ARTES VISUAIS

Fotógrafo nigeriano registra a complexidade cultural africana em exposição no Recife

'ECOAR - Refletindo A Sombra Africana da Memória' marca a estreia de Mallam Mudi Yahaya no Brasil, em cartaz na Fundação Joaquim Nabuco com parceria do Consulado da Alemanha

Imagem do autor
Cadastrado por

Emannuel Bento

Publicado em 31/10/2023 às 16:18 | Atualizado em 01/11/2023 às 12:09
Notícia
X

O fotógrafo nigeriano Mallam Mudi Yahaya vem registrando como as sociedades africanas que estavam no centro do comércio transatlântico de escravizados foram influenciadas ao longo dos séculos nas esferas sociais e culturais. Nos registros, ele explora a complexidade das culturas e as interpretações diversas que percorrem essas identidades híbridas do continente.

Suas obras chegam pela primeira vez ao Brasil na exposição "ECOAR - Refletindo A Sombra Africana da Memória", em cartaz na Fundação Joaquim Nabuco, campus de Casa Forte, na Zona Norte, a partir desta quinta-feira (2). A mostra fica em cartaz até o dia 29 de fevereiro.

São mais de 70 registros do artista contemporâneo, com curadoria de Gisela Kayser, Suely Torres e Mireya Palmeira, e produção da produtora alemã Modern Art Film Archive. A mostra foi proposta pelo Consulado da Alemanha, por meio do seu Cônsul-Geral da Alemanha no Recife, Johannes Bloos, que encontrou na Fundaj um local expositivo para a pesquisa artística de Mudi Yahaya.

MALLAM MUDI YAHAYA
Obras da exposição ECOAR - Refletindo A Sombra Africana da Memória, de Mallam Mudi Yahaya - MALLAM MUDI YAHAYA
MALLAM MUDI YAHAYA
Obras da exposição ECOAR - Refletindo A Sombra Africana da Memória, de Mallam Mudi Yahaya - MALLAM MUDI YAHAYA

"Essa exposição nos demonstra similitudes às vezes inesperadas entre culturas e povos bem distantes e destaca a importância da consciência histórica para o entendimento desse fenômeno. É proveitoso prestigiar a diversidade e ao mesmo tempo reconhecer os fortes vínculos culturais nas relações entre a África, o Brasil e a Europa", diz o cônsul Johannes Bloos.

O fotógrafo Mudi Yahaya buscou trabalhar nesta mostra com o seu próprio arquivo fotográfico, que foi criado ao longo de mais de 20 anos durante suas extensas viagens pela Nigéria, Benin, Gana e Senegal, países do continente africano. Pessoas, casas, manifestações culturais e religiosas, objetos e texturas integram as imagens coloridas que compõem a exposição.

"Esta exposição é dedicada à maior influência intelectual da minha vida. Sra. Jumoke Ali Baba, que me apresentou a história da Nigéria e particularmente a terra, cultura, história e tradições Kalabari. Foi 'Aunty' quem primeiro me levou ao Delta do Níger e me conectou à influência portuguesa na história do povo da região", rememora o artista.

Origens

ELIZABETH BANDEIRA
Exposição ECOAR - Refletindo A Sombra Africana da Memória, de Mallam Mudi Yahaya, está em cartaz na Fundaj Casa Forte - ELIZABETH BANDEIRA
ELIZABETH BANDEIRA
Exposição ECOAR - Refletindo A Sombra Africana da Memória, de Mallam Mudi Yahaya, está em cartaz na Fundaj Casa Forte - ELIZABETH BANDEIRA

"Fiz essas imagens e montei essa mostra para passar a mensagem de que as pessoas busquem suas origens, suas ancestralidades. Para que saibam de onde vieram e onde querem chegar. A África tem mais de 200 idiomas e apenas um dos seus 54 países não foi colonizado, que é a Etiópia", detalha Mudi Yahaya, que desde muito cedo se interessou pela parte por conta do seu pai, que era fotógrafo.

"Mesmo quando estava no exército, embora nunca tenha participado de nenhuma guerra, aprendi a utilizar a fotografia para ações de inteligência. E sempre gostei de incluir pessoas para entender a cultura, os costumes, a identidade”, diz.

"Uma das coisas que me levou a fotografar os quatro países desta mostra foi a questão religiosa. Tenho muito interesse em aprender sobre religiões e fiquei sabendo sobre esse quilombo urbano. Gostaria muito de fotografar lá", adianta o artista o artista nigeriano quer conhecer a Casa Xambá, em Olinda, em Pernambuco.

Ecos visuais

ELIZABETH BANDEIRA
Exposição ECOAR - Refletindo A Sombra Africana da Memória, de Mallam Mudi Yahaya, está em cartaz na Fundaj Casa Forte - ELIZABETH BANDEIRA
ELIZABETH BANDEIRA
Exposição ECOAR - Refletindo A Sombra Africana da Memória, de Mallam Mudi Yahaya, está em cartaz na Fundaj Casa Forte - ELIZABETH BANDEIRA

"As fotografias de Mudi Yahaya são espécies de ecos visuais dos violentos processos de colonização empreendidos, a partir do final do século 15, por diversas nações europeias. Processos que promoveram a escravização de milhões de pessoas negras oriundas de lugares distintos do continente africano para trabalhar nas economias coloniais, enredando povos antes separados pela geografia e pela história", diz Moacir dos Anjos, Coordenador-Geral do Museu do Homem do Nordeste.

"Como resultado dessa aproximação forçada, crenças, desejos e modos de fazer diferentes se cruzaram, em estratégia de resistência e de afirmação da vida em meio à barbárie. Nas imagens que apresenta, o artista parece buscar vestígios contemporâneos das formas híbridas de pertencimento (inventivas e belas) criadas em meio a esses acontecimentos traumáticos."

A coordenadora de Exposições e Difusão cultural do Muhne, Silvana Araújo, relata que é interessante expor ao público e promover o debate presente nas 70 fotografias, em grande formatos, que registram a influência afro-brasileira de escravizados libertos que retornaram para África e os efeitos disso nas tradições socioculturais do continente.

"Para a Fundaj, particularmente para o Museu do Homem do Nordeste, receber o trabalho do fotógrafo e ativista cultural nigeriano, Mallam Mudi Yahaya, enriquece nossa pauta de discussão, reflexão e estudos sobre a relação Brasil-África e todas as suas influências nas diversas heranças culturais aqui deixadas e também levadas hibridamente ao outro lado do oceano", afirma.

SERVIÇO
Exposição "ECOAR - Refletindo A Sombra Africana da Memória"
Período da exposição: 02/11/23 – 29/02/24
Visitação: Terça a sexta, das 10h às 16h30, e sábado a domingo, das 13h30 às 16h30
Onde: Solar Francisco Ribeiro Pinto Guimarães, no campus Gilberto Freyre, em Casa Forte
Quanto: Entrada gratuita

Tags

Autor