Carnaval do Recife: Concurso de Agremiações precisa de mais divulgação, opinam representantes
Após experiência insatisfatória na Rua João Lira, concurso volta à Avenida Dantas Barreto em um novo trecho, mas poderia ser mais conhecido e prestigiado pela população: 'Deveria ter uma passarela própria, como em outras cidades do país'
O tradicional Concurso de Agremiações do Carnaval do Recife, realizado há mais de 90 anos, retornará à Avenida Dantas Barreto neste ano, após uma experiência insatisfatória na Rua João Lira, ao lado do Parque 13 de Maio, em 2023.
No ano passado, os fazedores da cultura popular alegaram falta de espaço e esvaziamento das arquibancadas - já que foi a primeira vez que o concurso saiu da Dantas, indo para um local com menos visibilidade.
O retorno ao local tradicional ocorreu após diversas reuniões do poder municipal com a Liga das Culturas Populares. Dessa vez, a passarela ficará no trecho entre a Rua Siqueira Campos e a Praça da Independência. O Concurso é realizado do domingo a terça-feira.
Mais divulgação
Representantes de associações da Liga das Culturas Populares ouvidas pelo JC opinaram sobre a mudança. Apesar de concordarem que o retorno foi positivo, alguns deles ainda mostram apreensão com a realização nesse novo trecho, que é menor do que o anterior - que ficava mais ao fim da avenida, nas imediações da Rua São João.
Porém, a demanda uníssona é a questão da divulgação. Afinal, as agremiações do Concurso (que envolve onze modalidades) passam o ano todo se preparando para esse momento, que deveria ser uma vitrine para o carnaval recifense.
O Concurso das Agremiações reúne escolas de samba, blocos de pau e corda, tribos de índios, troças carnavalescas, maracatus de baque solto, maracatus de baque virado, clubes de frevo, clubes de boneco, caboclinhos, bois e ursos.
Espaço
Fábio Sotero, atual presidente da Associação dos Maracatus Nação de Pernambuco (AMANPE), é um dos representantes que menciona a questão do espaço como um possível problema. "A Avenida Dantas Barreto também recebe o desfile do Galo da Madrugada, que necessita de um corredor de segurança. Então, não podemos montar a arquibancada em grande parte desse trecho", explica.
"Nas discussões, chegamos ao atual local para montar a arquibancada, com uma passarela que deveria ter até 10 metros de largura. Porém, a forma como a arquibancada foi montada, no meio da Avenida, deixou cerca de seis metros de largura para o desfile. Isso não é bom, porque as baianas do maracatu, por exemplo, usam saias de quase sete metros."
O presidente da AMANPE diz que o comprimento do atual espaço também é pequeno, chegando a cerca de 200 metros. "Deveria ter no mínimo 300 metros", diz.
Passarela própria?
Fábio fala, inclusive, da necessidade de uma passarela própria para o concurso. "Como existe em diversas cidades do país. Não é só no Rio de Janeiro em São Paulo: existe em Manaus, Parintins, Florianópolis e até Uruguaiana, no Rio Grande do Sul. É vergonhoso dizer ter o maior carnaval do mundo, com a maior diversidade, e não ter um espaço digno de se apresentar na festa."
Já Fernando Antônio, da Associação dos Blocos de Samba de Santo Amaro, opina que preferia o antigo local, próximo da Rua São João. "Tendo em vista o local do ano passado, o local desse ano é melhor. Mas, seria bem melhor se fosse como antigamente, no sentido Sérgio Loreto até a Igreja do Carmo. A gente brigou muito nesse carnaval por isso. Por conta do Galo não pode, então diminuímos o nosso percurso", diz.
"Colocaram 1001 obstáculos. O samba tem um grande público, a turma gosta e lota a passarela. Mas, a Prefeitura fica mudando de local, isso acaba nos colocando de lado. O nosso samba não consegue ser bem visto. No carnaval, as escolas só aparecem nesse momento do desfile. Sabemos que o Recife é a capital do frevo, mas o samba se sai bem."
'Público vem diminuindo'
Manoel Salustiano, diretor da Associação dos Maracatus de Baque Solto de Pernambuco, opina que o novo local foi bastante positivo no sentido de visibilidade. "Antes, ficava no final da Avenida e era escondido. Agora, estamos próximos da Praça da Independência, o que é. Não vi ninguém da minha modalidade reclamar da largura. Agora, precisamos ver o que vai acontecer", diz.
Apesar disso, Salustiano ressalta que o evento como um todo precisa de uma melhor divulgação. "As pessoas precisam saber que ali existe uma arquibancada, que você pode levar a família. As agremiações são cartões postais do Carnaval de Pernambuco. É preciso de mais atenção nesse sentido."
Fábio Sotero, da AMPE, opina que o Carnaval do Recife tem divulgado bastante o polo do Marco Zero e Galo da Madrugada. "Precisamos colocar a cultura popular no mesmo patamar dos outros palcos: fazer um plano de mídia, divulgando dias, horários e local para que a população tenha total conhecimento. Muita gente diz que nem sabe que existe o Concurso. O público vem diminuindo, sorte é que algumas modalidades tem público certo".
Fabiano Santos, presidente fundador da União dos Afoxés de Pernambuco, explica que os afoxés não participam do concurso por não acreditarem no formato de competição. Apesar disso, ele endossa que a festa precisa de um maior destaque à cultura popular.
"O Carnaval não pode deixar de ser uma celebração das pessoas, da possível democracia e da equidade social, para ser um palco de grandes eventos, onde as bandas e as estruturas são contratadas primeiro do que a cultura popular".