Matheus Nachtergaele protagoniza série ambientada no Recife: 'Minha primeira casa no campo artístico'
"Chabadabadá", do Canal Brasil, é baseada nas crônicas de livro de Xico Sá; 'A série é um verdadeiro retrato de Recife', diz Nachtergaele
O Recife é o cenário para as histórias de amor e desamor do jornalista e cronista Quincas, vivido por Matheus Nachtergaele, na série "Chabadabadá". O projeto estreia no Canal Brasil nesta sexta-feira (27), às 21h, em formato de maratona com seis episódios em sequência, após uma pré-estreia no Cineteatro do Parque, na capital pernambucana.
A história é baseada em crônicas do livro homônimo do jornalista e escritor cearense Xico Sá, que viveu na cidade como jornalista de veículos locais.
Quincas é um homem de meia idade que divide seu tempo entre o trabalho, os amigos e termina todas as noites no bar. Após ser deixado pela mulher, conhece Joana (Hermila Guedes), mas tem dificuldade de se permitir e encarar suas emoções. "Quincas representa uma geração de jornalistas, cronistas, escritores, músicos e cineastas pernambucanos", diz Nachtergaele, ao JC.
Em um processo de mudanças e descobertas, o protagonista esbarra em histórias que despertam reflexões sobre a complexidade dos relacionamentos no mundo contemporâneo e forçam o personagem a rever a sua masculinidade.
O elenco ainda conta com Aura do Nascimento, Mário Sérgio Cabral, Maycon Douglas e Mohana Uchôa. Todos os episódios estarão disponíveis no Globoplay+Canais a partir da data da estreia.
Entrevista - Matheus Nachtergaele
Como foi dar vida ao personagem Quincas, idealizado por Xico Sá, para essa série?
Gosto muito de conviver com pessoas inteligentes, divertidas e consequentes, e o Xico Sá é uma delas. Sou amigo dele há muito tempo. Fui apresentado a ele pelo pessoal do cinema pernambucano — Cláudio Assis, Lírio Ferreira, Paulo Caldas — e acabamos ficando amigos há alguns anos.
Junto com Cláudio Assis, trabalhamos em um projeto inspirado no livro do Xico Sá, "Big Jato", que conta a história do menino Xico em uma cidade do sertão pernambucano. O filme termina com ele indo para Recife. Meu personagem, Quincas, era uma espécie de alter ego do Xico Sá — o Xico do Big Jato, agora adulto, na meia-idade, tendo que aprender a amar novamente.
Ele precisa superar toda a formação afetiva que teve no Brasil profundo, marcado pelo machismo enraizado, e, como homem inteligente, cronista e jornalista, aprender a ser um verdadeiro companheiro para as mulheres que ele ama. Essa é uma série filosófica e divertida, sobre o reaprendizado do amor, motivado pela linda mudança dos tempos que estamos vivendo.
A série se passa no Recife. De que forma você acha que a cidade impactou a criação desse personagem?
A série é um verdadeiro retrato de Recife, com personagens que são típicos da cidade. Quincas, por exemplo, representa uma geração de jornalistas, cronistas, escritores, músicos e cineastas pernambucanos.
Para mim, Quincas é, em grande parte, Xico Sá, mas também carrega um pouco de Cláudio Assis, Lírio Ferreira, e outros nomes da cena cultural do estado. Ele tem a inteligência e a doçura de figuras como Hilton Lacerda, mas também a safadeza dos homens pernambucanos. Ele ama as mulheres, talvez de uma maneira errada, mas ainda assim, ama profundamente. Esse personagem reflete muito da cultura de Recife e dessa classe artística nordestina, que às vezes é um pouco mais elitizada.
Como é sua relação artística e afetiva com o Recife?
Minha relação com Recife é profundamente enraizada, quase como se fosse minha primeira casa no campo artístico. Embora eu não tenha nascido em Pernambuco, meus trabalhos mais marcantes no cinema têm uma forte conexão com a cultura e as pessoas daí.
Desde "O Auto da Compadecida", até obras com cineastas como Cláudio Assis, Lírio Ferreira, e Renata Pinheiro, Recife se tornou uma parte essencial do meu percurso. O impacto de conhecer os cineastas e músicos pernambucanos foi imenso, influenciando diretamente minha carreira e, de forma muito pessoal, meus afetos.
Algumas das pessoas mais queridas da minha vida estão em Recife, como a Conceição Camarotti, por exemplo. Essa troca cultural e pessoal com a cidade interferiu não só na minha trajetória artística, mas também moldou muitos dos laços de afeto mais profundos que carrego.
Sobre a quebra da quarta parede: como você acha que esse artifício consegue enriquecer a narrativa?
A quebra da quarta parede é um recurso que sempre esteve presente no audiovisual. Ela nos lembra que o cinema é, antes de tudo, uma construção ficcional, mas ao mesmo tempo, estabelece uma ponte com o teatro, onde essa proximidade entre ator e espectador é mais natural.
No caso do Quincas, como ele é um cronista, esse recurso de falar diretamente ao espectador faz parte de sua narrativa, com ele costurando a série com seus comentários. Mas essa técnica não se restringe só a ele: outros personagens, quando estão no seu momento de protagonismo, também podem quebrar a quarta parede.
Essa técnica tem uma longa história no cinema, bem anterior ao exemplo popular de House of Cards. Grandes nomes como Charlie Chaplin e Grande Otelo já utilizavam a quebra da quarta parede em seus trabalhos, mostrando que esse recurso é atemporal. Mais recentemente, passei por uma experiência interessante ao usar essa técnica em Renascer, onde o vínculo de afeto criado entre meu personagem, Norberto, e o público no horário das 9h foi muito forte.
Contudo, em "Chabadabadá", o uso da quarta parede é uma homenagem ao cinema que fazemos, uma continuidade natural de nosso estilo e uma forma de manter o público dentro da história, mesmo lembrando que eles estão assistindo a uma ficção.