ARTES VISUAIS

Oficina Brennand inaugura, pela primeira vez, exposições de artistas convidados; confira

"CapiDançaBaribéNois", de Ernesto Neto, e "Invenção dos Reinos", com obras de 30 artistas convidados, serão inauguradas neste sábado (11), em um momento histórico para a instituição

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Emannuel Bento

Publicado em 09/11/2023 às 12:26 | Atualizado em 10/11/2023 às 16:38
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A Oficina Francisco Brennand, localizada na Várzea, Zona Oeste do Recife, colocará em prática um importante passo de seu nova fase de gestão. A instituição recebe, pela primeira vez, exposições de artistas convidados.

São elas: "CapiDançaBaribéNois", de Ernesto Neto, que ocupa o galpão Estádio com curadoria de Clarissa Diniz, e "Invenção dos Reinos", que apresenta cem trabalhos do acervo de Brennand em diálogo com obras de 30 artistas, com curadoria de Ariana Nuala e Marcelo Campos.

Ambas serão inauguradas neste sábado (11), com visitações das 10h às 18h, com venda de ingressos até às 17h na bilheteria. Os ingressos custam R$ 50, R$ 25 (meia) - R$ 40 e R$ 20 (meia) para moradores de Pernambuco.

A iniciativa é um dos frutos da transformação da Oficina em um Instituto, o que provocou mudanças em todo o modelo de governança. Brennand, que fundou o espaço na década de 1970, faleceu em 2019.

Obra gigante de crochê

O carioca Ernesto Neto, um dos nomes mais relevantes da arte contemporânea brasileira, instalará uma escultura inédita comissionada pela Oficina. Feita em crochê e com quase 50 metros de comprimento, a obra ficará suspensa no galpão do Estádio, que reabre para abrigar exposições após quase 20 anos funcionando como espaço multiuso.

O nome do Rio Capibaribe não está na obra à toa. Nesta quinta-feira (9), foi realizado um rito de travessia pelo rio. A grande escultura feita com crochê, de 90kg, foi levada de barco para o Parque das Esculturas no Marco Zero. A cerimônia foi aberta ao público, com presença do Maracatu Real da Várzea.

Após esse "rito de travessia", será realizado o "rito de montagem" (sexta-feira, 10) e o "rito de abertura" (sábado, 11). Veja imagens da travessia:

EDUARDO ORTEGA/DIVULGAÇÃO
Obra de Ernesto Neto para a Oficina Brennand passou por um 'rito de travessia' para chegat até o local da exposição - EDUARDO ORTEGA/DIVULGAÇÃO
EDUARDO ORTEGA/DIVULGAÇÃO
Obra de Ernesto Neto para a Oficina Brennand passou por um 'rito de travessia' para chegat até o local da exposição - EDUARDO ORTEGA/DIVULGAÇÃO
EDUARDO ORTEGA/DIVULGAÇÃO
Obra de Ernesto Neto para a Oficina Brennand passou por um 'rito de travessia' para chegat até o local da exposição - EDUARDO ORTEGA/DIVULGAÇÃO

Na Oficina, o trabalho consistirá numa instalação tubular e serpenteante de crochê feito em chita e voile, com 47 metros de comprimento e suspensa a 8 metros de altura, cujos contrapesos serão peças em cerâmica, com especiarias, que homenageiam as casas de João de Barro, a força da vida e da natureza e a própria matéria-prima que anima a obra de Brennand e tantos artistas.

"Cada célula de crochê representa uma unidade, um ser, um indivíduo em espiral nesta grande floresta cósmica que é a vida, dentro de nosso corpo, na natureza e na sociedade", diz Ernesto Neto. "Temos a cultura popular como base de todo este pensamento, a festa, o rito como grande acontecimento simbólico comum. Não é a toa que tudo isso está acontecendo às margens do capibaribe, na cidade do Recife".

Além da escultura central, o Estádio será ocupado ainda com outras obras que dialogam com Neto. Uma das paredes laterais do espaço será pintada pelo o coletivo recifense Iputinga Sociocultural. Em outra parede, a artista Libélula também deixará sua pintura, espaço onde o público poderá ver ainda parte dos despejos retirados pelo artista na ação de limpeza do rio. As pinturas acompanham ainda versos de um cordel para o Rio Capibaribe, escrito por Sula Patrício, da cidade de Vertentes, no interior de Pernambuco.

Como o projeto foi desenvolvido a partir de novas incursões pelo Capibaribe, Neto se aproximou de vários agentes e articuladores ligados ao rio. "Queria convidar os moradores locais para participarem dessa exposição porque, afinal de contas, o Rio é de todos. Eu quis incluir essas vozes que fomos encontrando ali pelo Capibaribe, no sentido de que o Capibaribe é uma espinha dorsal serpenteante que atravessa a cidade inteira."

Invenção dos Reinos

BRENO LAPROVITERA
Accademia, espaço expositivo tradicional da Oficina Francisco Brennand - BRENO LAPROVITERA

A mostra "Invenção dos Reinos" ocupará a Accademia, tradicional espaço expositivo da instituição cultural, fazendo um diálogo entre as obras de Brennand com as de outros 30 artistas de diferentes gerações e origens.

Ariana Nuala, gerente de Educação e Pesquisa da Oficina, e Marcelo Campos, curador-chefe do MAR (Museu de Arte do Rio), assinam a curadoria do projeto, uma proposição crítica pelo imaginário de Brennand, que teceu cosmologias a partir de suas pesquisas sobre culturas, divindades e santos.

"A curadoria elaborada por Ariana Nuala e Marcelo Campos estimula o olhar para uma integração entre elementos artísticos, históricos e sociais que potencializa as emoções, sensações e pensamentos aguçados por um lugar dotado de infinitas possibilidades simbólicas", analisa Marcos Baptista, presidente do Instituto Oficina Brennand.

O ponto de referência levantado pelos curadores na idealização da exposição é a Jurema, uma religiosidade de matriz indígena, originária antes do período colonial, que se encontra com saberes remanescentes dos povos afrodiaspóricos.

"Pensamos na possibilidade de entender o universo do Brennand em torno desse encantamento, dos seres que ele inventou. Por outro lado, nas tradições afro-indígenas, advindas dos povos originários, isso tem um cotidiano muito estabelecido, onde os peixes, pássaros e serpentes são seres encantados. E quando vemos esses elementos estampados na obra de Brennand, na Várzea, inevitavelmente invocamos as tradições afro-indígenas como, por exemplo, a Jurema", diz Marcelo Campos.

"A exposição culmina em uma série de atividades que a gerência de Educação e Pesquisa tem realizado ao longo desses últimos anos. Convidamos mestres e mestras, artistas que são vizinhos à Oficina para compartilharem suas narrativas sobre este espaço, assim se tornou possível desenhar uma exposição que em sua forma, possa dar continuidade a estes processos que ainda não chegaram ao fim", reflete Ariana Nuala.

Participam os seguintes artistas:

Abelardo da Hora (PE)
Abiniel J. Nascimento (PE)
Adailton de Dedé (AL)
AORUAURA (PE)
Bezinho Kambiwá (PE)
Bozó Bacamarte (PE)
Clara Moreira (PE)
Daiara Tukano (SP)
Diogum (PE)
Fakhô Fulni-ô (PE)
Francisco Brennand (PE)
Francisco Graciano (CE)
Fykyá Pankararu (PE)
Geraldo Dantas (AL)
Helcir Almeida (PE)
Ianah (PE)
Iara Campos e Íris Campos (PE)
Jaider Esbell (RR)
Lidia Lisbôa (PR)
Luiz Marcelo (BA)
Elson e Mestre Gerar (BA)
Nádia Taquary (BA)
Rafaela Kennedy (AM)
Rayana Rayo (PE)
Reginaldo de Mestre Manoel Quebra Pedra (PE)
Thiago Costa (PB)
Tiganá Santana (BA)
Zé Crente (AL)

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