Baterias de samba de Olinda atribuem desorganização do Carnaval a ambulantes irregulares e automóveis
Críticas surgem após reportagem do JC apontar desafios do crescimento das baterias: "A cultura não pode ser culpada pela desorganização"

As baterias de samba que desfilaram no Carnaval de Olinda em 2025 apontam que tiveram desfiles prejudicados pela falta de ordenamento nas ladeiras do Sítio Histórico.
Os principais problemas apontados foram a desorganização dos ambulantes, que ocuparam calçadas e até mesmo as ruas, além da circulação de veículos de serviço em horários de pico, especialmente em áreas movimentadas como os Quatro Cantos, no Carmo.
As críticas surgem após reportagem do JC destacar as dificuldades enfrentadas por agremiações e foliões com o crescimento das baterias, sobretudo no domingo (2) e na terça-feira (4) de Carnaval.
"Não foi a concentração dos blocos de samba que prejudicou os desfiles da Pitombeira, dos Bonecos Gigantes ou de qualquer outro grupo, mas sim a ocupação desordenada dos ambulantes nos principais corredores da folia e a presença de carros de serviço fora do horário. Isso torna os percursos caóticos e inviáveis", afirma Henrique Guimarães, o "Deco", presidente da bateria Patusco e da Associação Carnavalesca de Samba de Olinda (ACASO).
'Carros de som não prejudicam folia'
Deco também defende que os carros de som usados pelas baterias de samba não prejudicam a folia. "Sempre foram usados. Se atrapalhassem, os caminhões-pipa que abastecem os Bonecos Gigantes também seriam um problema", argumenta.
Apesar disso, ele ressalta que a ACASO tem discutido a padronização dos equipamentos. "Independentemente do tamanho da bateria, o som teria a mesma potência, respeitando as normas do Carnaval de Olinda. Esperamos chegar a um consenso", afirma.
'Cultura não pode ser responsabilizada pela desorganização'
Hugo Rodrigues, presidente da bateria Sombatuki, reforça que os fazedores de cultura não podem ser culpados pelo caos no Carnaval. "Mais uma vez, o samba e outros ritmos populares são marginalizados por uma falta de organização do poder público", critica.
"As baterias fazem um movimento cultural lindo na cidade, com blocos grandes, figurinos incríveis e músicos preparados. Mantemos o brilho do Carnaval que muitos blocos tradicionais já não conseguem sustentar, porque é um trabalho difícil", afirma.
Hugo também criticou a falta de controle sobre os carros estacionados em vias principais do Sítio Histórico.
"Ninguém fala dos caminhões de gelo que circulavam ao meio-dia. Havia até veículos instalando câmeras nas ladeiras dos Quatro Cantos, atrapalhando os desfiles das Sambadeiras, do Patusco e dos Bonecos Gigantes", aponta.
Ele ainda destaca a presença de ambulantes sem credenciamento da Prefeitura, o que afetou o comércio local. "Não é a cultura que deve ser responsabilizada por uma desorganização que não cabe a ela resolver", reforça.
O que diz a Prefeitura de Olinda
Procurada pela reportagem, a Prefeitura de Olinda afirmou que organizou o comércio ambulante de acordo com a demanda de cada área. "Nas passagens com maior fluxo de agremiações, como a Rua do Bonfim, foram cadastrados apenas tabuleiros de 1,50m x 0,80m", informou.
Já em praças e vias mais amplas, como a Avenida Liberdade, a Praça do Chafariz e o Largo do Varadouro, foram permitidas barracas de 3m x 3m. "Não houve cadastramento na modalidade 'carro de mão", e todos os pontos registrados são fixos”, acrescentou a nota.
Sobre a fiscalização, a Prefeitura declarou que atuou durante "todos os dias do Carnaval, com cerca de 450 ações diárias e diversas intervenções para garantir o ordenamento".
"Quanto à circulação de veículos, aqueles identificados com adesivos de abastecimento tiveram permissão para transitar entre 4h e 9h. Já os veículos de serviço não possuíam horários estabelecidos, mas sua circulação foi orientada por agentes para minimizar impactos na mobilidade", completa a nota.
"Lei do Carnaval" assegura condições para desfiles
Como ressaltado na reportagem anterior sobre o tema, episódios em que agremiações são impedidas de desfilar por interferências externas violam a Lei Nº 5306/2001 do município, a conhecida "Lei do Carnaval".
O artigo 12 do capítulo III, que trata dos "focos de animação", destaca que as ruas do Sítio Histórico são consideradas "passarelas naturais", e que deve ser garantido às agremiações "as condições necessárias para os desfiles nesses logradouros", proibindo-se a instalação de qualquer tipo de sonorização ou barracas nos espaços para cortejos.
A "Lei do Carnaval" ainda ressalta que essas obrigações devem ser vigiadas por uma Comissão Permanente do Carnaval. Contudo, essa Comissão nunca foi criada, abrindo espaço para que infrações sejam naturalizadas - como foram no Carnaval de 2025.