Retrospectiva 2024: Ano mostrou que o cinema ainda está aqui
Retrospectiva também faz apanhado de linguagens como música, teatro e artes visuais, além resumos sobre políticas públicas e despedidas
Se 2024 fosse um filme, o cinema seria seu protagonista. Pelas telas, histórias nos fizeram viajar por mundos desconhecidos, revisitar memórias e imaginar futuros possíveis.
Em Pernambuco, a reinauguração do Cinema São Luiz, totalmente restaurado, foi um dos grandes acontecimentos culturais do ano, com diversas exibições marcantes.
O anúncio da recuperação da sala do Art Palácio em um complexo educacional federal no Centro do Recife também reacendeu a esperança do resgate do circuito de salas de rua.
O Cineteatro do Parque não retomou uma programação fixa, como prometido, mas realizou sessões e mostras temáticas. Fica a expectativa se o cinema do Teatro Apolo, no Bairro do Recife, também poderá renascer.
Nas ruas deste mesmo Centro, os recifenses viram interdições para a gravação de "O Agente Secreto", próximo filme de Kleber Mendonça Filho, com Wagner Moura.
Sucessos de bilheteria
No âmbito nacional, "Ainda Estou Aqui" conseguiu a proeza de ser um sucesso de bilheteria (R$ 62,7 milhões), mesmo sendo de drama, já que as maiores costumam ser de comédia.
O filme tornou-se a quinta maior bilheteria do País, apenas atrás das produções de Hollywood, sendo ainda a sétima maior bilheteria nacional do século 21.
O longa de Walter Salles também tem fortes chances de ser indicado a "Melhor Filme Internacional" no Oscar de 2025, algo que não ocorre desde 2000, com "Central do Brasil", também de Salles.
Respiro após pandemia
Já no apagar das luzes do ano, "O Auto da Compadecida 2" se tornou a maior estreia de um filme nacional desde a pandemia, levando 173 mil pessoas aos cinemas e arrecadando R$ 4 milhões.
"Os Farofeiros 2" também arrecadou R$ 36 milhões. Os números são relevantes pois os cinemas ainda buscam respiro após a pandemia.
Fomento
O País assistiu ao início da implementação da Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB). Pernambuco recebeu R$ 74 milhões, que serão distribuídos em premiações, fomentos e bolsas, organizadas em sete editais.
A iniciativa também trouxe desafios para o Estado, sobretudo na estruturação de equipes de órgãos. O lançamento dos editais ocorreu apenas em setembro. A Lei Paulo Gustavo, em 2023, não deixou boas impressões sobre a organização do Governo de Pernambuco nesse quesito.
Regulação
Foi aprovado o Marco Regulatório do Fomento à Cultura para corrigir deficiências históricas do setor cultural, permitindo melhor administração, fiscalização e regulação.
O Marco promete trazer mais eficiência para os gestores públicos e democratizar o acesso às políticas culturais, especialmente para agentes das periferias e das culturas tradicionais, negras e indígenas.
Música
Na música, artistas pernambucanos lançaram bons álbuns, a exemplo do pianista Amaro Freitas (Y’Y), Sofia Freire, que ganhou o Prêmio APCA por "Ponta da Língua"; e Duda Beat, que agitou o pop com "Tara e Tal".
Também houve revelações como Ivyson, que lançou "AFINCO", e Uana com seu "Megalomania". Alceu Valença lançou "Bicho Maluco Beleza", com ótimas participações.
Marley no Beat aprovou o primeiro disco de brega-funk no Sistema de Incentivo à Cultura do Recife e Raphaela Santos fez tanto sucesso que entrou pro escritório de Wesley Safadão.
Festivais
O ano começou com o imbróglio entre o Governo de Pernambuco e a Prefeitura de Garanhuns sobre a realização do Festival de Inverno. Como consequência, o Estado viu nascer o Pernambuco Meu País, que percorreu oito municípios.
Apesar de sua abrangência, o evento precisa amadurecer nos próximos anos, incluindo, talvez, mais aportes financeiros. O FIG conseguiu manter as demais linguagens artísticas na "versão" da Prefeitura, principal receio da classe artística.
Crise
Já no âmbito privado, o Estado viu o cancelamento de grandes festivais, como o Wehoo, em Olinda, e o Guaiamum Treloso, em Camaragibe, além de outros eventos no Recife.
O motivo é a crise do mercado de eventos, com ingressos caros e programações repetitivas. O Coquetel Molotov resistiu, tendo patrocínio via Lei Rouanet.
Teatro
O incêndio do Teatro Valdemar de Oliveira jogou luz na falta de espaços (e de temporadas fixas) para as artes cênicas no Recife. O futuro do espaço segue incerto.
Já o espetáculo "Cinderela, a história que sua mãe não contou”, com Jeison Wallace, que bombou no Valdemar nos anos 1990, voltou em sessões esporádicas.
A memória teatral foi celebrada com os 50 anos do Grupo Vivencial, com exposição que contou com curadoria dos jornalistas Bruno Albertim e Márcio Bastos, autor do livro "Pernalonga: uma sinfonia Inacabada" (Cepe).
O Festival Recife do Teatro Nacional surpreendeu positivamente com nomes como Marco Nanini, Othon Bastos e o novo espetáculo do Magiluth, "Édipo REC", grupo que celebrou 20 anos. Quem também soprou velas de duas décadas foi O Poste Soluções Luminosas.
Artes visuais
Pernambuco ganhou obra de uma artista global: "Generator", de Marina Abramovic, movimentou a Usina de Arte, na Mata Sul.
João Câmara celebrou 80 anos no MEPE expondo pinturas digitais, reforçando o diálogo entre arte e tecnologia em tempos de Inteligência Artificial.
O Museu Homem do Nordeste fez uma 'autocrítica institucional' com a mostra "Elas: onde estão as mulheres nos acervos da Fundaj?", que marcou a reabertura do primeiro andar, fechado desde 2008.
Despedidas
O Brasil se despediu de ícones do entretenimento e da cultura em diversas linguagens, incluindo Silvio Santos e Cid Moreira na TV; Sergio Mendes e Agnaldo Rayol na música, além de Ziraldo, Ary Toledo e, no fechar das cortinas, o ator Ney Latorraca.
Já Pernambuco ficou de luto pelos maestros Marlos Nobre e Clóvis Pereira, o jornalista Celso Marconi e o MC Elloco (que fazia dupla com Shevchenko).