Biografia detalhada da Mundo Livre S/A captura 'espírito' do manguebeat
Nas 552 páginas de 'Mundo Livre S/A 4.0 - Do punk ao mangue', Pedro de Luna conta história de 40 anos de uma das bandas seminais do mangue
A trajetória da banda Mundo Livre S/A tem a capacidade de "encapsular" o espírito do manguebeat. Através dela, passamos pelos antecedentes na década de 1980, o ápice nos anos 1990 e os ecos pós-movimento, que perduraram até a atualidade.
O livro "Mundo Livre S/A 4.0 - Do punk ao mangue" (Ilustre Editora), do escritor e jornalista carioca Pedro Luna, cumpre essa missão em 552 páginas repletas de entrevistas, imagens, recortes de jornais e muitas curiosidades sobre um período tão inventivo da música pernambucana.
"Acho que é o livro mais denso e aprofundado do manguebeat", frisa o autor, ao JC. "É necessário lembrar que o livro 'Do frevo ao Mangue', do José Teles, fala do mangue na parte final, pois tinha a proposta de falar sobre a música pernambucana como um todo."
40 anos
Essa captura de diversas fases ocorre porque trata-se de uma banda de 40 anos de carreira, que permanece ativa com a mesma pegada underground e ainda próxima de seus princípios.
Além da pesquisa de arquivo, Luna entrevistou 75 pessoas, incluindo figuras como Otto (que esteve nos dois primeiros discos da banda), China, Cannibal, Karina Buhr, Fabio Trummer, Mario Caldato Jr, Stela Campos, DJ Dolores, Jorge du Peixe, Lucio Maia, Pupillo, Xico Sá, entre outros nomes.
"Fizemos um livro bonito, que fala de todo um grupo de indivíduos, um conjunto de circunstâncias, porque a Mundo Livre não chegaria a lugar nenhum sozinha se não fosse todo esse 'entourage' de pessoas inteligentes e muito ligadas no que estava rolando de vanguarda naquele momento", continua.
O autor
Essa é a nona biografia do escritor e jornalista Pedro de Luna, 50 anos, responsável pelos livros sobre a banda Planet Hemp, os músicos Speed e Champignon (Charlie Brown Jr), do quadrinista Marcatti, do festival Porão do Rock e do professor e deputado federal Chico Alencar, entre outros.
"Geralmente, o despertar de interesse para escrever livros surge quando estou trabalhando em outros. A primeira vez que pensei em escrever sobre alguma banda de Pernambuco foi quando escrevi o livro da Planet Hemp, em que os músicos sempre falavam das trocas com a Nação Zumbi quando viajavam para o Recife", diz Pedro.
"Eu dei preferência pelo livro da Mundo Livre pois é uma das minhas bandas favoritas do Brasil. Ela também tem uma coerência em seu ativismo, sempre com uma denúncia. Surge num contexto de Guerra Fria e quando a gente traz pros dias de hoje, seguimos com a Guerra da Ucrânia, os atritos dos EUA com a China. Em 40 anos, o mundo não mudou tanto assim. Eles continuam atuais."
Em 2023, já atento aos 40 anos da banda, o autor fez a sugestão do livro para Fred 04. "Não foi exatamente uma autorização, pois o Supremo Tribunal Federal julgou que não é necessário obter autorização para biografias, após o caso do Roberto Carlos. Porém, eu não queria fazer algo à revelia da banda."
Descobertas
Pedro de Luna ressalta aspectos marcantes descobertos durante a produção do livro, como a ausência de fã-clubes dedicados à banda.
"É a primeira vez que escrevo sobre uma banda que nunca teve um fã-clube — algo comum para grupos desse porte, pois essas comunidades costumam adquirir tudo relacionado à banda e registram momentos em bastidores. A Mundo Livre S/A, no entanto, é tão underground em sua essência, tão punk, que nunca contou com esse tipo de organização", observa.
Outro ponto que chama atenção é a longevidade. "Manter-se por 40 anos é desafiador, especialmente mantendo a coerência e a relevância. Poderiam ter se tornado uma banda esquecida, fazendo algo que já não tocasse ninguém, mas a Mundo Livre continua despertando sentimentos e mobilizando pessoas, especialmente fora de Pernambuco", destaca Luna.
"Em São Paulo, eles são reverenciados, o que não parece acontecer com a mesma intensidade em Pernambuco. Recebi muitos pedidos de livros de lugares como Brasília, Belo Horizonte e a região Sul. Um dos segredos da Mundo Livre foi não depender exclusivamente do mercado pernambucano. Se eles não tivessem a coragem de fazer temporadas fora, talvez não tivessem sobrevivido."
Lançamento em Pernambuco
"Mundo Livre S/A 4.0 - Do punk ao mangue" teve lançamentos no Rio de Janeiro e em São Paulo, inclusive com a presença de Fred 04 para autógrafos, nesta segunda-feira (2), na Ria Livraria, na Vila Madalena. No entanto, ainda não há uma data confirmada para Pernambuco.
"Estou vendo uma possibilidade de lançar através do Sesc Pernambuco, que tem uma sinalização positiva, mas não temos datar ou algo certo", conta Pedro.
"O Sesc Pernambuco tem oito unidades e seria incrível se conseguíssemos em unidades de Arcoverde ou de Garanhuns. Seria algo muito verdadeiro, pois o Sesc poderia proporcionar uma palestra e um show da banda, fazendo uma imersão na obra da Mundo Livre."
Pedro confessa que até chegou a entrar em contato com a Fundação de Cultura do Recife, da Prefeitura, mas recebeu negativas em torno do tipo do evento. "Fiquei um pouco surpreso, pois aqui do Sudeste temos a percepção de que o poder público pernambucano apoia fortemente a cultura. Então, estamos apostando no Sesc".
SERVIÇO
"Mundo Livre S/A 4.0 do punk ao mangue", de Pedro Luna
Valor: R$ 130, com mais informações no instagram @biografiamundolivresa