ARTES VISUAIS

Artes visuais: Pesquisa evidencia sobrecarga de profissionais e falta de oportunidades no Recife

Pesquisa "Dorso" realiza um diagnóstico das condições de trabalho, dos financiamentos e da história recente de políticas públicas no setor

Imagem do autor
Cadastrado por

Emannuel Bento

Publicado em 16/01/2024 às 14:15 | Atualizado em 16/01/2024 às 14:58
Notícia
X

A maior parte dos profissionais artes visuais do Recife trabalha sem piso salarial mínimo ou direitos trabalhistas, com jornadas longas, sem férias ou garantia de aposentadoria - atuando de forma autônoma e independente como microempreendedor individual.

Essas são algumas informações da pesquisa "Dorso", divulgada na última sexta-feira (12) e criada para realizar um diagnóstico das condições de trabalho dessa cadeia produtiva no Recife, trazendo ainda informações sobre financiamentos e a história recente das políticas públicas da Prefeitura do Recife voltadas para as artes visuais.

A pesquisa foi produzida com incentivo do Sistema de Incentivo à Cultura (SIC), do poder municipal, entre 2022 e 2023. Participaram mais de 30 curadores, artistas, produtores, representantes de galeria, gerentes de museus, estudantes, educadores, montadores/expografia, entre outros profissionais da categoria.

'Sobrecarga, precarização e falta de oportunidades'

As informações foram organizadas pelas pesquisadoras Nathália Sonatti, Bruna Lira, Luane Barbosa e Rebeka Monita.

"O que mais me chamou atenção nos resultados foi, infelizmente, a sobrecarga dos profissionais. Tínhamos essa hipótese, muito a partir da nossa vivência e relação com as equipes, mas as entrevistas deixaram isso muito marcado", diz Sonatti, ao JC.

DIVULGAÇÃO
Debate público realizado pela pesquisa Dorso, no Recife - DIVULGAÇÃO

"Foi comum ouvir que trabalhadores costumam usar as férias de dois trabalhos para fazer um terceiro. Sobrecarga, precarização e falta de oportunidades, apesar da alta demanda, são temas recorrentes. Apesar disso, todo mundo ainda mostra um certo 'brilho nos olhos'. Os projetos não deixam de ir para a frente, de acontecer, pois os trabalhadores dão um jeito - seja através da colaboração, da permuta."

Editais

Em relação a editais, a pesquisa reforça um comentário bastante ouvido no setor: para essa categoria, os mesmos nomes que aprovam os projetos todos os anos.

Além disso, ainda são poucos poucos editais na área, com pouco investimento nos que já existem. "Há projetos em que se trabalha 12 meses, mas se recebe o equivalente a 5 ou 4 e continua-se trabalhando", disse uma das entrevistadas no estudo.

Equipamentos

Já sobre os equipamentos culturais, a Dorso informa que os espaços não recebem verba suficiente para manter uma agenda própria. "Para realizar ações nesses espaços, é necessário buscar financiamento de outro lugar, e que muitas vezes saem do próprio bolso", informa a pesquisa.

Dificuldade na consulta pública

Segundo a pesquisa, de 2013 a 2023 não há disponível para consulta pública nenhum decreto ou lei que faça referência a cultura e artes visuais/plásticas segundo o portal LEGIS (Portal da Legislação Estadual de Pernambuco).

Apesar disso, nos últimos cinco anos, foram destinados ao Setor das Artes Visuais/Artes Plásticas, através de parcerias, editais de fomento e patrocínios R$ 413.000,00 da Lei Aldir Blanc, Prefeitura do Recife R$ 927.780,00 Exposições e outras ações culturais tendo como fontes parcerias com outros agentes sociais R$ 1.910.599,19.

A Prefeitura do Recife informou ao projeto que "o orçamento aprovado pelo Poder Legislativo Municipal não detalha por linguagem cultural, a exemplo de Artes Plásticas/Artes Visuais". "No referido orçamento constam várias rubricas que se referem a execução da política cultural planejada pelo Município, porém a destinação de valores para ações de artes plásticas/artes visuais, teatro, artesanato, música, etc, são distribuídas conforme o planejamento de cada linguagem da cultura do Recife e não são detalhadas na Lei do Orçamento Municipal."

Pesquisa

A pesquisa "Dorsa" é fruto do projeto de conclusão de curso da pesquisadora Nathália Sonatti na UFPE. "O projeto surge de uma inquietação, pois eu já trabalhava com produção cultural através da revista Propágulo. Pensei que queria abordar isso de uma forma mais sistemática, organizando esse cenário e mostrando o como é a realidade de trabalhar na área".

Com a abertura dos editais do SIC, o projeto foi inscrito e aprovado. "A pesquisa está dividida em três partes: entrevistas e um levantamento temporal com marcos de financiamento. A terceira é um formulário que tem a intenção de reunir dados mais quantitativos em relação ao setor", explica.

Na plataforma criada, é possível obter informações sobre temas como editais e mercado, além de sugestões de políticas para os setor público ou privado, sugerindo ainda uma auto-organização da classe.

O formulário da terceira etapa, assim como as demais informações, estão disponíveis no endereço dorso.com.br.

Tags

Autor