Arte Popular

Exposição marca lançamento de livros sobre cinco artistas populares de Pernambuco

A coletânea digital Várias Mãos, Uma Cultura – Retratos da Arte Popular Pernambucana será lançada na quinta-feira (11), junto com exposição no Shopping Recife

Imagem do autor
Cadastrado por

JC

Publicado em 08/04/2024 às 19:01
Notícia
X

Na quinta-feira (11), o público vai conhecer os resultados do projeto Várias Mãos, uma Cultura: Retratos da Arte Popular Pernambucana. Com a abertura de uma exposição no Shopping Recife, o público poderá acessar, gratuitamente, o conteúdo de cinco livros sobre os artistas abordados nesta primeira fase do projeto, em formato de fascículos digitais.

Nesta primeira edição, a coleção apresenta as histórias de vida e de trabalho de cinco mestres e mestras: Nicola, J. Borges, Cida Lima, Marcos de Sertânia e Maria da Cruz. Originários de diferentes cidades, seus trabalhos ecoam em cada região de Pernambuco.

“O formato de livros digitais, neste momento, foi pensado para aumentar a possibilidade de acesso aos resultados de nosso projeto. Cada página destes livros é um convite para explorar as memórias, os sentimentos e as inspirações que contemplam não apenas as obras desses artesãos, mas também suas vidas”, diz a curadora e pesquisadora Marly Queiroz, idealizadora e produtora do projeto.

“Alguns exemplares, em formato de caixa com os cinco volumes, serão produzidos em formato físico e entregues gratuitamente aos artistas e pessoas ligadas diretamente à cadeia de produção da arte popular pernambucana. São livros que trazem desde as lembranças da infância até os desafios e conquistas enfrentados ao longo do caminho. Cada história é um testemunho da força transformadora da arte e da cultura. Com a exposição, o público poderá ver de perto o universo artístico retratado nos livros, ter contato direto com esse universo precioso que trazemos nos livros”.

Incentivado pelo Funcultura e idealizado por Marly Queiroz, os livros têm pesquisa e textos de Bruno Albertim, autor de, entre outros, Pernambuco Modernista (Cepe Editora, 2022) e fotografia de Isabela Cunha. A produção executiva é de Camila Bandeira e Júlia Almeida, da Proa Cultural. O design gráfico é da Zoludesign.

O autor Bruno Albertim ressalta a dimensão identitária da produção desses artistas. “Importante perceber que cada um desses artistas apresentados não é apenas exemplar nas linguagens em que atuam, seja o barro ou a madeira, ocupando, verdadeiramente, o lugar de mestres, ou seja, capazes de transmitir seus legados e influenciar novas gerações de artistas. Mas são, também, com seus trabalhos artísticos, criadores de um todo simbólico muito poderoso e capaz de alimentar as noções de identidade em Pernambuco”, observa.

Isabela Cunha/Divulgação
Equipe do livro Várias Mãos, Uma Cultura – Retratos da Arte Popular Pernambucana, com a mestra Cida, de Belo Jardim - Isabela Cunha/Divulgação

Para capturar todo material de pesquisa, a equipe embarcou em uma viagem de carro desde Recife até Petrolina por vários dias. Marly Queiroz, ao lado de Camila Bandeira, Bruno Albertim e Isabela Cunha. Juntos, entrevistaram artesãos e familiares, mergulharam nos espaços de trabalho e nas cidades que criaram esses talentos, buscando cada detalhe para construir a pesquisa.

CRIATIVIDADE E RESISTÊNCIA

“Quem vive essas experiências se encanta com o assunto, e foi pensando em compartilhar essas descobertas que surgiu a ideia do projeto Várias mãos uma cultura: retratos da arte popular pernambucana. Os livros aqui lançados e que dão origem a esta exposição foram criados em um ambiente de afeto e de respeito. Transbordam emoção pelas experiências que vivenciamos. Fomos acolhidos pelos artesãos e envolvidos pelo seu carinho e amor”.

Mais do que um registro histórico, "Várias mãos, uma cultura" é um tributo à resiliência, à criatividade e à humanidade que transmite em cada peça desses mestres e mestras. “É um lembrete de que a arte não só preserva tradições, mas também inspira comunidades e enriquecendo vidas”, diz Marly Queiroz.

Para ter acesso aos livros, o público poderá baixar seus conteúdos através de QR Codes no ambiente expográfico 

SERVIÇO DE LANÇAMENTO

FICHA TÉCNICA

Idealização e curadoria: Marly Queiroz
Produção executiva: Camila Bandeira e Júlia Almeida (Proa Cultural)
Textos: Bruno Albertim
Audiodescrição: Liliana Tavares (Com Acessibilidade)
Fotografia: Isabela Cunha
Projeto gráfico: Luciana Calheiros e Aurélio Velho (Zoludesign)
Tratamento de imagem: Aurélio Velho (Zoludesign)

CONHEÇA OS ARTISTAS

Isabela Cunha/Divulgação
Maior mestre vivo da xilografia no Brasil, J. Borges retrata a vida rurtal nordestina em sua obra - Isabela Cunha/Divulgação

J.BORGES

Nascido em Bezerros em 1935, J.Borges, por exemplo, é o maior nome vivo da xilografia no Brasil. Aprendeu a arte do cordel e da xilografia ainda na infância. A potência de suas gravuras retrata a intensidade da vida rural nordestina no século 20, através de fatos históricos, mitos e cotidiano. O artista conta com inúmeros reconhecimentos e premiações ao longo da carreira.

Foi agraciado com o Prêmio UNESCO de Artesanato em 1986 com o título de Mestre da Cultura Popular pela Fundação Nacional de Arte (FUNARTE) em 1992. Borges tem trabalhos seus em coleções como a da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, em Washington, e ilustrou livros de autores como Eduardo Galeano e o Nobel José Saramago.

Isabela Cunha/Divulgação
As cabeças de barro de mestra Cida são conhecidas em todo o País - Isabela Cunha/Divulgação

CIDA LIMA

Com cerca de 50 anos, nascida em Belo Jardim, Cida Lima, ao lado de outras mestras de sua vizinhança, levou o nome do Sítio Rodrigues de sua infância ao status de centro de referência nacional da arte figurativa do barro. À imagem de tradicionais ex-votos, suas cabeças de barro de tamanhos variados são comercializadas e parte de coleções em todo País.

Isabela Cunha/Divulgação
Com ateliê em Jaboatão dos Guararapes, mestre Nicola faz uma recriação do Barroco, com peças sacras em madeira e outro materiais - Isabela Cunha/Divulgação

NICOLA

Nascido em 1959 em Quipapá, mas radicado na Região Metropolitana do Recife, onde mantém um ateliê em Barra de Jangada, Jaboatão dos Guararapes, Nicola é um artista autodidata de grande técnica e apuro estético sobre materiais distintos como pedra calcária, o granito, a pedra sabão, o concreto e até marfim. Mas é seu trabalho de recriação do barroco em imagens sacras na madeira que faz de seu nome um dos mais respeitados da arte santeira no País.

“Como não tive mestres, os trabalhos foram fluindo naturalmente, à base de pesquisas, idas à igrejas e museus onde observava os movimentos dos mantos, as expressões dos rostos. Voltava para casa e tentava aplicar na madeira tudo que captava”, recorda.

Isabel Cunha/Divulgação
A cadela Baleia do livro Vidas Secas, de Graciliano, é a peça mais consagrada de Marcos de Sertânia - Isabel Cunha/Divulgação

MARCOS DE SERTÂNIA

Conhecido como Marcos de Sertânia, Marcos Paulo Lau da Costa é um dos mais expressivos escultores do Sertão de Pernambuco. Como cronista da madeira, Marcos de Sertânia ficou célebre com suas figuras alongadas e corpos que retratam os flagelos históricos da seca. A escultura da cadela Baleia, em alusão à icônica personagem de Graciliano Ramos, é sua criação mais consagrada.

Isabela Cunha/Divulgação
Filha de Ana das Carrancas, Maria Cruz preserva a memória da obra da matriarca, ampliando no barro a tradição das carrancas de "olhos cegos" na cerâmica - Isabela Cunha/Divulgação

MARIA DA CRUZ

Filha da lendária Ana das Carrancas, Maria da Cruz, ou simplesmente, Maria de Ana atualiza e mantém, em Petrolina, o legado da mãe. Além de manter o centro cultural de preservação de obra e memória da matriarca, amplia no barro a tradição das carrancas de “olhos cegos” na cerâmica.

Tags

Autor