Morre Celso Marconi, dono de um vasto legado no jornalismo cultural e no cinema
Vítima de falência múltiplas dos órgãos, aos 93 anos, crítico iniciou trajetória no jornalismo nos anos 1950, tendo criado o projeto Cinema de Arte ao lado de Fernando Spencer
Morreu nesta terça-feira (2), aos 93 anos, o jornalista, crítico de arte, professor, curador e realizador cinematográfico Celso Marconi de Medeiros Lins. Ele estava internado no Hospital Esperança Olinda e faleceu por volta das 23h.
De acordo com obituário enviado por familiares, a causa foi a falência múltiplas dos órgãos devido ao "declínio da capacidade intrínseca associada ao envelhecimento".
O velório será realizado no Morada da Paz, no município do Paulista, no Grande Recife, a partir do 12h. O sepultamento ocorre às 17h. Celso Marconi Lins deixa quatro filhos, além de netos e bisnetos.
Legado no jornalismo cultural
Em vida, Celso Marconi deixou um vasto legado para o jornalismo cultural e para o cinema. Passou por veículos como "Diario de Pernambuco", edição Nordeste do "Última Hora", Suplemento Cultural de Pernambuco, além deste Jornal do Commercio (a partir de 1966).
No JC, Celso atuou por mais de 20 anos na crítica de cinema, música, artes plásticas e cênicas. Ele iniciou sozinho o caderno de variedades, que viria a ser o futuro caderno de cultura do jornal.
Nos anos 1980, lecionou jornalismo na Universidade Católica de Pernambuco. Foi amigo de nomes como Fernando Spencer e Jomard Muniz de Britto. Em 2020, ganhou a biografia "Celso Marconi: O senhor do tempo", assinada por Luiz Joaquim e editada pela CEPE.
Início de carreira
Nascido no Recife em 1930, Celso Marconi começou no jornalismo ainda na década de 1950, quando escreveu para os jornais "Folha do Povo", "Jornal Pequeno" e "Diario de Pernambuco", cobrindo pautas na editoria de política e também assinando artigos e entrevista com personalidades da cultura.
A sua primeira crítica cinematográfica, gênero que iria o consagrar no futuro, foi publicada em 1954, pelo pseudônimo "João do Cine" no Folha do Povo. O texto abordava o filme brasileiro "Agulha no Palheiro", de Alex Viany.
Sindicalismo e golpe militar
Em 1960, Celso integrou a diretoria do Sindicado dos Jornalistas de Pernambuco, o que o levou a uma viagem, naquele mesmo ano, pela China, URSS e Europa, representando a imprensa local. Dois anos depois, foi convidado a compor a equipe da edição Nordeste do "Última Hora", do Samuel Wainer, onde finalmente assinou uma coluna de cinema como "Celso Marconi".
Tido como subversivo pelos militares do golpe militar de 1964, foi detido por quatro meses. Só voltaria ser contratado pela imprensa em 1966, pelo Jornal do Commercio.
Cinema
Durante a década de 1960, profissionalizou o projeto Cinema de Arte ao lado de Fernando Spencer. Esse iniciativa mergulhou diversas gerações do Recife na cinefilia, promovendo as primeiras exibições na cidade de cineastas como Fellini, Kurosawa, Antonioni, Godard, Bergman, Pasolini e Truffaut.
"Foi também um intenso provocador das políticas públicas em prol da cultura e um prolífico realizador superoitista, com cerca de 20 filmes produzidos na década de 1970, tendo lecionado, nos anos 1980, jornalismo na Universidade Católica de Pernambuco", diz o obituário enviado por Luiz Joaquim.
Gestão pública
Em 1991, foi convidado a assumir a editoria do Suplemento Cultural, publicado pela Companhia Editora de Pernambuco, e a gestão do Museu da Imagem e do Som de Pernambuco. Colaborou nas primeiras edições do Festival de Inverno de Garanhuns e, dois anos depois, inaugurou o Cine Ribeira, no Centro de Convenções.
Nota de pesar
Em nota, a Secretaria Estadual de Cultura (Secult-PE) e a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) lamentaram com profundo pesar o falecimento de Celso Marconi de Medeiros Lins. "Celso Marconi desempenhou uma função inestimável para nós que fazemos parte da Secult-PE e Fundarpe", diz a nota.
"No início dos anos 1990, quando se tornou diretor do Museu da Imagem e do Som foi ele quem capitaneou a transferência do Mispe de uma modesta cela na Casa da Cultura para o casarão nº 379 da Rua da Aurora onde o equipamento cultural se transformou em um polo de intensas atividades, sobretudo no audiovisual, tendo ainda como extensão o Cine Ribeira, no Centro de Convenções, uma das principais experiências de cinema de arte do País, e, posteriormente, o Cine-Teatro Arraial em sua primeira fase."
"Em especial, nesses 50 anos de história da Fundarpe recém-completados, podemos afirmar que Celso Marconi foi uma das figuras-chave no cumprimento da missão da Fundação", completa.