Morre Santino Cirandeiro, um dos mais antigos mestres da ciranda em Pernambuco, aos 83 anos
Da mesma geração de nomes como Baracho e João Limoeiro, mestre participou de projetos relevantes para ciranda e deixa legado para várias gerações
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Mestre Santino Cirandeiro, um dos mais importantes representantes da ciranda pernambucana, faleceu nesta terça-feira (17), aos 83 anos, vítima de complicações de uma pneumonia. O artista, que estava internado no Hospital Memorial Guararapes, será sepultado às 16h no Cemitério São Sebastião, em Nazaré da Mata, sua cidade natal. Ele deixa duas filhas
Santino Justino de Souza dedicou 67 dos seus 83 anos à ciranda, sendo parte de uma geração de mestres como Mestre Baracho, João Limoeiro e Zé Galdino, que ajudaram a preservar e difundir essa manifestação cultural. Em 2022, ele foi reconhecido pelo Prêmio Ariano Suassuna como um dos mestres da cultura popular pernambucana.
Deu início a sua vida profissional nos engenhos de Nazaré da Mata e adjacências, como trabalhador rural. Foi assim que mergulhou no universo da cultura local, tornando-se um artista popular e um dos mais conhecidos cirandeiros da Mata Norte.
Primeiro álbum
Em 2011, Mestre Santino gravou seu álbum musical, incentivado pelo Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura FUNCULTURA, intitulado "Flor de Laranjeira" com lançamento realizado na Torre Malakoff no Recife.
No ano seguinte, participou do projeto Caravana do Coco e da Ciranda na Europa, incentivado pelo FUNCULTURA, na companhia de mestres de Coco (dança) roda de Olinda como Arnaldo do Coco e Pacheco Cantador, ambos aproveitaram a turnê para lançar internacionalmente seus álbuns Flor de Laranjeira e Mestres das Artimanhas do Mar no Reino Unido, na França e na Itália.
Sérgio Melo, produtor musical que acompanhou Santino por mais de 20 anos, lamentou a perda: "Trabalhamos juntos há mais de 20 anos. Rodamos a Europa e o Brasil levando a ciranda. Há menos de um mês fizemos a culminância do projeto 'Contos e Cantos' [...] Fizemos essa despedida mesmo sem querer e foi emocionante, lá no abrigo Irmã Guerra onde ele estava. Ele levantou-se da cadeira de rodas e cantou. O mestre formou várias gerações e sempre foi e será uma grande referência. Deixa uma lacuna enorme na nossa cultura brasileira".
Mais realizações
No currículo, além de apresentações fora do Brasil, mais três trabalhos gravados. Em 2020, teve sua história e making-off da gravação do CD registrada no documentário "Quem não Conhece Santino… Encontro de Gerações", dirigido por Nilton Pereira.
Em 2023, integrou o projeto Papo de Ciranda, uma proposta de podcast e videocast para conhecer e registrar a biografia de 10 cirandeiros entrevistados por Roger de Renor e Nilton Pereira. Nesse projeto participaram Lia de Itamaracá, Dona Dulce Baracho, Mestre Zeca Cirandeiro de Paudalho, a Ciranda Imperial do Mestre Sérgio Almeida, o Mestre Valter da Ciranda Cobiçada, Dona Del, Mestre Anderson Miguel, Mestra Cristina Andrade da Ciranda Dengosa.
No mesmo ano, ele lançou o seu segundo álbum, "Mestre Santino Cirandeiro e Encontro de Gerações" que realizou uma turnê por Caruaru, no Agreste, e Nazaré da Mata, na Zona da Mata, com encerramento no Pátio de São Pedro, espaço histórico da ciranda no Recife.
Mestre Santino deixa um legado inestimável para a cultura popular pernambucana e para as futuras gerações de cirandeiros.