‘Fim de Semana no Paraíso Selvagem’, de Severino, é um suspense social ambientado no Litoral Sul
Segundo longa-metragem do pernambucano estreia nos cinemas nesta quinta-feira (7); sessão especial no Recife ocorre no Teatro do Parque
Suspense ambientado em uma cidade fictícia com diversos elementos do Litoral Sul de Pernambuco, o filme "Fim de Semana no Paraíso Selvagem", do diretor pernambucano Severino (nome artístico de Pedro Severien), chega às salas de cinema nesta quinta-feira (7), após uma pré-estreia na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
No Recife, a sessão de estreia no Teatro do Parque, às 19h, será especial: o pianista Amaro Freitas, que pela primeira vez assinou a trilha-sonora de um longa, irá executar a música ao vivo, durante a exibição do filme. Os ingressos antecipados estão sendo vendidos no Sympla, com bilheteria aberta no dia da sessão.
O longa mescla elementos da ficção com a memória afetiva do diretor, resultando em um suspense social que aborda aspectos do Litoral e da Zona da Mata Sul do Estado. As filmagens, inclusive, ocorreram em municípios como Cabo de Santo Agostinho, Ipojuca, Sirinhaém e Tamandaré.
Enredo
"Fim de Semana no Paraíso Selvagem" se passa em Paraíso, uma cidade fictícia que agrega cenários das localidades já citadas. A obra conta a história de Rejane (Ana Flávia Cavalcanti), que retorna ao território para tentar entender o que aconteceu com seu irmão, um exímio mergulhador encontrado morto.
Após deixar a cidade há décadas, expulsa por uma violência extrema, ela reencontra o lugar paradisíaco como um território expandido, tomado por um complexo industrial-portuário e especulação imobiliária e controlado por um grupo de privilegiados da classe dominante.
Neste litoral imaginado, "Fim de semana no paraíso selvagem" propõe uma reflexão em torno de questões sociais, de jogos de poder e de classes. O diretor o classifica como um filme "neo-noir social", cuja narrativa é toda permeada por "tensão, farsa e mistério".
"O filme tem a narrativa inspirada nessa realidade social da região, principalmente do Cabo, que viveu um projeto de desenvolvimento econômico, mas que tem uma contradição muito grande no sentido de problemas urbanos e sociais, principalmente da violência contra a juventude negra e periférica, além da não distribuição de renda. O filme usa esse pano de fundo para falar de trajetórias de vida e pessoas impactadas por essa paisagem", diz o diretor, ao JC.
"Para transparecer essas forças de violência e opressão, eu quis usar uma certa noção de memória, uma memória coletiva. A investigação que Rejane faz sobre a morte do irmão, Rodrigo, é aparentemente externa, buscando evidências sobre os últimos acontecimentos da vida dele, mas vai caminhando para uma investigação dos vestígios mais afetivos e emocionais. Por fim, o mergulho é interior, para dentro de si mesma, para encarar um trauma do passado", explica Severino.
Elenco e produção
No papel de Rejane, Ana Flávia Cavalcanti (Sob Pressão) venceu três prêmios como melhor atriz principal. O filme conta com atores como Enio Cavalcante (Cangaço Novo), Pedro Wagner (A Irmandade) e Zezé Motta.
"Há também uma diversidade de estéticas de atuação dentro do filme, o que reforça essa noção de uma narrativa coral, vozes dissonantes que expressam os embates políticos nas dimensões de classe, gênero e racialidade", diz Pedro sobre o elenco selecionado.
O filme teve sua première na competição Novos Diretores da 46ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo ano passado e foi recebido com aceno positivo da crítica e do público.
Entre as dezenas de Festivais de cinema dos quais participou, foi premiado no Fest Aruanda, no Festival Guarnicê e no Festival de Cinema de Triunfo, arrematando, em quase todos, os prêmios de Melhor filme, Melhor Direção, Melhor Fotografia, Melhor roteiro, melhor direção, Melhor direção de arte, Melhor Música Original, Melhor Atriz Principal. Em um ano, o longa somou 16 premiações.
"Acho que esse filme é uma mistura, digamos, do que existia dentro do meu trabalho autoral, que flertava com o cima de gênero, com a minha experiência de cinema militante, a partir da luta pelo direito à cidade. É como se eu estivesse modulando essas duas dimensões: o cinema de invenção, junto com o social político de intervenção social”, continua o cineasta, também responsável por "Todas as Cores da Noite" (2015).
"É uma reflexão a partir de um tema que tem a ver com luta de classes, de experiências e territórios. O Litoral Sul vem sendo vendido com essa imagem dourada de desenvolvimento, mas carrega muitas contradições. Eu quis olhar para essas sombras, esse litoral sombreado, com o peso dessas desigualdades."
Música
A música original de Amaro Freitas rendeu ao músico o prêmio de Melhor Música Original nos festivais Guarnicê e de Triunfo. Ele também já foi convidado para assumir trilhas de novos filmes. "O Amaro traz ao filme uma noção de sensibilidade. A trilha sonora tá associada à experiência das personagens, sendo uma trilha que carrega essa tensão", diz o diretor.
"Ela vai vibrando junto com a experiência da Rejane, pois ela faz um mergulho literal em busca dos vestígios da morte do irmão, mas também um mergulho afetivo para dentro de si na hora de enfrentar o passado. Ele conseguiu dar uma forma espiritual, digamos assim, no sentido de buscar um som percussivo experimental."