Muito além da 'primeira sinagoga', história dos judeus em Pernambuco é contada em livro
Novo livro de Jacques Ribemboim separa trajetória do povo judeu no Estado em seis ciclos, ressaltando influências na formação do Nordeste
A Sinagoga Kahal Zur Israel, a "primeira das Américas", localizada da famosa Rua do Bom Jesus, cristalizou no imaginário coletivo a histórica presença dos judeus em Pernambuco. Ela foi construída no período do Brasil Holandês (1630-1654), quando a rua chegou a ser chamada de "Rua dos Judeus".
A presença de praticantes do judaísmo no Estado, no entanto, é muito anterior. E existe toda uma história após a saída dos holandeses, menos recontada por uma histografiaria mais acessível. O escritor, economista e membro da Academia Pernambucana de Letras (APL) Jacques Ribemboim encarou o desafio de condensar toda essa trajetória.
O livro "História dos Judeus de Pernambuco", lançado pela Cepe Editora, tem lançamento marcado para o dia 5 de dezembro na sede Academia Pernambucana de Letras, Zona Norte do Recife. Em 608 páginas, a obra reproduz muitas ilustrações, mapas, fotografias, selos e documentos de diversas épocas.
Legado
Para além disso tudo, mostra a história de homens e mulheres que cruzaram o Atlântico em busca de uma vida nova, fugindo da inquisição e de outras formas de perseguição religiosa na Europa.
"Prefiro enxergar as contribuições dos judeus como um fluxo interativo mútuo ao longo dos séculos, legando práticas e valores típicos de sua origem ibero-semita ou, mais recentemente, leste-europeia, e, ao mesmo tempo, absorvendo uma volumosa influência de práticas e valores dos portugueses, da população negra e dos indígenas, além, é claro, da própria paisagem natural nordestina", diz Ribenboim.
"No meu entender, é nisso onde reside a riqueza maior do povo nordestino, nesta sua originalidade universal e tão positiva, nesta mistura que nos torna únicos entre as nações do planeta. Meu propósito maior, no livro, é demonstrar isso ao grande público."
Pesquisa
Ribemboim fez uma pesquisa que envolveu quase 220 livros, capítulos de muitos outros livros, artigos científicos, artigos e entrevistas publicados em jornais e revistas, além de cerca de 200 fotografias e reproduções de mapas, quadros, gravuras, selos, páginas de livros e documentos.
O pai do autor, José Alexandre Ribemboim, também é autor de "Senhores de Engenho Judeus em Pernambuco Colonial - 1542 a 1654" (1995). Juntos, eles escreveram "Uma Olinda Judaica" e "Synagoga Israelita do Recife: de portas abertas".
"Foi quando propus a ideia de escrever um livro que reunisse todos os distintos ciclos dos judeus em Pernambuco. Meu pai faleceu em 2013 e não pôde empreender o projeto junto comigo, mas sua orientação foi determinante. Se não fosse ele, este livro simplesmente não existiria."
Pernambuco conceitual
Na América portuguesa, Pernambuco foi um dos destinos procurados, mas não o único. Aqui, o autor aborda um Pernambuco que não se limita a um território (muito menos ao atual território do Estado, que perdeu terras ao longo dos séculos), mas sim a uma espécie de "Pernambuco conceitual", que incluiria aspectos históricos, culturais, etnográficos, agregando um Nordeste Setentrional, compreendido de Alagoas ao Ceará, com trechos de Sergipe e do Maranhão.
Ribemboim também ainda ressalta que por "judeus" deve-se entender os "judeus e cristãos-novos, incluindo alguns de seus descendentes" - os cristãos-novos são os judeus convertidos, à força ou por vontade própria, ao cristianismo.
História em ciclos
Para dar conta de um período tão longo, o autor optou por estruturar o livro por seis ciclos. São eles: Ciclo da madeira judaica (1502-1535), na exploração do pau-brasil.; o Criptojudaísmo olindense (1535-1630); período em que a prática religiosa se dava secretamente; o Judaísmo holandês (1630 e 1654), citado no começo deste texto.
Após expulsão dos holandeses, em 1654, os judeus que ficaram por aqui foram migrando cada vez mais para o interior nordestino, montando pequenos negócios e vivendo discretamente para fugir da Inquisição.
De acordo com Jacques, deles descendem muitas famílias pernambucanas, paraibanas, alagoanas, potiguares, sergipanas, cearenses e piauienses. O livro, inclusive, traz um índice onomástico, que tem quase 1600 nomes de pessoas, famílias e autores catalogados.
Depois, há o Hiato do Judaísmo (1654-1910), quando o exercício comunitário da religião se restringiu a núcleos paraibanos; e o Judaísmo contemporâneo (1910-2000), marcado pela chegada dos imigrantes da Europa Oriental.
Por fim, desde 2000, chegam as Novas Tendências (desde 2000), com o judaísmo reformista, a presença das mulheres na liturgia religiosa e o fortalecimento do marranismo. Nesses períodos citados, o autor ressalta dois apogeus: o Judaísmo holandês e o Judaísmo contemporâneo.
SERVIÇO
Lançamento do livro História dos Judeus de Pernambuco, de Jacques Ribemboim (Cepe Editora)
Onde: Academia Pernambucana de Letras (APL), Avenida Rui Barbosa, 1596, Graças, Recife
Quando: nesta terça-feira (5), às 19h
Preço do livro: R$ 90 (preço promocional de lançamento), R$ 110 (preço pós-lançamento)