SEMANA SANTA

Paixão de Cristo do Recife traz tom contemporâneo à história de Jesus em três apresentações

"Paixão de Cristo do Recife: Jesus, a Luz do Mundo" retorna ao Marco Zero da capital nos dias 29, 30 e 31 de março, sempre às 18h

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Emannuel Bento

Publicado em 27/03/2024 às 13:35
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Uma conexão da "história mais antiga e celebrada da humanidade" com referências à atual geopolítica mundial. Assim pode ser descrita a "Paixão de Cristo do Recife: Jesus, a Luz do Mundo", que volta a se atualizar em apresentações no Marco Zero da capital nos dias 29, 30 e 31 de março, sempre às 18h.

Com 50 atores e 80 figurantes, a 26ª edição do espetáculo reafirma seu compromisso com temas atuais e urgentes, que atravessam e desafiam a humanidade a rever preconceitos e valores.

Pelo segundo ano consecutivo, por exemplo, atores negros encarnam os papéis de Jesus e Maria. Os personagens serão vividos por Asaías Rodrigues (Zaza) e Brenda Lígia, que estavam juntos na 25ª edição. Com realização da Associação dos Produtores de Artes Cênicas de Pernambuco (Apacepe), o roteiro e a direção são de Carlos Carvalho.

"Trata-se de um espetáculo que oferece a palavra de Jesus falada na língua de hoje, retratando um Jesus que está ao lado do povo trabalhador das periferias do agora", diz Carlos Carvalho.

Cenografia moderna e não-realista

TFN/DIVULGAÇÃO
Paixão de Cristo do Recife chega à sua 26ª edição no Marco Zero - TFN/DIVULGAÇÃO

A abordagem sobre o contemporâneo também está cenografia. Com uma hora e quarenta minutos de duração, a montagem aposta em cenários modernos e não realistas, com alicerces à mostra, feitos com estruturas metálicas de até cinco metros de altura. E em figurinos repletos de referências contemporâneas, como o uso de jeans, e também de surpresas e novidades.

"Na cena do batismo, o figurino será um dos protagonistas. As vestimentas dos batizados mudarão de cor, para reforçar a mensagem de Jesus colorindo o mundo."

Atriz de Madalena é uma das novidades

Uma novidade deste ano é que a personagem Madalena será defendida pela pernambucana Claus Barros, que já participou de várias edições do espetáculo, dando vida a diferentes papeis.

"Está sendo um presente bonito dialogar com essa personagem dentro de uma história que nos ensina tanto. Madalena é a força das mulheres silenciadas nas passagens bíblicas e também ao longo da história da humanidade. Dar voz a ela e representá-la com meu corpo negro é um resgate e um avanço: inaugura um olhar de equidade para lembrar que já fizemos muito, mas ainda há um caminho longo a percorrer", diz Clau, que já dedicou metade de seus 29 anos à carreira de atriz, colecionando papeis e trabalhos no teatro, no cinema e na publicidade.

Maria como 'reparação histórica'

LÍGIA BUARQUE/DIVULGAÇÃO
ARTES CÊNICAS Jesus (Asaías Rodrigues) e Maria (Brenda Lígia) em 'Paixão Paixão de Cristo do Recife: Jesus, a Luz do Mundo' - LÍGIA BUARQUE/DIVULGAÇÃO

Para a atriz Brenda Lígia, o lugar assegurado às mulheres nesta encenação da Paixão de Cristo do Recife é dos mais importantes e eloquentes recados do espetáculo. "O protagonismo assegurado à personagem nesse texto de Carlos Carvalho é, para mim, um esforço de reparação histórica", diz Brenda.

"Não importa quantas vezes eu venha a interpretar esse papel, a emoção não muda. Nem diminui. Ninguém passa impune por essa experiência. Encarnar a mãe de todos nós é uma celebração ao sagrado. Nessa Paixão, eu represento também – e talvez principalmente – todas as mães que choram seus filhos mortos nas ruas do Brasil, quase sempre pretas. Para mim e para todos que compõem o elenco, é mais que um trabalho. É um chamado. Não estamos só contando: estamos fazendo história", diz Brenda, atriz que já atuou em séries de TV como "Assédio" e "Sob Pressão".

Jesus

No papel de Jesus, o ator Asaías Rodrigues ressalta a incorporação de incorporando novas camadas de emoção e sentido. "É sempre novo e muito forte vestir esse personagem, que deixou para a humanidade recados tão importantes sobre amor, respeito, fé e esperança, mas que até hoje não demos conta de compreender", diz o ator,  fundador da companhia Coletivo Grão Comum.

"Foi esse sentimento avassalador de afeto, justiça e compaixão que mudou o rumo que a humanidade estava levando. Esse espetáculo é como repetir um ritual cíclico desses ensinamentos deixados por Cristo. É um relembrar."

Elenco

A história da Paixão será contada por outras outras vozes e rostos da cena teatral local, como Albemar Araújo, no papel de Herodes; Douglas Duan, como Caifás; Flávio Renovatto, como João Batista; Júnior Aguiar, no papel de Judas; além de Normando Roberto e Carlos Lira, que viverão Pilatos e Anás. Também subirão ao palco da Paixão recifense alunos de cursos de teatro da cidade e 20 bailarinos do grupo Bacnaré. O elenco começou a ensaiar a peça no último mês de janeiro. E gravou áudios e diálogos da encenação no estúdio Muzak.

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