CARNAVAL 2024

'Principal objetivo do Rec-Beat é permanecer vivo', diz diretor Antônio Gutierrez. Confira entrevista

Após divulgar programação da edição de 2024, 'Gutie' comenta sobre os desafios para continuar com um festival gratuito há quase 30 anos: 'Ao mesmo tempo que concede uma liberdade curatorial maior, a gratuidade impõe uma grande dificuldade'

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Emannuel Bento

Publicado em 01/02/2024 às 0:00 | Atualizado em 01/02/2024 às 11:55
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Após receber o título de Patrimônio Cultural Imaterial do Recife, em novembro de 2023, o festival Rec-Beat divulgou na quarta-feira (31) a programação completa da sua edição de 2024. O tradicional palco independente localizado no Cais da Alfândega recebe shows de 10 a 14 de fevereiro, sempre a partir das 19h.

Em entrevista ao JC, o diretor Antônio Gutierrez, o "Gutie", comentou sobre o processo de escolha dos artistas, a manutenção da identidade do evento e os desafios para continuar com um festival gratuito há quase 30 anos. "Antes de tudo, o principal objetivo é permanecer vivo", diz

Entre os destaques da edição, estão nomes como Letrux (RJ), Urias (MG), Ana Frango Elétrico (RJ), Rico Dalasam (SP), Vandal (BA), Ebony (RJ), DJ K O Bruxo (SP), Mateus Fazeno Rock (CE) e Nailson Vieira (PE).

Revelações locais como Ivyson e Yannara aparecem ao lado de tradições pernambucanas como o Afoxé Filhos de Dandalunda e o lendário Walter de Afogados (PE). A cena eletrônica do Recife também se fará presente com os DJs Dandarona, Geni, KAI e BJ3.

O festival ainda terá um número recorde de atrações internacionais, totalizando sete artistas. São eles: Ácido Pantera (Colômbia), Echoes of Zoo (Bélgica), as DJs Loa Malbec (Colômbia), Asna (Costa do Marfim) e Sarah Farina (Alemanha), além dos músicos e performers (Gana) e Niño de Elche (Espanha).

Entrevista - Gutie, diretor do Rec-Beat

No geral, o que você falaria sobre a programação desse ano? Ela segue fiel ao propósito inicial do festival, por exemplo?

Sim, a programação deste ano representa muito bem o conceito do festival consolidado ao longo dos anos, que tem como fio condutor aproximar tradição e novas tendências. Há um frescor alimentado pelas apostas do festival em novos nomes nacionais e pernambucanos, por exemplo.

Quase todos os nomes, inclusive os mais conhecidos, estão com novos álbuns lançados, ou seja, muita coisa inédita. Também aprofundamos nossas pesquisas no campo internacional, no sentido de buscar propostas que dialogam com o conceito do festival, principalmente os oriundos de países africanos e sul-americanos.

Alguma atração foi escolhida por muitos pedidos do público? Como mapeiam essas sugestões?

Os pedidos do público não pautam necessariamente as nossas escolhas. Se fossemos atender aos pedidos, resultaria numa programação um tanto óbvia, o que não é o nosso objetivo. A gratuidade do festival nos dá também liberdade curatorial, uma vez que não precisamos de atrações que vendam ingressos, ou seja, há espaços para "desconhecidos".

Por outro lado, procuramos trazer alguns nomes que ao mesmo tempo que dialogam com nossa proposta curatorial sabemos que muita gente gostaria de ver e que, devido a gratuidade do festival, só poderia ser acessado num palco como o do Rec-Beat. Como curador, tento me colocar no lugar de uma pessoa que vai ao festival querendo ser surpreendido por algo que ele ainda não conhece.

Essa edição terá mais atrações internacionais - que sempre foram presentes no evento. Por quê?

Faz mais de quinze anos que o Rec-Beat programa nomes internacionais, principalmente latino-americanos e africanos. É a oportunidade das pessoas conhecerem um pouco dessa produção musical, que estão nas nossas origens, mas que raramente é acessada.

Pode parecer surpreendente o que vou dizer, mas o Rec-Beat tem um reconhecimento internacional que poucos imaginam. Anualmente recebemos dezenas de convites de festivais e feiras de música internacionais que nos chamam pelo que o Rec-Beat representa: um espaço de encontro de culturas e tendências. O fato de o festival acontecer durante o carnaval também o torna atraente para os artistas, todos querem viver essa experiência, que é bem diferente de atuar em um palco desse período.

Quais as dificuldades para a realização dessa edição? Quais os desafios que você tem tido enquanto produtor?

A gratuidade do festival, ao mesmo tempo que concede uma liberdade curatorial maior, como já disse, impõe uma grande dificuldade que é a conquista de patrocinadores. Vale lembrar que somos um festival independente, com vida própria, que tem passado por várias gestões, com total liberdade de realização.

Não contamos com recursos de bilheteria para cobrir custos, precisamos de patrocínio. Como nos anos anteriores, seguimos tendo patrocínio da Fundação de Cultura da Cidade do Recife (FCCR), nossa principal apoiadora desde que o festival se instalou no Cais da Alfândega, no Bairro do Recife.

Nesta edição de 2024, contamos também com um importante poio da Fundação de Cultura do Estado de Pernambuco (Fundarpe), de instituições internacionais e da iniciativa privada. Contudo, ainda encontramos muita difi culdade para cobrir os custos do festival, uma vez que os custos de logística, operacionais e artísticos subiram muito nos últimos anos.

Para próxima edição já temos o projeto aprovado na Lei Rouanet, o que deve trazer novas possibilidade de patrocínios.

Estamos próximos da edição de 30 anos. Você prospecta algo especial para a ocasião?

Sim, mas não vou dizer agora. Antes de tudo, o principal objetivo é permanecer vivo.

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