Morre aos 88 anos babalorixá Pai Raminho, Patrimônio Vivo de Pernambuco
Babalorixá era conhecido por conduzir as tradicionais festas da Noite dos Tambores Silenciosos e das Águas de Oxalá, realizadas no carnaval
Morreu, na manhã deste domingo (8), o babalorixá Severino Martiniano da Silva, aos anos 88 anos de idade, mais conhecido como Pai Raminho ou Tata Raminho de Oxóssi. Ele foi mestre das tradições culturais de matriz africana em Pernambuco e da líder religioso da Roça Oxum Opará Oxóssi Ibualama.
Pai Raminho foi homenageado, em 2022, como Patrimônio Vivo de Pernambuco por conduzir as tradicionais festas da Noite dos Tambores Silenciosos e das Águas de Oxalá, realizadas no ciclo carnavalesco de Recife e Olinda, respectivamente.
De acordo com o G1, ele estava internado em hospital há pouco mais de uma semana para tratar uma infecção urinária. A morte foi constatada por volta das 5h30.
História de Pai Raminho
Nascido no Recife em 1936, Raminho de Oxóssi, foi um importante Mestre Griô das tradições Jêje-Nagô em Pernambuco.
Residente em Olinda, ele era herdeiro das tradições trazidas pelas Tias do Terço, figuras históricas que estruturaram a comunidade negra do Pátio do Terço, no bairro de São José. Este local é palco da emblemática Noite dos Tambores Silenciosos, cerimônia que reúne batuqueiros de diversos maracatus para homenagear ancestrais e orixás, silenciando os tambores em um momento de reverência à meia-noite durante o Carnaval.
Raminho de Oxóssi também fundou a Roça Oxóssi Ibualama e Oxum Opará, em Olinda, um dos mais antigos terreiros de candomblé de Pernambuco, preservando a memória e os objetos sagrados da comunidade afrodescendente do estado.
Ele foi responsável pela criação do primeiro afoxé de Pernambuco, o Ilê de África, em plena Ditadura Militar, um marco de resistência cultural e religiosa. Entre suas realizações, destacam-se o Afoxé Ara Odé e a Festa das Águas de Oxalá, com a tradicional lavagem das ladeiras de Olinda.
O mestre Tata Raminho será sempre reconhecido como uma das maiores lideranças afro-pernambucanas, mantendo viva a conexão entre cultura, fé e resistência.
Nota da Roça Oxum Opará Oxóssi Ibualama
Hoje somos tomados por uma tristeza profunda, ainda incrédulos com a partida ao Orun do nosso Olorí Egbé.
Pai Raminho, patrimônio do estado de Pernambuco, não era apenas uma referência religiosa, ele é e sempre será o maior da nossa nação, do nosso estado. Nós temos orgulho de pronunciarmos que somos "Jeje de Raminho" e assim perdurará.
Todos, absolutamente todos os iniciados do candomblé de Pernambuco, temos um pedaço do seu obi soprado em nosso ori. Simplesmente, gigante pela sua própria natureza.
Severino Martiniano nasceu predestinado ao sacerdócio e assim o cumpriu, com maestria, conhecimento, pulso firme, doçura e responsabilidade.
Nossa casa e nosso coração estão de luto mas, antes de tudo, somos orgulho. Orgulho do seu legado, orgulho da sua história, orgulho da sua vida, orgulho do Senhor ser patrimônio, de ser eterno, orgulho de sermos Jeje de Raminho.
Agradecemos por, absolutamente, tudo, Nosso Pai. Que os deuses recebam o Senhor com as reverências equivalentes à magnitude da sua existência no Ayé, não serão poucas. Nós te amamos, sempre, pra sempre, e levaremos o seu nome com orgulho para onde formos e onde pisarmos.
Com amor, sua Egbé.
Nota da Prefeitura de Olinda
Recebemos com muita tristeza a notícia do falecimento de Tatá de Raminho de Oxóssi, sacerdote das Águas de Oxalá, que abre o ciclo carnavalesco de Olinda com sua benção.
Com muita dedicação, Tatá teve uma grande trajetória na transmissão e preservação das tradições afro-brasileiras.
O legado de Tatá Raminho continuará presente em todas as gerações.
Nota de Raquel Lyra
A governadora de Pernambuco lamentou a morte do religioso: "Com pesar, lamentamos o falecimento de Raminho de Oxóssi, o Pai Raminho, Patrimônio Vivo de Pernambuco. Guardião das tradições afro-brasileiras, seu legado cultural e espiritual seguirá iluminando gerações. Gratidão por tudo".