Dia Nacional do Frevo: Orquestra composta exclusivamente por mulheres faz contraponto ao universo masculino do ritmo

Orquestra Frevo Mulher CPM é uma iniciativa do Conservatório Pernambuco de Música: 'Demarcação de um espaço ainda muito ligado ao mundo masculino'

Publicado em 13/09/2024 às 15:20 | Atualizado em 13/09/2024 às 16:31

O lugar da mulher no frevo foi apagado em diversos detalhes ao longo da história. Não exatamente por uma problemática específica deste ritmo, mas por uma realidade geral do universo da música instrumental. Por isso, uma iniciativa do Conservatório Pernambuco de Música, instituição fundada em 1928, tem chamado atenção: uma orquestra de frevo composta exclusivamente por mulheres.

A Orquestra Frevo Mulher CPM foi criada em maio deste ano e teve a sua estreia na última terça-feira (10), na semana do Dia Nacional do Frevo, comemorado neste sábado (14).

"Existe um valor muito importante, que é uma demarcação de um espaço que é muito ligado ao mundo masculino e a gente agora mostra que as mulheres também podem entrar nesse universo", diz Janete Florêncio, idealizadora da orquestra e gerente geral do Conservatório.

'Já fui mal recebida'

O grupo é liderado pela trombonista Luiza Lima, que começou no CPM em 2015. O envolvimento dela com a música remonta aos tempos de escola, quando foi aluna da banda marcial da Escola de Referência em Ensino Médio (Erem) Senador Petrônio Portela, localizada no bairro de Sucupira, em Jaboatão dos Guararapes. 

"Montar uma orquestra feminina e não ter o espaço para ensaios e aulas é complicado. Tem todo um preconceito. Mas o ambiente do CPM é propício e tranquilo para se trabalhar. Traz um melhor entendimento da música que já tem por natureza uma execução difícil", destaca Luiza.

Atualmente, a trombonista também atua profissionalmente em outros grupos, a exemplo da orquestra do Maestro Oséas, uma das mais conhecidas do carnaval de Olinda. "Já fui muito mal recebida em orquestras por ser mulher, e isso me causou muito desconforto. Não quero que as minhas alunas passem por isso."

'Grupo abriu portas'

Já a saxofonista Natália Menezes chegou ao CPM em 2023. Ela passou 11 anos tentando ingressas através dos processos seletivos.

"Meu primeiro contato com o sax foi há 15 anos, quando comecei a ajudar a minha mãe em sua lanchonete. Em uma conversa com um dos clientes, falei sobre minha paixão pela música. Então ele me trouxe um sax para conhecer e tirei o meu primeiro som. Comprei meu primeiro instrumento escondida, com o cartão da minha mãe. Foi uma revolução naquele tempo, mas hoje ela é minha maior incentivadora", relembra Natália, com satisfação.

Sobre sua participação na Orquestra Frevo Mulher, Natália conta que é um espaço especial em sua trajetória. "Me sinto como se estivesse vivendo em um sonho. Não temos muitas oportunidades e sempre fui apaixonada pelo frevo. Esse grupo abriu portas para nós, mostrando que somos capazes", conta a musicista.

Tags

Autor