No Ar Coquetel Molotov celebrou 20 anos com boa fórmula e respeitando a sua identidade
Em seu segundo ano no Campus da UFPE, festival deu continuidade ao fomento da música independente brasileira; chuva desafiou, mas não afugentou o público
O Festival No Ar Coquetel Molotov celebrou a marca de 20 anos em edição realizada neste sábado (21), no Campus da UFPE.
O evento repetiu a boa fórmula que encontrou no ano passado, quando migrou para essa atual estrutura no campus universitário, que comporta um palco maior (Coquetel Molotov), a Concha Acústica (Palco Natural), onde é possível ver shows sentado, e mais um outro palco com ares de "pista eletrônica" (Kamikaze).
A programação seguiu a mesma linha que o Molotov vem mantendo em todos esses anos, apesar de algumas mudanças sutis. Nomes consagrados da música brasileira, como Marcelo D2, dividiram palco com artistas em constante ascensão como FBC, Luedji Luna, Tuyo e NINA.
Contudo, o grande foco do festival continua sendo o fomento à música independente e o destaque para as revelações, muitas delas no Palco Natura, como Bixarte e Matheus Fazeno Rock. Essa é uma decisão ousada no mercado de shows, visto que parte do público consumidor quer ouvir o que já conhece.
Isso, inclusive, suscitou algumas críticas à programação. Contudo, podemos dizer que o Molotov segue a linha que adotou desde sua fundação, no longínquo ano de 2004, no teatro daquela mesma universidade, a UFPE. Além disso, são diversos os desafios para fazer um festival independente no Nordeste, sobretudo no pós-pandemia.
Chuva
Ao contrário do que ocorreu ano anterior, a troca de artistas ocorreu com maior pontualidade. Nem mesmo a chuva prejudicou tanto o andamento do evento. Uma chuva bem inesperada, inclusive, já que não é comum que chova tanto nesse período do ano - o Festival Wehoo, realizado em setembro, sofreu com esse mesmo fenômeno.
Quando começou o Àttooxxá, última atração do Palco Coquetel Molotov, o espaço já estava bastante esvaziado, muito por conta das quedas espaçadas da chuva.
Depois que os demais palcos encerraram suas programações, o Kamikaze continuou fervendo com o encerramento do Baile da Boneka. Assim como no ano passado, esse palco foi um dos grandes acertos do festival e teve uma das atrações mais esperadas da edição: Irmãs de Pau.
A estrutura de "pista de dança" do Kamikaze mostrou que essas artistas poderiam estar num palco maior. Muita gente queria vê-las - talvez, elas tenham crescido muito desde o anúncio do show. Também não dá para deixar de comentar sobre a diversidade entre o público - nos palcos, 60% das atrações foram femininas.
"Foi lindo realizar essa vigésima edição, que contou com tantas bandas, um público tão caloroso e carinhoso, sempre enchendo cada show. Foi muito bonito ver também rolarem tantos feats, que a gente nem esperava ver acontecer, como a participação afetuosa de Tuyo no show de FBC. Tudo isso só confirma como está tudo muito conectado no Coquetel: artistas, suas músicas, seus públicos e nossas melhores intenções musicais", disse Ana Garcia, diretora do evento.
Abaixo, confira como foram alguns dos shows assistidos pela reportagem no último sábado (21).
Shows
O show do rapper mineiro FBC, um dos mais aguardados do festival, começou alguns problemas técnicos e um público morno. Ao longo da apresentação, logo os problemas cessaram e o público entrou na viagem do disco "O Amor, O Perdão e a Tecnologia Irão Nos Levar para Outro Planeta".
Apesar de tocar sem banda, FBC conseguiu entregar a experiência do projeto de house music, que resgata a musicalidade dance dos anos 1970. Ainda teve espaço para músicas do disco "BAILE" (2021), com participação da pernambucana Uana.
Um show bastante interessante foi o de Matheus Fazeno Rock, no Palco Natura. De Fortaleza, o artista se propõe a fazer um "rock de favela", resgatando as raízes e os traços negros do ritmo - algo pouco lembrado nas últimas cinco décadas - em diálogo com estéticas do hip hop.
Ele cantou músicas do disco "Jesus Ñ Voltará". Com uma pegada um tanto sombria, presença de dançarinos e até ensejando algumas coreografias, Matheus entregou uma bela apresentação.
Em seguida, quem subiu nesse mesmo palco foi a paraibana Bixarte. Era possível ver em seu semblante a felicidade de realizar aquele show. Ela estava na edição de 2019, participando do show da rapper pernambucana Bione.
Em outro momento da carreira, após lançar o disco "Traviarcado" pelo edital do Natura Musical, Bixarte fez um show visceral, com muito carisma e um discurso emocionante no final, ressaltando a revolução que é a sua presença no palco.
No Kamikaze, a paulista Badsista incendiou a pista com um set eletrizante.
Transmissão
Pela primeira vez, o No Ar realizou transmissão na íntegra pelo YouTube, mostrando os shows e entrevistas de artistas e personalidades.
O festival também teve ações de responsabilidade ambiental: foram implementadas e/ou incrementadas, com emissões de carbono quantificadas e compensadas, foram coletados 700 quilos de recicláveis, entre materiais como plástico, papel e papelão, e 40 quilos de resíduos orgânicos para compostagem. Todo o material reciclável será revertido em renda para a cooperativa Coocencipe.