ENTREVISTA

Cine PE de 2024 já sente retomada da política pública cultural, afirma diretor Alfredo Bertini

Em entrevista ao JC, codiretor do Festival do Audiovisual comenta que política do governo Bolsonaro 'foi cruel' para o setor: 'Não apenas para nós, mas para todos'

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Emannuel Bento

Publicado em 05/06/2024 às 13:11 | Atualizado em 05/06/2024 às 18:29
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"Começamos um processo de recuperação no ano passado e acho que ele se consolida neste ano, porque a política pública foi retomada". A frase é de Alfredo Bertini, idealizador e codiretor do Cine PE - Festival do Audiovisual, evento que chega à sua 28ª edição no Cineteatro do Parque, com mostras realizadas de 6 a 11 de junho.

A noite de abertura contará com um concerto sinfônico da Orquestra Bravo, trazendo releituras de trilhas sonoras famosas da sétima arte mundial, sob a batuta do maestro Dierson Torres. Já o longa-metragem de estreia será "Grande Sertão" (SP), de Guel Arraes - uma adaptação do clássico "Grande Sertão: Veredas", de João Guimarães Rosa.

Em visita ao JC, Bertini comentou sobre detalhes da edição, que teve um recorde de inscritos nas mostras competitivas: 982 produções submetidas.

Entrevista - Alfredo Bertini

Poderia falar sobre o tema da edição, "Ver, Ouvir, Sentir"?
O tema tem muito a ver com a questão da acessibilidade, além de ser uma homenagem que fazemos ao som. No filme da abertura, "Grande Sertão", os PCDs poderão assistir com a ajuda de aplicativos que podem ser baixados previamente. Teremos uma estrutura de internet muito boa e eles terão acesso premium ao filme. Esse é um fato muito relevante, dentro de um conceito que o Cine PE traz há muito tempo. Fomos um dos primeiros festivais a sempre trabalhar com legendagem e libras para essas situações. É mais do que um compromisso, é uma obrigação a gente está muito atento.

A edição também marca uma aproximação com a música, incluindo um concerto na abertura e homenagem à Tânia Alves, que é atriz e cantora.
Tânia é uma atriz premiadíssima, inclusive com prêmios internacionais no Festival de Havana, de Cartagena. Ela fez 50 anos de carreira como atriz, cantora e compositora bailarina. A gente tá também concentrando toda uma uma referência à questão da trilha sonora, particularmente da trilha musical. Por essa razão, nós decidimos fazer um concerto que servirá de homenagem: escolhemos 10 músicas que integraram alguns filmes que nos fazem lembrar dessa sincronia da música com cinema. Eu quero que todos os trilheiros se sintam homenageados porque são muito relevantes.

A pandemia foi difícil para o audiovisual. O festival já se recuperou do período? A política pública melhorou?
O ano de 2021 foi extremamente difícil, ainda tinha pandemia. Tivemos uma limitação de 300 pessoas na sala de eventos. Em 2022, ainda foi muito complicado porque a gente fez o evento de dezembro. De certa maneira, a política do governo federal foi cruel. Foi muito difícil não apenas para nós, mas para todos. Então, começamos um processo de recuperação no ano passado e acho que ele se consolida esse ano, porque a política pública foi retomada. A gente ainda não está 100% inserido, mas foi muito melhor do que nos anos anteriores do ponto de vista de captação de Lei Rouanet. Houve uma reação de patrocinadores, independente da questão de editais. Se formos contemplados por algum edital, será para realização em 2025. Também tivemos o Governo do Estado e as prefeituras do Recife e a de Jaboatão.

A edição teve um recorde de inscritos. Ao que você atribui isso?
Temos muita coisa da Lei Paulo Gustavo. Tivemos muitas inscrições de filmes do interior, que não tínhamos antes. É impressionante a quantidade, pois houve uma descentralização por conta dessa política pública. Acho que isso é bacana. Por isso, criamos mais um dia para a mostra Inquietações, realizada no cinema do Porto Digital. Acho que é uma oportunidade que se dá àqueles filmes que não entraram na grade principal e tem boas referências na curadoria.

O longa-metragem de abertura, "Grande Sertão", de Guel Arraes, está sendo muito aguardado. Como é abrir o festival com ele?
O filme é uma revisão urbana da obra do Guimarães Rosa, trazendo, por exemplo, a questão do tráfico de drogas. O filme é muito forte, muito pesado. Foi uma coisa da cabeça de Jorge Furtado, o roteirista, tentar entender como o livro é possível, dentro do que acontece hoje na vida urbana. Foi um desafio e eles conseguiram cumprir os propósitos. O Rio de Janeiro tem o universo dos morros, mas essa questão estende-se para as várias periferias urbanas. É sobre o Rio, sobre São Paulo, sobre Recife. O filme é cercado de expectativa, pois foi o maior investimento do cinema brasileiro, com R$ 22 milhões. Nas primeiras cenas, já se pode ver o peso da produção.

Consegue destacar mais filmes da edição?
Também temos a Helena Ranaldi com o filme dela, o "Cordel do Amor Sem Fim" (SP), de Daniel Alvim, com a presença dela, que é produtora e atriz. O Dan Stulbach está vindo com o curta "Jogo de Classe", do Quico Meirelles, filho do Fernando Meirelles. Existe uma expectativa muito grande desse garoto, e já ouvi opiniões como: 'O pai que se cuide, que o menino é bom demais’. Também tem o filme "Memórias de um Esclerosado", de Thaís Fernandes e Rafael Corrêa, e "Invisível", de Carolina Vilela e Rodrigo Hinrichsen, que tem parentes da comunidade alemã daqui de Pernambuco. O filme está inscrito pelo Rio de Janeiro, mas também tem um traço pernambucano. Conheço o pai dele e os tios todos são aqui do Recife, inclusive vão para o cinema ver a estreia. Acho que esse é, mais ou menos, um apanhado.

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