Recife recebe a primeira exposição póstuma de Nelson Leirner, pioneiro da arte intermídia

Mostra "Parque de Diversões", com curadoria de Agnaldo Farias, reúne 74 obras do artista falecido em 2020; visitação ocorre cartaz até 10 de novembro

Publicado em 11/09/2024 às 15:02 | Atualizado em 11/09/2024 às 15:57

Recife recebe a primeira exposição com obras do artista Nelson Leirner, um pioneiro da arte intermídia, após seu falecimento, em 2020. A mostra "Nelson Leirner: Parque de Diversões" fica em cartaz na Caixa Cultura de 12 de setembro até 10 de novembro, com 74 trabalhos do artista, entre objetos, pinturas, colagens e outros, com curadoria de Agnaldo Farias.

Também foram selecionadas fotografias, estatuetas, imagens miniaturas, obras em tapeçaria, técnicas mistas, colagens, releituras da Mona Lisa e objetos onde a ironia dá o tom e que fazem um passeio pelo "parque de diversões" que era a mente de Leirner - ele gostava bastante de usar os brinquedos como alegorias para críticas ao mundo adulto.

"Nos últimos 30 anos, ele se interessou por objetos ligados não apenas à religião, mas também ao universo das crianças. Ele trabalha muito com bonecos, brinquedos, animais de plástico, aviõezinhos... Ele se alinhava com a ideia de que, através dos brinquedos, pode-se elogiá-los ou criticar o modo de operação do mundo adulto", diz o curador.

PEDRO TRESSI/DIVULGAÇÃO
Nelson leirner - America, America - 2005 - PEDRO TRESSI/DIVULGAÇÃO
PEDRO TRESSI/DIVULGAÇÃO
Nelson Leirner - Futebol (coleção Maria Geyer), de 2014 - PEDRO TRESSI/DIVULGAÇÃO

A abertura contará com terá visita guiada com o curador, às 20h. No dia 13 de setembro, às 16h, Agnaldo Farias também realiza palestra aberta ao público. E no dia 10 de novembro, às 16h, será realizada outra visita guiada, desta vez com Júlia Borges Arana, produtora executiva da Phi, correalizadora da mostra.

Produção dos últimos 20 anos

Nascido em São Paulo em 1932, foi um pioneiro da arte intermídia e uma figura central na vanguarda brasileira. Após estudar engenharia têxtil e pintura, na década de 1950, se destacou por suas apropriações e performances inovadoras, como a "Exposição-Não-Exposição" e o envio de um porco empalhado ao Salão de Arte Moderna de Brasília.

O resultado dessa base é a construção de uma história versátil e bem-humorada que estará em evidência nos trabalhos produzidos nos últimos 20 anos da vida de Leirner reunidos nessa exposição.

GIOVANNA LANNA
Nelson Leirner - Eu e Velázquez - 180x215cm - Técnica mista - 2014 - Ed. única - GIOVANNA LANNA
PEDRO TRESSI/DIVULGAÇÃO
Obra "Pollock Cow" do artista Nelson Leirner - PEDRO TRESSI/DIVULGAÇÃO

"Quanto mais você amplia o arco, mais abrangente é a abordagem. Com isso, a exposição fica mais cara e mais difícil de ser realizada, porque você precisa localizar os trabalhos. Como você bem sabe, as instituições museológicas não adquirem muitas obras No geral, essas obras estão nas mãos de particulares. Esses particulares se identificam como possuidores de obras, então houve um trabalho de garimpagem que já existe há muito tempo. Isso exige tempo, dinheiro, seguros, e, quanto mais antiga a obra, mais cara ela é. Você precisa persuadir o dono, o que não é fácil", explica Farias.

Destaques

No desenho curatorial não faltam referências históricas de Leirner com exemplares de séries e ações importantes realizadas nas décadas de 1960 e 1970.

Algumas obras da série "Assim é… se lhe parece", por exemplo, trazem colagens que misturam o universo da Disney com mapas e mundos. Outras obras como "Missa móvel dupla" e "Futebol" são pontos de destaque para que o público observe como o artista respeita o poder dos fetiches religiosos.

"Alguns elementos são muito característicos e essas obras não negam que ele sempre foi muito crítico, agudo, e, até, bastante sarcástico. Em relação ao mundo em que vivemos, elas tocam em temas como os fundamentalismos religiosos e o estado de milícia que o mundo vive. São lutas e guerras por todos os lados", diz o curador.

"Outro ponto, relacionado a esse assunto, é que a própria arte não escapa disso. A arte serve à instituição, ela é um esforço em nome da liberdade, mas também tem um pé no comércio. Ele critica isso de várias maneiras, não apenas denunciando explicitamente, mas também de forma sutil", diz o curador.

"Logo na entrada da exposição, há uma reprodução das famosas 'As Meninas', de Velázquez, e 'Mona Lisa' de Da Vinci. Nesses trabalhos, ele brinca, faz releituras jocosas e bem-humoradas. Nelson era muito bem-humorado, o que não significa que não fosse sério. Ele também não escapa de uma risada irônica e divertida em nenhum dos aspectos."

SERVIÇO
"Nelson Leirner: Parque de Diversões"
Onde: CAIXA Cultural Recife (Av. Alfredo Lisboa, 505, Bairro do Recife)
Quando: Dia 12 de setembro (quinta-feira), às 19h
Datas: De 13 de setembro a 10 de novembro de 2024, de terça a sábado, das 10h às 20h, e domingos das 10h às 18h

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