NATAL

Espetáculo "Baile do Menino Deus" inicia apresentações neste sábado (23)

Nesta edição o espetáculo conta com uma Maria negra e um José indígena

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JC

Publicado em 22/12/2023 às 14:21 | Atualizado em 22/12/2023 às 14:23
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O ano de 2023 é de comemoração para o “Baile do Menino Deus”, nascido em 1983 a partir do desejo de dos amigos Ronaldo Correia de Brito, Assis Lima e Antonio Madureira de ver surgir um auto de Natal entremeado pelas tradições universais e regionais, sem reproduzir o formato importado de celebração repleto de elementos inexistentes no clima tropical. São quatro décadas da versão com sotaque brasileiro para uma das histórias mais contadas do mundo - com a celebração da 20ª edição desde a estreia no palco do Marco Zero, com acesso gratuito.

Dirigido pelo escritor Ronaldo Correia de Brito, vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura pelo romance “Galileia”, com direção de produção de Carla Valença, da Relicário Produções, o auto de Natal será encenado nos dias 23, 24 e 25 de dezembro, às 20h. 

No terceiro dia, o espetáculo será transmitido ao vivo através do YouTube. Neste ano, o Baile terá pela primeira vez como José um ator indígena. E no personagem de Maria, uma atriz negra.

CONHEÇA OS ATORES QUE INTERPRETARÃO JOSÉ E MARIA

Caique Ferraz é do grupo fulni-ô, aldeado em Águas Belas, no Agreste de Pernambuco, um dos únicos do país a conservar o idioma nativo. Nascido em Flores, no Sertão, ele vive com a família e participa ativamente de rituais promovidos pela população originária. Integra o grupo de teatro Resta1 e fez participação recente na série Cangaço Novo (Prime Video).

A pernambucana Laís Senna é uma atriz, cantora e compositora negra com trânsito e reconhecimento em manifestações artísticas do Litoral ao Sertão do Estado.

O ESPETÁCULO 

O espetáculo é costurado entre a tradição religiosa milenar do nascimento de Jesus, filho de Maria e José, e características incorporadas de folguedos e brincadeiras populares, como o ritual de abertura da porta do reisado. A plateia acompanha a saga por essa porta, onde moram os pais do menino, em busca de autorização para celebrar o nascimento dele.

A saga ocorre sob música e dança, conduzida por dois Mateus, interpretados há 20 edições por Arilson Lopes e Sóstenes Vidal - que atualmente contam com os suplentes Daniel Barros e Paulo de Pontes. Pastoris, presépios, lapinhas, cantigas e danças tradicionais se encontram com passos de frevo, maracatu, cavalo marinho, boi para bordar uma versão extremamente brasileira da história universal.

“A dramaturgia do espetáculo toca o coração das pessoas. Há uma casa que precisa ser achada e uma porta a ser aberta. São símbolos importantes para homens, mulheres, jovens e crianças. Precisamos fazer essa passagem e o espetáculo gira em torno disso. As músicas são de tradição antiga, melodias que todos memorizam facilmente, porque parecem conhecer desde sempre”, opina Ronaldo.

NOVIDADES

O cantor Almério, é novidade entre os cantores no espetáculo. Outra mudança, cênica, é a ampliação de uma passagem para celebrar os Reis Magos, com participação inédita e especial do Maestro Forró e ocupação do palco por 63 artistas - o maior número simultâneo desde a estreia da montagem. Terá também figurino afrofuturista e os bailarinos de Okado do Canal, com hip hop e break, e o percussionista Luan Rian, de apenas 10 anos.

Como numa orquestra popular, os ensaios são divididos por grupos (atores, bailarinos, coro infantil, coro adulto, orquestra e cantores), que se unem ao fim para cerzir essa colcha cultural. Silvério Pessoa, Carlos Filho, Elon, Surama Ramos, Cláudia Rabeca, Isadora Melo, Sarah Leandro, Cláudio Rabeca, Sue Ramos, Lucas dos Prazeres e Carlos Ferreira são os cantores escalados.

A orquestra é formada por Alexandre Rodrigues, Aristide Rosa, Emerson Coelho, Henrique Albino, Jerimum de Olinda, João Pimenta, José Emerson, Karol Maciel e Laila Campelo, sob regência de Rafael Marques.

Entremezes são inseridos a cada ano, a partir da vivência do criador, de inspirações externas ou mesmo de questões importantes para a sociedade.

“Por exemplo, surgem questões urgentes sobre indígenas, religiões de matriz africana e aí nós criamos cenas novas, trazemos essas urgências ao palco”, explica Ronaldo. As 12 músicas originais foram estendidas para cerca de 30 na versão atual. Algumas chegam para ficar, outras são temporárias e logo dão vez a outras composições.

BUSCA PELO DIÁLOGO COM O PÚBLICO 

O Baile se mantém vivo pela relevância do tema, pela íntima relação com a cultura e pela constante busca pelo diálogo com o público, sobretudo com os mais jovens.

“É importante salientar que a única pessoa velha no Baile sou eu”, brinca o diretor.

À encenação no palco do Marco Zero, já foram convidados o grupo Bongar, da Nação Xambá, e vários artistas da cena local, em um intencional e regular rodízio de atores.

O “Baile do Menino Deus” sempre muda, esse é um dos grandes mistérios para o sucesso da montagem. É cheio de vida sobre o palco, nos bastidores e na plateia, que acompanha fielmente desde as sessões disputadas no Teatro Valdemar de Oliveira até as temporadas cheias no Marco Zero, com público estimado em 75 mil atualmente.

SOCIAL

No clima de solidariedade, haverá um ponto de arrecadação de alimentos não perecíveis para o programa Sesc Mesa Brasil. O volume arrecadado com a ação será destinado a instituições sociais que atendem famílias em situação de vulnerabilidade social em Pernambuco.

HISTÓRIA

Tudo começou com um esboço de representação teatral idealizada por Francisco Assis Lima e enviada para Ronaldo. Junto com Antonio Madureira, eles o transformaram em nove composições musicais inspiradas em ritmos pernambucanos, nordestinos, brasileiros e ibéricos, germinadas entre cartas trocadas e algumas caras ligações telefônicas pelos parceiros, à época com 30 e poucos anos.

Foram somadas a três clássicos do reisado (“Jaraguá”, “Burrinha” e “Boi”) e materializadas em um disco gravado na extinta Rozenblit e lançado pelo selo Eldorado em 1983.

Estreou no mesmo ano, para uma plateia lotada no Teatro Valdemar de Oliveira. Foram oito anos naquele tradicional palco, atualmente sem pauta e agonizante, com sinais de destruição do piso ao teto.

De lá para cá, foi encenada em centenas de escolas, ruas, pátios, teatros, terreiros, ONGs, assentamentos, quilombos, comunidades indígenas. A disseminação foi impulsionada pelo Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE), através do qual cerca de 700 mil exemplares já foram impressos - e o Baile inspirou dezenas de montagens natalinas Brasil afora.

RELEMBRE A ESTRÉIA DO ESPETÁCULO NO MARCO ZERO

A primeira edição no Marco Zero foi em 2004, em arrojada iniciativa de levar o auto de Natal a palco a céu aberto, com acesso gratuito.

“Tornar real o sonho de um Natal brasileiro para um público tão grande, ao ar livre, exige de nós o envolvimento de um ano inteiro. O convite de Ronaldo, há 20 anos, foi desafiador e instigante. Gosto das grandes causas! Tenho orgulho de ver o encanto nos olhos de cada criança, adulto ou idoso, a felicidade de quem vem de longe, quer ver mais de uma vez. É, também, um aprendizado anual, mesmo depois de tanto tempo de experiência, pois são muitos os desafios de trabalhar com arte neste país”, conta Carla Valença.

O projeto se avolumou em cenário, participantes, quantidade de músicas, público, impacto social e fãs. Já se somam algumas gerações entre os participantes e admiradores do “Baile do Menino Deus”, idealizado para as crianças brasileiras, mas capaz de emocionar pessoas de qualquer idade. O lançamento do filme, disponível no YouTube, catapultou o alcance, a partir de 2020, agora sem limitações geográficas.

APOIO

"O Baile do Menino Deus: Uma brincadeira de Natal" conta com o incentivo da Lei Federal de Incentivo à Cultura, é apresentado pela Prefeitura do Recife e pelo Itaú, com o patrocínio master do Grupo Parvi, da Sherwin-Williams, Uninassau, Copergás e Sesc-PE, com apoio do Governo de Pernambuco e realização da Relicário Produções Culturais e Ministério da Cultura.

 

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