CINEMA

'No Ritmo do Coração' ganhou Oscar em noite marcada por prêmios que fizeram história e um tapa de Will Smith

Filme gravado de forma independente e feito com atores surdos e desconhecidos causou surpresa e foi o grande campeão

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Romero Rafael

Publicado em 28/03/2022 às 2:07
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Rodado de forma independente, "No Ritmo do Coração", da diretora Siân Heder, é o grande campeão do Oscar 2022, escolhido melhor filme do ano. O reconhecimento a essa produção foi a maior surpresa na cerimônia da principal premiação do cinema, que ocorreu neste domingo (27), em Los Angeles, com transmissão que entrou pela madrugada desta segunda-feira (28), no horário de Brasília, direto do Dolby Theatre.

 

Will Smith

Um tapa do ator Will Smith no comediante Chris Rock — por causa de uma piada feita por Rock, quando apresentava um dos prêmios, direcionada à cabeça careca (devido a uma doença autoimune) da atriz e apresentadora Jada Pinkett Smith, que é casada com Smith — competiu com a entrega das estatuetas, da metade para o fim da cerimônia.

Will Smith deixou o clima no teatro — e na casa de quem assistia — um tanto em suspense, sem que por algum tempo a gente soubesse se havia sido real ou parte do show. Um acontecimento tão inesperado como não era a já esperada vitória dele como melhor ator, na terceira vez em que esteve indicado.

Agraciado com o troféu por causa de sua atuação como Richard Williams, pai das tenistas Vênus e Serena Williams, no filme "King Richard", Will Smith fez um discurso emocionado. Ele não tocou diretamente na agressão que cometeu minutos antes dali, mas falou, de um jeito um tanto confuso pelos sentimentos, que o "amor faz com que você faça coisas doidas". Pediu desculpas aos membros da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, que realiza o Oscar, e aos outros indicados. "Espero que a academia me convide para uma próxima festa", finalizou, um tanto com graça, mas sem conseguir diluir no ar o clima de tensão.

No Ritmo do Coração

Além de fechar a festa consagrado como melhor filme, "No Ritmo do Coração" também venceu a categoria de roteiro adaptado e rendeu a Troy Kotsur a estatueta de ator coadjuvante, num dos momentos mais bonitos da noite — e histórico. Kotsur é o segundo ator surdo a ganhar a estatueta (a primeira vez foi sua colega de elenco, Marlee Matlin, pelo filme "Filhos do Silêncio", em 1987) e fez seu discurso usando a língua americana de sinais (ASL, na sigla em inglês).

O filme, que abocanhou as três indicações, acompanha uma família de quatro pessoas, dos quais apenas a filha mais nova é ouvinte. A maioria do elenco, portanto, é composta por atores surdos. Produção independente, "No Ritmo do Coração" ganhou projeção em janeiro deste ano, quando exibido no Festival de Sundance — acabou adquirido pela Apple por 25 milhões de dólares, numa negociação considerada recorde.

A comunicação por língua de sinais nas palmas do público que estava presente no teatro, no anúncio dos prêmios ao filme, talvez seja a única imagem capaz de desfazer a do tapa de Will Smith.

Apostas certas

Mas, também fez história no Oscar 2022 a atriz Ariana DeBose, eleita melhor coadjuvante por seu papel no remake de "Amor, Sublime Amor", dirigido por Steven Spielberg. Ariana, que é filha de porto-riquenho, se sagrou, assim, como a primeira atriz afro-latina publicamente LGBTQIA a vencer.

A bem das apostas, Ariana DeBose, Troy Kotsur e Will Smith eram já nomes previsíveis no palco. A melhor atriz, sim, permanecia uma incógnita: venceu Jessica Chastain, pela cinebiografia "Os Olhos de Tammy Faye", em que interpreta uma apresentadora de TV evangélica estadunidense.

Billie Eilish, outra aposta, conseguiu o Oscar de melhor canção original, por "No Time to Die", de "007 — Sem Tempo Para Morrer".

Frustração

O longa-metragem "Ataque dos Cães" (Netflix), que colecionava o maior número de indicações — 12 — saiu da noite do Oscar 2022 com apenas uma estatueta: melhor direção, para a diretora neozelandesa Jane Campion. Ela é apenas a terceira mulher a vencer a categoria. A primeira foi a norte-americana Kathryn Bigelow, por "Guerra ao Terror", em 2010; e a segunda, a chinesa Chloé Zhao, por "Nomadland", no ano passado. Campion já havia feito história ao ter sido a primeira diretora indicada duas vezes.

O fato de "Ataque dos Cães" ser uma produçao da Netflix deu brecha para hipóteses sobre a má performance do filme na premiação. O segundo mais indicado, "Duna", de 10 categorias, levou seis, sendo técnicas. "Belfast", concorrendo em sete, ficou penas com roteiro original. "Não Olhe para Cima", indicado a quatro; "O Beco do Pesadelo", a quatro também, e "Licorice Pizza", a três, saíram de mãos abanando.

E o melhor filme internacional foi para o favorito, o japonês "Drive my Car", de Ryusuke Hamaguchi.

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