CARNAVAL

Chico Science e Lia de Itamaracá serão os homenageados do Carnaval do Recife em 2024

Ambos os nomes já circulavam bastante pela capital nos últimos tempos, com programação em homenagem ao manguebeat, e requerimento da Câmara do Recife pedindo homenagem à cirandeira

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Emannuel Bento

Publicado em 20/10/2023 às 12:09 | Atualizado em 20/10/2023 às 13:03
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Dois ícones da cultura pernambucana serão homenageados do Carnaval do Recife em 2024: Chico Science, figura central do manguebeat nos anos 1990, e Lia de Itamaracá, símbolo da ciranda no Brasil. A Prefeitura da capital fez o anúncio nesta sexta-feira (20).

Ambos os nomes já circulavam bastante pela capital nos últimos tempos. Neste mês, o Cais da Alfândega recebeu uma programação em homenagem aos 30 anos do manguebeat, celebrados em 2022, com show da Nação Zumbi, banda que Chico fundou.

Natural de Olinda, Chico Science redesenhou o lugar do Recife no mapa da música, misturando ciranda, coco e maracatu com rock, tambor com riff de guitarra e Pernambuco com o resto do mundo.

Rainha da Ciranda

Já a homenagem à Lia foi resultado de um requerimento solicitado à Prefeitura através Câmara Municipal. A autoria foi da vereadora Liana Cirne (PT) e a aprovação ocorreu no último dia 10 de outubro.

MARCOS PASTICH/PCR
Lia de Itamaracá no Sítio da Trindade - MARCOS PASTICH/PCR
ALEXANDRE BELEM/ACERVO JC IMAGEM
.Chico Science foi um dos responsáveis pelo manguebeat - ALEXANDRE BELEM/ACERVO JC IMAGEM

"Recebemos com muita alegria o nome de Lia de Itamaracá e Chico Science como os homenageados do Carnaval do Recife do próximo ano", disse Liana Cirne. "Lia também vai ser homenageada no Carnaval do Rio de Janeiro e no Carnaval de São Paulo – especificamente nos blocos Império da Tijuca, do Rio, e Nenê de Vila Matilde, de São Paulo. No entanto, o nosso Carnaval nunca se deu em homenagem a nossa rainha da ciranda."

Com essa homenagem, a Prefeitura afirmou que quer destacar a "importância feminina na sustentação e perpetuação das tradições da cultura popular, gestadas e protagonizadas por grandes mestras há muitas gerações".

Natural do Litoral Norte, carregando toda a ancestralidade do povo negro dessa região, a cirandeira é defensora de uma das mais antigas vocações culturais de Pernambuco, declarada patrimônio imaterial do Brasil pelo Iphan em 2021. A artista também é patrimônio vivo de Pernambuco e detentora da Ordem do Mérito Cultural (OMC), honraria concedida pela presidência da República.

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O prefeito do Recife João Campos (PSB) fez o anúncio com vídeo gravado no Marco Zero, no Bairro do Recife, ladeado pelo secretário de cultura Ricardo Mello e do presidente da Fundação de Cultura, Marcelo Canuto.

 

"Lia é uma mulher negra de atitude que completa 80 anos no ano que vem. O Carnaval do Recife fará essa homenagem em vida. Chico é o grande nome do manguebeat, que completou 30 anos, e nunca foi homenageado no Carnaval da capital. Hoje, ambos representam muito a nossa cultura popular. Eles foram pessoas que pegaram a nossa cultura popular e levaram para o mundo inteiro", disse Campos.

"Nossa cultura é repleta de fontes inspiradoras, que perpetuam legados, que promovem encontros, de gerações e saberes, fazendo-se única e atemporal, de passados, presentes e futuros pulsantes", destacou o secretário de Cultura do Recife, Ricardo Mello, em comunicado.

"No próximo carnaval, essa grandeza e esse pertencimento vão estar presentes já nas homenagens. Chico Science e Lia nos representam, projetando o recife no mundo, nos mares e mangues das artes que têm origem, raiz e criação infinitas."

Sobre os homenageados

Lia de Itamaracá

Literalmente a maior cirandeira do estado, Lia de Itamaracá, que ostenta 1,80 metro de majestade musical, é rainha na beira da maré sempre cheia da cultura popular pernambucana. A “morena queimada do sal e do sol da Ilha de Itamaracá”, como ela própria canta, toda faceira e muito orgulhosa, cresceu nas rodas de ciranda da praia de Jaguaribe, onde nasceu e vive até hoje.

Começou a cantar aos 12 anos, entre os seus, e pelejou como pode para defender as tradições que herdou dos antepassados, até cair nas graças do mundo inteiro, há mais de duas décadas. Sagrou-se Patrimônio Vivo de Pernambuco em 2005 e agora, prestes a completar 80 anos, segue embalada pelas pancadas das águas do mar, defendendo a ciranda nos palcos do mundo e ensinando o futuro a mergulhar nas tradições mais profundas do Nordeste, que inauguram o Brasil.

Chico Science (in memorian)

Idealizador e ícone absoluto do movimento Manguebeat, Chico Science liderou a evolução musical que modernizou o passado, tirando da lama o sustento e o esteio cultural de todas as gerações pernambucanas e brasileiras da década de 1990 em diante.

Fincando parabólicas no mangue e perfumando com as novidades musicais do mundo as ideias de teóricos nordestinos importantes, como Josué de Castro e os acordes ancestrais do frevo, do coco, do maracatu, da ciranda de Lia e de tantos outros brincantes que resistiam, de mãos dadas, nas rodas da cultura popular junto com ela, o músico nascido no Recife e criado em Olinda convidou o Nordeste a (re)conhecer sua própria identidade cultural para dizer ao mundo inteiro que tradição não rima com revolução por acaso.

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