UOL - O melhor conteúdo

Orquestra Malassombro reforça a atualidade do frevo em novo disco: 'Queremos cantar o nosso tempo'

Com olhar contemporâneo, projeto amplia os horizontes do ritmo em álbum com participações de Claudionor Germano, Flaira Ferro, Henrique Albino e mais

Publicado em 31/01/2025 às 18:16 | Atualizado em 31/01/2025 às 18:22
Google News

Quem ainda insiste no chavão de que "o frevo não se renova" certamente não acompanha as transformações e reinvenções do gênero nos últimos anos. Há tentativas diversas, e uma delas, vibrante e consistente, vem sendo conduzida pela Orquestra Malassombro.

Com um trabalho que combina produção musical, ações formativas e outros movimentos culturais, o grupo reafirma a força do frevo como linguagem essencial da identidade recifense.

Neste início de fevereiro — ainda que sem o Carnaval —, a Malassombro lança seu terceiro álbum, "Recife, início, meio e fim", ampliando esse diálogo entre tradição e contemporaneidade. O show de lançamento acontece neste domingo (2), às 18h, no Teatro do Parque.

Frevo de hoje

Diferente de algumas abordagens que fundem o frevo a outros gêneros ou inserem elementos eletrônicos, o disco mantém a essência dos frevos canção, de rua e de bloco.

A renovação, no entanto, está nos arranjos, que trazem um frescor estético, aproximando-se de leituras contemporâneas da música — sem abrir mão da liberdade para experimentações.

Outra marca da atualidade do álbum está nas letras. As composições falam de um Recife do presente, sem cair em saudosismos conservadores.

"A gente entende o Recife para além da sua geografia. Ele está onde o recifense habita, mas também nos que a cidade acolhe. Muitos compositores vieram do interior e construíram sua história aqui. Nossa visão do Recife é social, abrangente", explica o maestro Rafael Marques.

Músicas

Essa perspectiva política e social está evidente em "Frevo retinto", de Surama Ramos, com arranjo de Henrique Albino. A canção reflete sobre questões raciais dentro da tradição do gênero.

Em outro ponto de inovação estética, "Sabe trabalhar" — expressão recorrente nas gravações — surge como uma esquete de 30 segundos, num coro que remete à icônica faixa oculta de Sgt. Pepper’s (1967), dos Beatles.

Já "Quentura demais", assinada por Rafael Marques, Isadora Melo, Catarina Calado e Gabi Carvalho, dialoga com os frevos da década de 1990 e flerta com o caboclinho, numa homenagem indireta a Marron Brasileiro, o grande homenageado do Carnaval do Recife deste ano.

"Temos pau e corda, temos momentos que lembram formações de big band. Nosso desafio é falar para o presente e pensar o futuro. Não buscamos o passado. Falamos de saudade, mas daquilo que vivemos, não de uma gramática de tempos que não experimentamos. Queremos cantar o nosso tempo", pontua Marques.

Recife, início, meio e fim

A faixa-título, Recife, início, meio e fim, é uma das mais emocionantes do álbum — uma verdadeira carta de amor à cidade. "Aqui eu sou feliz", canta o coro, numa interpretação que conta com a participação de Claudionor Germano, aos 92 anos. A composição é assinada por Rafael Marques, Isadora Melo, André Mussalem e José Demóstenes Torres.

O álbum ainda traz outras colaborações marcantes, como Henrique Albino em "A La Ursa vai Pegar Você" e Flaira Ferro, que também assina "Parece Kung Fu". Juliano Holanda contribui com "Pro Bem e pro Mal" e "Todas as Ruas", reforçando o caráter múltiplo do disco.

Com esse novo trabalho, a Orquestra Malassombro reafirma que o frevo segue vivo, reinventando-se sem perder sua identidade.

Tags

Autor

EDIÇÃO DO JORNAL

capa edição

Confira a Edição completa do Jornal de hoje em apenas um clique

LEIA GRÁTIS

NEWSLETTER

Faça o cadastro gratuito e receba o melhor conteúdo do JC no seu e-mail

ASSINE GRÁTIS

Webstories

Últimas

VER MAIS