Aos 18 anos, Orquestra Criança Cidadã segue transformando vidas e agora clama pela paz no mundo
Projeto celebra maioridade trazendo ao Recife uma nova edição do Concerto pela Paz apresentado ao Papa Francisco na Itália, em 2023

As recifenses Jéssica do Monte, 18, e Jammily Pâmella, 19, possuem muito em comum. Os pais de ambas são apaixonados por música e chegaram a ter contato com a arte durante a juventude, mas não conseguiram continuar na área pela falta de oportunidades. Ambas foram matriculadas na Orquestra Criança Cidadã (OCC) e hoje cursam o bacharelado em Música na Universidade Federal de Pernambuco.
"Meu pai sempre tocou violão, mas não teve oportunidade para continuar. Então, ele se inspirou em mim. Aos 9 anos, fiz um teste para a Orquestra e acabei ficando na lista de espera, mas consegui ingressar e sigo até hoje", diz Jammilly, moradora do bairro de São José, no Centro do Recife.



"No início, eu não gostava tanto, porque achava o som do violino muito agudo. Com o passar dos anos, comecei a me apegar e hoje tenho um apego muito grande. Não troco a música por nada."
Jéssica do Monte, por sua vez, sempre esteve ligada à música através do coral de sua igreja. "O meu pai sempre gostou muito de cantar. Comecei a me interessar por violino por conta de uma vizinha que tinha um instrumento. Isso me despertou a curiosidade. Aos 8 anos, comecei a estudar na OCC após meu pai me inscrever. Era o sonho dele e o meu também."
Tocando para o Papa
Na OCC, Jamilly e Jéssica tornaram-se melhores amigas e acabaram tornando-se as influenciadoras oficiais da instituição nas redes sociais. "Começamos brincando, pois sempre gostei de gravar o dia a dia da orquestra, então acabaram me chamando", explica Jéssica.
Ambas também viveram juntas em um único momento: tocaram para o Papa Francisco em novembro do ano passado, quando a Orquestra levou o projeto "Concertos pela Paz" até o Vaticano, na Itália.


Na ocasião, os integrantes da OCC tocaram junto a músicos russos, ucranianos e italianos (os anfitriões). O momento teve registros audiovisuais irá ganhar um documentário dirigido pelo jornalista pernambucano Cleodon Coelho.
“Foi uma experiência única ter a oportunidade de sair do País tão nova. Fiquei muito feliz com a presença do Papa. Eu nunca imaginei que isso fosse ocorrer. Não podíamos chegar tão perto dele, nem ele da gente, mas ele acenou. Queria poder conversar, mas não podia", diz Jammily.
“Eu diria que o título de ‘cidadão’ da OCC é real. A gente entra muito pequeno, mas a orquestra transforma a sua vida. Eu me transformei em uma cidadã”, reforça.
Concerto pela Paz chega do Recife
Uma reedição do concerto apresentado ao Papa, em novembro, chegará ao Recife na próxima terça-feira (10), às 19h30, no Teatro de Santa Isabel, no Centro. A mensagem é de união contra as guerras através da linguagem universal da música.
Por isso, os violinistas Oleksandra Zharko e Oleksandr Puzankov, da Ucrânia, e Zlata Synkova e Nikita Shkuratov, da Rússia, se juntarão a 11 integrantes da Orquestra Criança Cidadã. Em seguida, sobem ao palco os 74 membros da Orquestra Sinfônica Jovem Criança Cidadã, o principal grupo representativo do projeto. A regência será do maestro José Renato Accioly.
"Os concertos pela Paz surgiram a partir da consciência que eu tenho, a certeza, de que na arte não há guerra. Resolvi convidar músicos russos e ucranianos, povos de países que estão em guerra, para mostrar que eles produzem arte no palco", diz João Targino, idealizador e coordenador geral da OCC.
"Durante a viagem, eles tomaram café juntos, na mesma mesa, conviveram e conversaram muito. Aqui no Recife, está ocorrendo o mesmo. Isso mostra que a guerra é feita pelos velho que se conhecem e se odeiam para que jovens que não se conhecessem e não se odeiam venham a morrer", diz.
Legado
Surgido em 2006 no Coque, bairro com indicadores socioeconômicos abaixo dos patamares recomendados, se expandiu para Ipojuca e Igarassu, cidades da Região Metropolitana do Recife, e tem 420 alunos matriculados no momento nas três unidades.
O projeto já beneficiou, nos 18 anos de existência, mais de 700 crianças e adolescentes de 7 a 21 anos com aulas de instrumentos de cordas, percussão, sopro, teoria musical, assistência médica, psicológica, pedagógica e odontológica, aulas de idiomas, refeições diárias e orientação para ingresso no mercado de trabalho através do ensino de construção e manutenção de violinos, violoncelos e outras peças musicais.
Targino resume a OCC com uma palavra: "oportunidade". "O objetivo é formar-se como cidadão e, em seguida, na musicalidade. Todos que passaram por aqui, posso assegurar, formaram-se cidadãos e quase todos profissionais da música. Também estão em outras áreas, como direito, fisioterapia e arquitetura."