RETROSPECTIVA

Retrospectiva 2023: Cultura foi marcada por retorno de investimentos, inteligência artificial e desafios do streaming

Fenômenos como 'Barbieheimer' levaram milhões aos cinemas, enquanto Hollywood viveu greve sem precedentes na história; em Pernambuco, Festival de Inverno de Garanhuns, Teatro Valdemar de Oliveira e Cinema São Luiz protagonizaram debates

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Emannuel Bento

Publicado em 27/12/2023 às 16:23
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O ano de 2023 foi marcado pelo aprofundamento de transformações significativas no cenário cultural, apresentando desafios que ecoaram em diversas segmentos das expressões artísticas.

Desde o aguardado retorno do Ministério da Cultura, que reacendeu debates sobre políticas e incentivos para o setor, até os embates sobre o uso da inteligência artificial e a crise do streaming, o período ressaltou assuntos que devem continuar relevantes nos próximos anos.

Retorno do Minc

MARCOS PASTICH/PCR
Margareth Menezes de lançamento de editais do Ministério da Cultura na Concha Acústica da UFPE - MARCOS PASTICH/PCR

Rebaixado para secretária no Governo Bolsonaro (quando chegou a ter oito secretários), o Ministério comandada por Margareth Menezes foi responsável por gerir iniciativas como a Lei Paulo Gustavo (LPG), a Política Nacional Aldir Blanc (PNAB) e os recursos do PAC Cultura.

O PNAB inaugurou o Sistema Nacional de Cultura, que vai receber o fomento direto na ordem de R$ 15 bilhões do governo federal até 2027. Ao todo, foram lançados 19 editais, que somam o montante de R$ 234 milhões. A Lei Rouanet atingiu 10.676 propostas admitidas - até 19 de dezembro, o valor captado pelo governo junto a patrocinadores foi de R$ 1,271.375.779.

Audiovisual

WILTON JÚNIOR/ESTADÃO CONTEÚDO
CONSEQUÊNCIAS A paralisação da Ancine já é uma realidade. Exemplo disto é que desde 2018 a Agência não anuncia editais do Fundo Setorial do Audiovisual, principal ferramenta de fomento da autarquia - WILTON JÚNIOR/ESTADÃO CONTEÚDO

O setor do audiovisual também foi impactado pelo retorno do Minc. De acordo com balanço apresentado pela ANCINE, os investimentos no setor audiovisual brasileiro chegaram a R$ 2,4 bilhões até setembro.

Em dezembro, o Senado aprovou o Projeto de Lei (PL) que recria a cota de exibição para filmes brasileiros nos cinemas até 2033. Projeto determina que, no mínimo, 30% dos filmes exibidos nos cinemas brasileiros sejam nacionais.

Cinema

DIVULGAÇÃO
Barbieheimer foi apelido dado para sucesso simultâneo de "Barbie", de Greta Gerwig, e "Oppenheimer", de Cristopher Nolan - DIVULGAÇÃO

Após o duro período de fechamento por conta da pandemia, as salas de cinema assistiram um respiro em 2023 com o fenômeno "Barbieheimer". O filme de Greta Gerwig sobre a famosa boneca e o longa de Christopher Nolan protagonizaram richas e performances coletivas nas redes sociais. Os dois saíram ganhando, com US$ 1,442 bilhão e US$ 953,8 milhões de bilheteria, respectivamente.

Já o Universo Cinematográfico Marvel (MCU) assistiu a sua pior bilheteria com "As Marvels", evidenciando uma saturação do formato de sucesso.

No Brasil, "Retratos Fantasmas", do recifense Kleber Mendonça Filho, foi visto por mais de 85 mil pessoas, sendo o documentário mais visto do país nos últimos cinco anos. O filme não conseguiu vaga no Oscar, mas levou os cinemas de rua do Recife ao mundo em uma bela campanha internacional.

Greve em Hollywood

ROBYN BECK/AFP
Membros e apoiadores do SAG-AFTRA fazem protesto em frente aos estúdios Disney no dia 95 da greve contra os estúdios de Hollywood em Burbank, Califórnia, em 16 de outubro de 2023 - ROBYN BECK/AFP

O mercado do entretenimento assistiu a um movimento sem precedentes em sua história: as greves dos roteiristas e atores em Hollywood, marcadas pela luta pelo aumento salarial e proteção contra Inteligência Artificial. Foi a primeira vez que os dois sindicatos entraram em greve juntos desde 1960.

As circunstâncias que provocaram as greves (mudança da mídia teatral e de transmissão tradicional para o streaming e a tecnologia emergente, como a IA) não foram abrandadas. Seus efeitos em cascata, de datas de lançamento atrasadas à espera por novas temporadas de programas, podem ser sentidos por meses ou até anos.

Inteligência Artificial

Divulgação
Elis Regina e Maria Rita cantam lado a lado em comercial gerado por IA - Divulgação

Pela primeira vez, o uso da inteligência artificial instigou grandes debates sobre ética e originalidade nas artes. O Prêmio Jabuti retirou de sua lista de indicados na categoria Ilustração o livro "Frankenstein", que teve ilustrações feitas por IA.

No âmbito da música, a faixa "Heart on my Sleeve", com vocais de The Weeknd e Drake criados por IA, precisou ser retirada do TikTok após ser tocada mais de 10 milhões de vezes. Por outro lado, produtores usaram a ferramenta para "restaurar" vocais de John Lennon em "Now and Then", dos Beatles.

Já o uso de imagens da cantora Elis Regina, morta há 41 anos e "revivida" por meio de recursos de IA em uma propaganda de automóveis, motivou até um projeto de lei no Senado para disciplinar e estabelecer regras para a utilização dessas imagens e recursos, principalmente quando se tratarem de pessoas já falecidas.

Streaming

VICTOR JUCÁ
Imagens de 'Cangaço Novo', lançamento da Prime Video em 2023 - VICTOR JUCÁ

Após um "boom" de investimento na pandemia, as plataformas de streaming assistiram ao crescimento do número de assinantes estagnar ou até diminuir. Com isso, se viram obrigadas a subir preços, impedir compartilhamento de senhas e até incluir opções com propagandas. A Disney chegou a encerrar o Star+, remanejando o conteúdo para o Disney+.

Apesar disso, foi um ano profícuo para as produções brasileiras. "Cangaço Novo", da Amazon Prime, foi um sucesso inesperado e arrebatador, assim como a elogiada "Os Outros", do Globoplay. A nostalgia tomou conta com "Xuxa, o Documentário", "O Rei da TV", sobre Silvio Santos, e "A Superfantástica História do Balão".

Na gringa, "The Last of Us" consolidou uma legião de fãs, e "Succession", "Sex Education" e "The Crown" tiveram despedidas bem comentadas - principalmente "Succession", sucesso de crítica.

FIG

Divulgação
Festival de Inverno 2023 foi criticado pela programação e teve tempo reduzido para 9 dias - Divulgação

Em Pernambuco, o grande imbróglio da cultura foi o Festival de Inverno de Garanhuns (FIG). Após a edição de 2023, o prefeito Sivaldo Albino (PSB) teceu diversas críticas ao Governo do Estado, que organiza o evento, e anunciou que realizará o FIG sozinho em 2024, chegando a anunciar as datas: 11 e 28 de julho.

A Secult PE/Fundarpe também divulgou datas: 18 a 28 de julho de 2024. Ambos também anunciaram diferentes atrações. Sendo alvo até de audiência pública na Alepe, o ano acaba sem solução e acordo.

Teatro Valdemar de Oliveira

BRUNO PARMERA/CORTESIA
Teatro Valdemar de Oliveira, no Centro do Recife, totalmente destruído - BRUNO PARMERA/CORTESIA

Outra polêmica pernambucana foi a degradação do Teatro Valdemar de Oliveira, localizado no Centro do Recife e inaugurado em 1971, que foi seguidamente invadido, furtado e destruído por vândalos. A situação provocou protestos. Um ofício de solicitação do tombamento foi entregue à Secult-PE/Fundarpe pelo Grupo João Teimoso e o Movimento Guerrilha Cultural.

A diretoria do Teatro de Amadores de Pernambuco - TAP, responsável por gerir o Teatro, informou que "não tem interesse no tombamento nesse momento de busca de alternativas" e que “continua na busca de alternativas que garantam a recuperação desse verdadeiro patrimônio cultural do nosso Estado".

Cinema São Luiz

PORDENTRO.ID/DIVULGAÇÃO
Fachada do Cinema São Luiz - PORDENTRO.ID/DIVULGAÇÃO

Outro equipamento que suscitou protestos foi o Cinema São Luiz, no Centro, fechado desde julho de 2022. Após chuvas torrenciais ocorridas no Recife em fevereiro de 2023, o equipamento precisou ser interditado por medida de segurança. O reparo da cobertura demandou um investimento de R$ 106.308,53.

Posteriormente, o Governo de Pernambuco destinou R$ 3.300.000,00 para realização dos serviços, com recursos oriundos de repasse do Governo Federal via Lei Paulo Gustavo.

Música

@romilsonoficial/Divulgação
Cantora Raphaela Santos - @romilsonoficial/Divulgação

Na música, pode-se dizer que 2023 foi um ano de mulheres. Ana Castela foi a artista mais ouvida no Brasil no Spotify. Simone Mendes também fez muito sucesso com "Erro Gostoso"; e Luísa Sonza levou uma bossa nova ao topo das paradas com "Chico".

Na gringa, Shakira emplacou "BZRP Music Sessions #53", sobre a traição do ex-marido Gerard Piqué. Além do sucesso de "Cruel Summer", Taylor Swift (pessoa do ano pela Time) fez barulho em sua passagem pelo Brasil - marcada pela triste morte da fã Ana Benevides.

Em Pernambuco, o ano foi da cantora Raphaela Santos. Joyce Alane (indicada ao prêmio Multishow) e Uana (vencedora do Women's Music Event  Awards) também foram boas revelações.

Despedidas

Reprodução/Instagram
RITA LEE NOTÍCIAS: Saiba como está o ATUAL ESTADO DE SAÚDE de Rita Lee e os PRINCIPAIS SINTOMAS de CÂNCER DE PULMÃO - Reprodução/Instagram

O ano também foi marcado por grandes perdas nas artes: na música, o mundo se despediu de nomes como Rita Lee, Tina Turner, Astrud Gilberto, Sinead O’Connor, Carlos Lyra, Tony Bennet, Sueli Costa e MC Marcinho.

Na atuação, partiram artistas como Zé Celso, Elisangela, Lolita Rodrigues, Aracy Balabanian, Matthew Perry e Michael Gambon.

Ainda morreram Glória Maria, a apresentadora Palmirinha, o escritor Abdias Moura, o produtor José Carlos Mendonça (o Pinga), a atriz e gestora pública Leda Alves e os pintores José Cláudio e Montez Magno.

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