Baile do Menino Deus 2023 terá ator indígena vivendo José, pela primeira vez, e atriz negra como Maria
Caique Ferraz, da etnia Fulni-ô, e Laís Senna participam da 20ª edição do Baile do Menino Deus no Marco Zero do Recife
O Baile do Menino Deus, tradicional espetáculo natalino baseado na cultura popular, terá um ator indígena - pela primeira vez - no papel de José. O escolhido foi Caique Ferraz, da etnia Fulni-ô, população aldeada no município de Águas Belas, no Agreste de Pernambuco e a única do Nordeste a preservar a língua originária, o yaathê.
Já Maria será vivida por uma atriz negra: Laís Senna, cantora, compositora, bailarina popular e atriz de 26 anos - 18 deles com experiências artísticas profissionais.
A escalação dos atores reflete o caráter representativo do espetáculo, que busca valorizar identidades brasileiras e dar visibilidade a segmentos em geral marginalizados do protagonismo artístico.
Encenado no Marco Zero do Recife desde 2004, o espetáculo tem apresentações programadas para os dias 23, 24 e 25 de dezembro (as exibições ficarão acessíveis no canal do Baile no YouTube). O público estimado é de 75 mil pessoas por temporada, sob coordenação geral de Carla Valença, da Relicário Produções.
Atores
O ator Caique Ferraz nasceu em Flores, no Sertão, e tem experiência em produções feitas para os palcos e a TV - a mais recente é uma participação na série brasileira "Cangaço Novo" (Prime Video).
"Eu me sinto honrado e privilegiado por fazer parte de um trabalho tão bonito, construído por uma imensidão de profissionais competentes. Música, dança, canto e teatro fazem do "Êdjadwa êka Sat'k'felinêsse" (Baile do Menino Deus em yaathê, língua Fulni-ô) um espetáculo inigualável e enraizante para a nossa existência", diz Caique.
Ele faz par com a atriz Laís Senna, admiradora da montagem cênica desde pequena. "Participar é um sonho profissional", diz a artista, que se especializou no canto popular brasileiro durante passagem de 12 anos pelo Conservatório Pernambucano de Música e bebe da influência poética dos cantadores do Sertão do Pajeú, dos forrozeiros do Agreste caruaruense e dos brincantes característicos da Zona da Mata. Em novembro, concluiu a formação também em canto lírico.
Diversidade
Apesar da chegada ao Marco Zero há 19 anos, a obra comemora 40 anos de lançamento. Em 1983, o premiado escritor Ronaldo Correia de Brito, Assis Lima e Antonio Madureira se juntaram para criar um auto de Natal sem neves, renas, Papai Noel e outras referências sem conexão com a cultura brasileira.
A história é adaptada sob influências de brincadeiras populares, reisados, pastoris, cavalo marinho, maracatus e outras manifestações artísticas. O idealizador, diretor do espetáculo e responsável pela definição dos personagens é o escritor cearense radicado no Recife Ronaldo Correia de Brito.
O autor mantém um ciclo anual de renovação na montagem para expandir o horizonte cênico, reafirmar a tradição e espelhar a dinâmica das mudanças culturais brasileiras - mas sem descuidar da referência primordial e religiosa da encenação, o nascimento do menino Jesus.
"Uma das nossas ideias era passar para os nossos filhos o que é o Natal sem esse artifício de neve, Jingle Bells e renas. Eles precisavam conhecer o Natal brasileiro", afirma.
SERVIÇO
Baile do Menino Deus: Uma brincadeira de Natal
Quando: 23 a 25 de dezembro, às 20h
Onde: Praça do Marco Zero do Recife (Recife Antigo, Recife)
Quanto: Acesso gratuito