CULTURA POPULAR

Maracatus e Ciranda são reconhecidos como Patrimônios Imateriais do Recife

Novas leis foram publicadas no Diário Oficial do Município; A partir de agora, o dia 12 de novembro é reconhecido como Dia Municipal do Maracatu de Baque Solto

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Emannuel Bento

Publicado em 25/03/2024 às 16:00
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O Maracatu de Baque Solto (Maracatu Rural), o Maracatu de Baque Virado (Maracatu Nação) e a Ciranda, três tradições culturais celebradas por pernambucanos e brasileiros, foram reconhecidas como Patrimônio Imaterial Artístico e Cultural do Recife.

O prefeito do Recife, João Campos, sancionou as leis que foram publicadas no Diário Oficial do Município na última semana. Além disso, agora o Dia Municipal do Maracatu de Baque Solto passa a ser comemorado, anualmente, em 12 de novembro.

Secretário de Cultura celebra

Em comunicado, o secretário de cultura do Recife, Ricardo Mello, comentou que iniciativas de reconhecimento, entre as quais a patrimonialização é uma das mais significativas, ampliam visibilidade e incentivam os movimentos de salvaguarda. "A força e a diversidade das nossas manifestações culturais, tão presentes no cotidiano da cidade, nos trazem mais do que memória, trajetória, elas traduzem a ancestralidade."

"Assim a cultura popular se fortalece, mas ela também se renova, na ocupação de mais espaços, no engajamento de novas gerações, na valorização de mestres e mestras, neste encontro crescente com uma infindável fonte de inspiração. Também por isso intangível, imaterial. O Recife se torna ainda mais universal nesta marca única e plural, de uma verdadeira matriz da cultura popular", acrescentou.

Maracatu rural

BRENDA ALCÂNTARA/PCR
Desfile de Maracatu no Bairro do Recife - BRENDA ALCÂNTARA/PCR

O Maracatu de Baque Solto evidencia a fusão de diversos folguedos populares originários das áreas canavieiras do interior do Estado, tais como reisado, pastoril, cavalo-marinho, bumba-meu-boi, caboclinhos, entre outros. No início do século 20, a crise na indústria açucareira levou trabalhadores rurais em direção à capital. Ao se integrarem à vida urbana, adaptaram-se à nova realidade social, utilizando suas próprias referências.

A prática do Maracatu de Orquestra foi uma dessas adaptações. A migração para o Recife teve impacto na estrutura da brincadeira, em suas representações, concepções estéticas, na realidade sociocultural dos participantes, assim como nas práticas religiosas que fundamentam o brinquedo. Trata-se de um veículo importante para preservar e celebrar as influências culturais afro-indígenas, mantendo viva a memória e as práticas dos antepassados.

Maracatu Nação

BRENDA ALCÂNTARA/PCR
Desfile de Maracatu no Bairro do Recife - BRENDA ALCÂNTARA/PCR

Os grupos de Maracatu Nação, também conhecidos como Maracatu de Baque Virado, têm sua origem nas cerimônias de coroação dos Reis do Congo. Estes grupos, configurados como verdadeiras nações, apresentam-se ao público como cortes ricamente adornadas, com tecidos de seda, veludo, bordados e pedrarias.

À frente do cortejo encontra-se o Porta-Estandarte, seguido pela Dama-do-Paço, responsável por conduzir a calunga, o ícone consagrado detentor do axé do maracatu.

Assim como nas outras agremiações, cada maracatu tem uma batida ou baque próprio. O instrumental do brinquedo, composto de tarol, caixa de guerra, mineiro, agbê, gonguê e alfaias (tambores confeccionados com madeira), também varia em número e tipo, e é comandado pelo Mestre de Apito.

Ciranda

MARCOS PASTICH/PCR
Ciranda no Pátio de São Pedro - MARCOS PASTICH/PCR

A Ciranda tem origem portuguesa e era uma dança de roda infantil. No Brasil, é dançada por pessoas de todas as idades, e é encontrada no litoral e na Zona da Mata Norte. Suas cantigas são influenciadas por diversas culturas. Tradicionalmente realizada em locais populares, como praias, era frequentada por trabalhadores rurais, pescadores e operários.

É uma dança simples e comunitária, sem restrições de idade, cenário ou vestimenta. O mestre, contramestre e músicos ficam no centro da roda; e o instrumental típico inclui ganzá, bombo e caixa, podendo ter outros instrumentos como triângulo, pandeiro e metais. O mestre cirandeiro, com um apito, inicia os versos, frequentemente improvisados. Para mais detalhes sobre essa arte que transmite valores tais quais solidariedade, cooperação e pertencimento comunitário.

Patrimônios também do Brasil

Distinções às tradições afro-brasileiras já têm acontecido ao longo dos últimos anos. Em 2014, o Maracatu Nação e o Maracatu Rural receberam o título de Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil. O título foi concedido em votação unânime do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural.

Já a Ciranda do Nordeste foi registrada como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil em 2021, após reunião do mesmo Conselho, coordenada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), autarquia federal vinculada ao Ministério do Turismo.

Outras expressões culturais, que também fazem parte da identidade pernambucana, receberam reconhecimentos que contribuem com a propagação de seus elementos pelo mundo.

O Frevo, em 2012, foi reconhecido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) como patrimônio cultural da humanidade. E, desde 2007, já era considerado Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro, pelo Iphan. A Capoeira é Patrimônio Imaterial da Humanidade desde 2014. E os Caboclinhos são Patrimônio do Brasil desde 2016.

Outros patrimônios do município

O Recife já conta com uma extensa lista de patrimônios imateriais. A Orquestra Sinfônica do Recife, a mais antiga em atividade ininterrupta do Brasil, e o Balé Popular do Recife, um dos primeiros grupos de dança profissional de Pernambuco, já têm o reconhecimento desde 2018.

O movimento Brega também é patrimônio municipal desde 2021. Festas religiosas e tradicionais da cidade, a de Nossa Senhora da Conceição e a da Vitória Régia, são consideradas patrimônio desde o ano passado.

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