‘Faltou atenção nos últimos 30 ou 40 anos', diz diretor do Arquivo Público, que celebra 80 anos em 2025

Em meio a digitalizações e mudança do anexo interditado, instituição inicia celebrações com revista sobre o bicentenário da morte de Frei Caneca

Publicado em 10/01/2025 às 17:11 | Atualizado em 10/01/2025 às 17:25
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Em 13 de janeiro de 1825, Frei Caneca foi retirado da antiga Cadeia Pública, atual prédio do Arquivo Público de Pernambuco, para seu fuzilamento.

Exatos 200 anos depois, nesta segunda-feira (13), a memória do mártir republicano será homenageada neste mesmo edifício, com o lançamento de uma nova edição da Revista do Arquivo, intitulada "Frei Caneca - 200 anos de luta e memória".

O evento marca o início das comemorações pelos 80 anos da instituição, sob a direção de Sidney Rocha, que retomou sua linha editorial.

JAILTON JR./JC IMAGEM
Sidney Rocha, escritor e diretor do Arquivo Público Estadual Jordão Emerenciano. - JAILTON JR./JC IMAGEM
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Sidney Rocha, escritor e diretor do Arquivo Público Estadual Jordão Emerenciano. - JAILTON JR./JC IMAGEM
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Sidney Rocha, escritor e diretor do Arquivo Público Estadual Jordão Emerenciano. - JAILTON JR./JC IMAGEM

"São textos históricos, mas, como editor, busco uma forma em que todas as pessoas possam ler bem, desde estudantes de escolas públicas até pesquisadores", afirma Rocha, em entrevista ao JC.

Durante a solenidade, será lançada também a edição especial de 200 anos da Confederação do Equador, adiada no ano passado. Para 2025, estão previstos dois livros sobre o bicentenário da revolução e um com poesias de Natividade Saldanha, autor do manifesto da Confederação.

O Arquivo Público Estadual foi criado em 4 de dezembro de 1945, sob a atmosfera de efervescência e a esperança do pós-guerra, por José Neves Filho, então desembargador de Pernambuco.

Desafios do Arquivo

HESÍODO GOES/SECOM
Arquivo Público Estadual Jordão Emerenciano, no Recife - HESÍODO GOES/SECOM

Em conversa, Sidney Rocha destacou os desafios enfrentados nos últimos dois anos, especialmente na digitalização e salvaguarda dos documentos, além de um aspecto menos evidente: a sistematização.

"Um arquivo é responsável pela gestão documental do Estado, incluindo documentos financeiros e administrativos, mas essa gestão nunca aconteceu. Também não houve nenhum investimento dos governos anteriores, seja na infraestrutura, na contratação de servidores ou na qualificação de pessoas", pontua.

Segundo ele, a falta de arquivistas em Pernambuco é um dos entraves. "Quando precisamos, temos que buscar fora, como na Bahia e na Paraíba. Estou lutando com a Universidade Federal de Pernambuco para a criação de uma pós-graduação com esse objetivo."

Digitalização e preservação

TOM CABRAL/DIVULGAÇÃO
Imagem de área interna do Arquivo Público Estadual Jordão Emerenciano - TOM CABRAL/DIVULGAÇÃO

Rocha revelou que cerca de 91 mil documentos estão sendo digitalizados com recursos provenientes de emendas parlamentares do Senado. Esse processo inclui um convênio com a Companhia Editora de Pernambuco e uma parceria com a UFPE.

"São documentos importantíssimos, divididos entre documentos do poder público e jornais importantes ou menos conhecidos do século 19 e do começo do século 20. Existe um risco de deterioração por conta da falta de uma atenção maior nos últimos 30 ou 40 anos. Entendemos que são os mais urgentes."

O acervo será disponibilizado no portal da instituição e em parcerias com outros acervos, como o da Biblioteca Nacional.

Mudança de anexo

REPRODUÇÃO/GOOGLE STREET VIEW
Prédio do Arquivo Público de Pernambuco na Rua Imperial, na área central do Recife - REPRODUÇÃO/GOOGLE STREET VIEW

Outro ponto destacado foi a mudança do anexo, localizado na Rua Imperial, no bairro de São José, fechado desde fevereiro de 2024 por alto risco estrutural. As primeiras autuações da Defesa Civil sobre o prédio datam de 2008.

"Estamos recebendo um novo prédio, para onde o anexo será transferido em breve. Assim, teremos uma estrutura mais adequada. As novidades devem ser apresentadas este ano", informa Rocha.

"Os 80 anos marcam um início da reestruturação do Arquivo. Já estamos fazendo essa mudança, conseguimos emendas parlamentares e também abrimos o Arquivo para novas instituições. A gestão assumiu em 2023, mas agora as coisas estão clareando. Eu tenho a certeza que o Governo de Pernambuco, neste momento, tem a condição de avançar."

Detalhes

Entre os 30 eventos realizados para celebrar os 80 anos, estão eventos para formação de professores de história e geografia, eventos literários, debates, entrevistas, história oral, entre outras atividades.

Os livros previstos para lançamento pelo braço editorial do Arquivo são:

  • "A Confederação do Equador - Fontes e Obras”, organizado por Anamélia Monteiro e Antonieta Costa;
  • "1824-2024 - A Confederação do Equador através dos documentos do Arquivo Público de Pernambuco”, organizado por Artur Garcéa, Emerson Lucena e Hildo Leal da Rosa.
  • "Poesias - Natividade Saldanha (2ª edição)", colecionadas por José Augusto Ferreira da Costa e publicadas em Pernambuco em 1875.

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