Centenário de Abelardo da Hora: Família ainda quer memorial em Pernambuco

Após doação de acervo para a Paraíba na década de 2010, familiares apresentaram proposta de exposição permanente para o Governo do Estado

Publicado em 30/07/2024 às 17:45 | Atualizado em 31/07/2024 às 17:22

Há 100 anos, nascia uma das figuras mais importantes das artes plásticas em Pernambuco. Abelardo da Hora (1924 - 2014) está eternizado na paisagem do Recife com diversas esculturas de sua autoria espalhadas por espaços públicos, com estilo inconfundível, além de atuação importante na cultura popular e no engajamento político.

Contudo, o grande sonho do artista em vida ainda não foi consolidado: uma exposição que reunisse a sua obra em um modelo permanente e gratuito em Pernambuco.

Após a sua morte, em 2014, familiares tentaram uma parceria com doação para a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) durante a primeira gestão de Paulo Câmara (PSB), mas sem sucesso. Sendo assim, grande parte do acervo foi doado para o Governo da Paraíba, que atualmente administra o Memorial Abelardo da Hora em João Pessoa.

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Esculturas de Abelardo da Hora integram a exposição "Hora, Substantivo Feminino" - DIVULGAÇÃO
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Esculturas de Abelardo da Hora integram a exposição "Hora, Substantivo Feminino" - DIVULGAÇÃO

"Na época, ocorreu uma dificuldade do Governo do Estado em disponibilizar um espaço que pudesse receber todo esse acervo imediatamente para exposição permanente. Até houve uma proposta em receber a doação, mas sem sabermos exatamente como seria a gestão desse acervo. Grandes acervos já foram doados e hoje estão deteriorando porque não se deram destinos viáveis”, diz Ana da Hora, neta que está à frente da comemoração do centenário.

“No modelo da doação para a Paraíba, ainda temos à nossa disposição todas as obras. Temos acesso total para retirar, repor ou substituir uma obra quando necessário.”

Família não desistiu

O episódio da doação do acervo de Abelardo da Hora para a Paraíba foi um exemplo de inoperância do poder público no sentido de manter patrimônios pernambucanos na terra.

Na década de 1970, a coleção de arte sacra de Abelardo Rodrigues foi comprada pelo Governo da Bahia. Só então Pernambuco tentou recuperar, mas já era tarde demais. Outro exemplo é a coleção de arte sacra de Zé Santeiro, nas Graças, que nunca ganhou um destino digno.

GOVERNO DA PARAÍBA
João Azevêdo inaugura Memorial Abelardo da Hora na Paraíba, em 2022 - GOVERNO DA PARAÍBA

Apesar disso tudo, os familiares, que comandam o Instituto Abelardo da Hora, localizado na Boa Vista, Centro do Recife, ainda desejam um memorial em Pernambuco. Uma proposta foi apresentada do Governo do Estado, já na gestão de Raquel Lyra (PSDB).

"Apresentamos essa proposta para que eles possam adquirir o acervo para uma exposição permanente em um equipamento cultural. Dessa vez, não seria uma doação, mas uma seleção de peças que seriam compradas para a exposição", diz Ana da Hora.

'Desejo dele era um acervo em Pernambuco'

Mas como seria possível montar uma exposição permanente em Pernambuco, se boa parte do acervo está na Paraíba? "A obra de um artista pode ser reproduzida. A Convenção de Genebra diz que podem existir até nove réplicas como obras originais e autenticadas. A exposição é totalmente viável pela capacidade de reprodução, inclusive em outro material, como o bronze. O concreto não tem a durabilidade do bronze. Ele sempre teve o sonho de fazer todo o acervo com esse metal”, diz a neta.

"O desejo dele era que o acervo ficasse em Pernambuco, porque foi aqui que ele construiu a sua história. É um Estado com mais visitação em termos de turismo, de eventos, mas a Paraíba recebeu com total responsabilidade e o comprometimento que o acervo merece. O nosso desejo, contudo, é que aqui ainda possa existir uma exposição.”

Centenário

Dayvison Nunes/JC Imagem
Exposição Abelardo da Hora 90 anos: Vida e Arte está aberta ao público na Caixa Cultural - Dayvison Nunes/JC Imagem
Sérgio Bernardo/JC Imagem
Esculturas, desenhos, pinturas e maquete de uma obra pública destruída durante a ditadura são apresentados na mostra Abelardo da Hora 90 anos: Vida e Arte - Sérgio Bernardo/JC Imagem
Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem
Pintor, escultor, desenhista e gravador, Abelardo da Hora deixa com sua obra exemplo de talento, dedicação e indignação - Foto: Hélia Scheppa/JC Imagem
Abelardo da Hora esculpiu várias obras espalhadas pelo Recife. O nu feminino é uma de suas marcas Fotos: Helia Scheppa/JC Imagem
Abelardo da Hora esculpiu várias obras espalhadas pelo Recife. O nu feminino é uma de suas marcas Fotos: Helia Scheppa/JC Imagem - Abelardo da Hora esculpiu várias obras espalhadas pelo Recife. O nu feminino é uma de suas marcas Fotos: Helia Scheppa/JC Imagem
Abelardo da Hora Foto: Dayvison Nunes
Abelardo da Hora Foto: Dayvison Nunes - Abelardo da Hora Foto: Dayvison Nunes

No Recife, o centenário de Abelardo da Hora contou com homenagem na 3ª Feira de Arte Contemporânea de Pernambuco - ART-PE, realizada no Terminal Marítimo. O evento desenvolveu um projeto no bairro da Várzea, Zona Oeste, no Quintal da Iron House, empresa do Grupo Cornélio Brennand.

Inicialmente, exposição "Hora, substantivo feminino" trouxe seis esculturas e, depois, recebeu mais de 20 outras que estavam na ART.PE e seguiram para o espaço na Várzea. Essas esculturas estavam expostas na cidade de João Pessoa e foram trazidas ao Recife especialmente para a mostra.

Abelardo também foi homenageado no Espetáculo Pernambuco Meu País, que integra o festival de mesmo nome do Governo de Pernambuco em oito municípios. Uma apresentação inédita une música e dança numa homenagem à trajetória artística construída pelo pernambucano.

E nesta quarta-feira (31), às 18h, a Galeria Terra Brasilis inaugura a exposição "Abelardo da Hora: 100 anos", com obras que abrangem diferentes etapas de sua carreira.

"Também estamos planejando uma exposição em Pernambuco no começo de 2025. Todo o acervo irá voltar para essa grande exposição. Ainda não fechamos o local, mas tudo indica que será no Mercado Eufrásio Barbosa. Também estamos reorganizando a casa-museu dele, na Rua do Sossego, que é onde estão todas as formas de peças que são usadas para reproduções”, finaliza Ana.

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