Fechado há décadas, Teatro do Derby seria útil às artes cênicas do Recife

Localizado em anexo do Quartel do Derby, espaço acolheu cena teatral até o final dos anos 1980: 'Ele é totalmente viável enquanto casa de espetáculos'

Publicado em 01/11/2024 às 18:28 | Atualizado em 02/11/2024 às 17:44

O Quartel do Derby completou 100 anos em outubro, tendo importância significativa para a urbanização desta área central do Recife. Na ocasião, o público pôde fazer uma visita interna para conhecer o local e a sua história.

Contudo, um espaço não foi visitado: o Cine Teatro do Quartel do Comando Geral da Polícia Militar de Pernambuco, que ficou conhecido como "Teatro do Derby", localizado em um anexo ao prédio.

O espaço está sem funcionar há pelo menos 20 anos, de acordo com a comunicação da Polícia Militar. Fontes ouvidas pela reportagem, contudo, comentam que o espaço já não recebia mais produções teatrais no começo dos anos 1990.

Primórdios

Inicialmente batizado de Cine-Auditório da Força Pública de Pernambuco, o espaço foi fundado em 1936, durante a gestão estadual de Carlos de Lima Cavalcanti. De início, era mais restrito à vida policial-militar e aos moradores do bairro do Derby, com recitais, bandas e orfeões.

APEJE
Teatro do Derby nos seus primeiros anos de funcionamento - APEJE

Ainda desse período inicial, uma (triste) curiosidade: em 1937, com o golpe do Estado Novo, o novo governo mandou, por motivações políticas, pintar de tinta óleo um afresco de Noemia Mourão Moacyr, esposa de Di Cavalcanti.

O episódio é relembrado pelo coronel Carlos Bezerra Cavalcanti, membro do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano. "Já tentamos restaurar, mas não teve jeito."

Nos anos 1940, passou a exibir películas cinematográficas para uma plateia de policiais, parentes e convidados.

Inserção na vida teatral

Em 1949, em virtude de uma reforma do Teatro de Santa Isabel, diversos grupos do teatro amador que atuavam no Recife passaram a ocupar o Teatro do Derby. Para isso, aumentaram a quantidade de assentos na plateia, o que tornou o lugar apto receber espetáculos mesmo após a volta do funcionamento do Santa Isabel.

De acordo com o pesquisador Ledson Ferraz, o teatro do Derby passou a ser mais integrado às atividades teatrais locais a partir de uma iniciativa de Hermilo Borba Filho, na década de 1940.

REPRODUÇÃO
Fachada do Teatro do Derby, no Quartel do Derby, na década de 1940 - REPRODUÇÃO

"Hermilo fundou o Teatro do Estudante de Pernambuco e algumas apresentações ocorreram no Teatro do Derby. Luiz Maranhão também passou por lá. Foi um período em que, pontualmente, grupos ocuparam aquele espaço."

Com o incêndio que destruiu o Teatro Valdemar de Oliveira, no bairro da Boa Vista, no Centro, em 1982, o Teatro do Derby surgiu como alternativa para escoar as produções.

Para isso, ele foi reformado pelo então prefeito Gustavo Krause, após articulações feitas pela sua esposa, Clea Krause, e do jornalista Enéas Alvares, então diretor do Museu da Cidade do Recife e crítico de teatro deste mesmo Jornal do Commércio.

Festivais

Nesse período, o Teatro do Derby recebeu o Festival de Teatro do Recife, que conto com grupos até mesmo do interior do Estado.

O produtor José Manoel Sobrinho foi coordenador desse festival. "Apesar de limitações estruturais, esse teatro tem excelentes tamanhos de palco e plateia. Se formos pensar em uma casa de espetáculo, ele é totalmente viável", diz.

"Na minha análise da época, achei que ele tinha uma certa precariedade de som e luz, então precisávamos complementar essa estrutura. Por outro lado, existia um excelente estacionamento para o público. As pessoas começaram de fato visitá-lo, pois foi aberto para a comunidade e para os grupos da cidade", diz Sobrinho.

"Outro aspecto que achei muito relevante na época foi a facilidade no diálogo com a polícia. A gestão do quartel desenvolveu toda uma estratégia de diálogo com a classe teatral que não existia conflito."

Casa de espetáculos

A reativação do teatro, com uma boa programação, teria a capacidade de atingir a população que mora nos arredores, opina Leidson Ferraz. "Inclusive, seria um público diferente do público dos outros teatros. Acho até que nós cobramos pouco pela volta desse espaço ser vinculado à polícia, talvez."

O coronel Carlos Bezerra Cavalcanti compartilha da visão: "O Derby é o bairro mais central do Recife e existe uma comunidade de classe média alta muito movimentada naquela área. Seria muito bom se conseguíssemos restaurá-lo e reativá-lo."

O que diz a PM-PE

Em 2022, o Governo de Pernambuco chegou a informar que a Secretaria de Cultura (Secult-PE) e da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) firmaram um acordo de cooperação técnica para orientar o processo de reforma do espaço, que é tombado pelo Estado.

Procurada pela reportagem, a comunicação da Polícia Militar explicou que o restauro não ocorreu pelo curto prazo do processo licitatório.

"No final de setembro de 2022, foi liberado um orçamento de R$ 4,3 milhões, oriundos do Tesouro Estadual. No entanto, devido ao curto prazo de três meses para a conclusão do processo licitatório, o valor foi recolhido aos cofres do Estado ao final de 2022."

"Recentemente, a Polícia Militar de Pernambuco e a Fundarpe retomaram os estudos de viabilidade técnica para a requalificação do Complexo Derby, que inclui o teatro. O processo está na fase de estudos técnicos e readequações, visando finalmente trazer de volta esse importante espaço cultural", conclui a nota.

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