Juliana Notari, da obra 'Diva', celebra 20 anos de carreira com exposição no Recife; confira

"Spalt-me", no MAMAM, traz obras em que 'fenda vermelha' invade paisagens para refletir sobre corpo, gênero, violência, sexualidade e historicidade

Publicado em 18/10/2024 às 10:53

A imagem de uma vulva gigante em uma montanha rodou todo o mundo, em 2020. A responsável pela obra "Diva", localizada na Usina da Arte, Mata Sul de Pernambuco, foi a recifense Juliana Notari.

A artista visual possui toda uma série de obras em que essa 'fenda vermelha' invade paisagens para refletir sobre corpo, ferida, gênero, violência, sexualidade, historicidade, trauma e paisagem.

Essa série, intitulada "Spalt-me", tem o protagonismo da exposição individual que celebra os 20 anos de trajetória de Notari. A mostra, montada no Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (MAMAM), terá abertura neste sábado (19), a partir das 19h. A visitação ocorre até 1º de dezembro - confira horários e dias no serviço ao fim da matéria.

'Spalt-me'

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'Spalt-me', de Juliana Notari, faz intervenção digital em fotografia da antiga Casa de Detenção do Recife - LEROC/DIVULGAÇÃO
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'Spalt-me', de Juliana Notari, faz intervenção digital em fotografia da Cruz do Patrão - DIVULGAÇÃO
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'Spalt-me', de Juliana Notari, faz intervenção digital em fotografia da antigo prédio do Departamento de Ordem Política e Social – DOPS - DIVULGAÇÃO

A curadoria de Clarissa Diniz reúne fotografias de paisagens diversas nas quais surge essa grande fenda vermelha.

Para nomear esse trabalho, a artista se apropriou do verbo da língua alemã spalten que, de modo semelhante ao inglês to spalt, indica a ação de abrir uma fissura, de separar, de rachar. A ideia é abrir fendas que possam ajudar a compreender a poética da artista.

"Acompanhado da partícula 'me', spalt torna-se um neologismo de caráter reflexivo, uma convocação à ideia de abrir uma fresta em seu próprio corpo, seja ele humano, arquitetônico, histórico, semântico. Spalt-me é, por isso, a imagem que, oriunda do corpo poético de Notari, se torna um convite a percorrermos as diversas fendas de sua vasta produção", explica a curadora Clarissa Diniz.

Núcleos

A exposição foi organizada em três núcleos que expõem questões centrais dentro da sua poética de Notari.

O primeiro núcleo da exposição ocupa o térreo do museu e reúne obras nas quais o corpo é protagonista. São objetos, vídeos, desenhos, fotografias e performances cujas investigações desafiam padrões de beleza, limpeza e erotismo atribuídos historicamente aos corpos das mulheres.

Exemplos de obra dessa seção são desenhos "AR-DOR", que reage ao imaginário patriarcal da histeria, e a série Inneresteren, que apresenta bonecos de recém-nascidos.

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'Dra. Diva', de Juliana Notari - DIVULGAÇÃO

No primeiro andar, o segundo núcleo apresenta obras que refletem a vivência da artista em várias cidades do Brasil e do mundo, e o seu confronto com a simbologia e a monumentalidade de uma sociedade patriarcal e colonial.

Nesse, será possível ver obras como "Ferida da Bienal" e "Spalt-me", que trazem o gesto de abrir fendas e rasgos em ambientes institucionalizados, formais e arquiteturas com peso histórico.

O terceiro núcleo trata das feridas: símbolos de dor e de vulnerabilidade para muitas culturas, e que habitam o imaginário da artista há décadas. É neste núcleo que está "Diva", trabalho recente da artista que gerou grande repercussão.

Atualização de obras

Interlocutoras há mais de dez anos, Juliana Notari e Clarissa Diniz propuseram, na exposição, um olhar ao mesmo tempo retrospectivo e prospectivo.

"Fazemos o gesto artístico e curatorial de buscar uma obra antiga e jogá-la para o futuro, repensá-la, atualizá-la desde o agora", resume a curadora. Exemplos dessa proposição são as obras Parlamento Europeu (2022-2024), Janta (2001-2024) e Spalt-me (2009-2024), que intitula a exposição.

"Clarissa acompanha meu trabalho há muitos anos, então ela trouxe essa proposta de dividir a mostra em núcleos diferentes, que abordam o meu olhar para o corpo (inclusive meus projetos em torno dos cabelos), a urbanidade, a alimentação, o risco e o cuidado", diz Juliana Notari.

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SORTERRO, desenho de Juliana Notari - DIVULGAÇÃO

"A exposição ressalta a centralidade das feridas sociais, dos traumas ligados à urbanidade e à modernidade: uma crítica ao capitalismo falocêntrico e patriarcal. Tudo isso está na exposição."

Juliana Notari já participou de exposições nacionais e internacionais, recebeu prêmios, realizou residências artísticas e possui trabalhos em coleções públicas e privadas.

Destes, podemos destacar "À Nordeste", SESC 24 de Maio, São Paulo, SP, 2019; "Bienal Del Sur: Pueblos en Resistencia", Museu de Belas Artes de Caracas, Venezuela, 2015.

SERVIÇO
Juliana Notari: Spalt-me
Onde: Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (Rua da Aurora, 265, Boa Vista)
Estreia: neste sábado (19), das 15h às 18h
Visitação: de quarta a domingo, 20 de outubro a 1º de dezembro de 2024
Horários: Quartas, quintas e sextas, das 10h às 17h; sábados e domingos, das 10h às 16h.
Quanto: Gratuito

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