardo Gouveia de Melo, responsável pela conteúdo visual dos últimos projetos de Ariano, e do design de Ana Lucas responsável pela produção das peças gráficas da mostra.
"A obra de Ariano Suassuna, de Samico, de Brennand, de Miguel dos Santos e dos muitos artistas que fazem o Movimento Armorial é atemporal e por ser profundamente brasileira, precisa ser cada vez mais difundida em nosso país. Desde o começo, nós queríamos que a mostra acontecesse no Nordeste - na Paraíba, onde nasceu Ariano, e em Pernambuco, que é o estado onde o movimento foi criado, onde Ariano passou a maior parte da vida”, diz a idealizadora e produtora da mostra, Regina Rosa de Godoy.
"Iniciamos a Mostra em outros estados, mas, a parceria com a Petrobras possibilitou este encontro dos pernambucanos com a Mostra. Estivemos em Pernambuco na concepção e na pré-produção do projeto, conversando com a família, com a maior parte dos colecionadores, viabilizando desde a parte conceitual à cessão das obras que fazem parte do acervo da Armorial 50. Esse retorno, trazendo a mostra completa, é uma alegria e também um agradecimento", completa.
"O MEPE se destaca como o local ideal para abrigar a exposição, sendo um espaço que preserva e promove a história e a cultura da região. A presença da exposição é um evento de grande magnitude para o museu e para o estado, enriquecendo a experiência cultural dos visitantes e reafirmando a importância do Movimento Armorial na narrativa artística e histórica de Pernambuco", avalia o diretor do Museu do Estado de Pernambuco, Rinaldo Carvalho.
Espaços
A visita começa pelo Espaço Cícero Dias, no térreo, onde o visitante ainda poderá começar a mergulhar na vida de Ariano Suassuna, através de uma cronologia ilustrada com fotos raras que apresenta a trajetória pessoal e artística do ilustre paraibano e do próprio Movimento Armorial.
Também estarão expostos estandartes de agremiações da representantes da cultura popular e capas dos relançamentos dos livros de Ariano. Ainda no térreo, mais especificamente no salão que dá acesso à galeria, haverá uma obra do xilogravurista Pablo Borges, feita especialmente para esta etapa de Recife, com uma homenagem a Ariano e outros mestres armoriais.
A exposição ainda ocupará as três galerias no piso superior (Espaço Cícero Dias). Já na entrada, os visitantes poderão ver expostos os figurinos do artista plástico pernambucano Francisco Brennand (1927-2019), criados para o filme A Compadecida, de 1969, primeiro longa-metragem baseado na premiada peça teatral Auto da Compadecida, com direção de George Jonas e estrelado por Armando Bógus e Antônio Fagundes nos papéis de João Grilo e Chicó.
As roupas dos personagens O Palhaço, João Grilo e Emanuel – O Cristo Negro, foram recriados especialmente para a exposição pela figurinista Flávia Rossete, e o personagem O Diabo, pelo artesão pernambucano Rinaldo Alves, de Ouricuri. Há também o figurino original da personagem A Compadecida, estrelada nessa versão pela atriz Regina Duarte. O traço de Brennand poderá ser visto em 12 desenhos em nanquim aquarelado.
O artista Gilvan Samico (1928-2013), considerado pelo próprio Ariano como o que se manteve mais fiel às diretrizes do Movimento Armorial, ganha destaque com uma sala em sua homenagem, com um conjunto de xilogravuras e pinturas. Também estarão expostas obras de Aluísio Braga, Fernando Lopes da Paz, Miguel dos Santos, Fernando Barbosa e Lourdes Magalhães.
O núcleo familiar de Ariano se faz representado com obras de Manuel Dantas Suassuna, Zélia Suassuna e Romero de Andrade Lima. O andar ainda reserva espaço para o alfabeto armorial emonitores com trechos das famosas aulas espetáculo de Ariano. Caminhando, o visitante poderá apreciar peças que celebram também os 25 anos do Balé Grial, em fotos, vídeos e figurinos.
Também existe destaque para a música armorial, com as capas dos discos de vinil do Quinteto Armorial, e um espaço reservado às diversas referências da cultura popular, como o maracatu, o cavalo marinho, o reisado, os cordéis e as xilogravuras.
SERVIÇO
Mostra Movimento Armorial 50 anos
Onde: Museu do Estado de Pernambuco (Avenida Rui Barbosa, 960, Graças, Recife)
Quando: entre 18 de outubro de 2023 e 7 de janeiro de 2024
Horários de visitação: terça a sexta-feira, das 9h às 17h; sábados e domingos, das 14h às 17h.