CINEMA

Crítica: Com Ben Affleck e Alice Braga, 'Hypnotic' se leva a sério demais

Filme de Robert Rodriguez um detetive que acabou de viver o trauma de perder a filha, sequestrada em plena luz do dia

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Estadão Conteúdo

Publicado em 01/11/2023 às 14:02
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Se você parar alguns minutos para analisar a filmografia do cineasta Robert Rodriguez, vai perceber que seus melhores resultados surgem quando ele não leva a sério demais seu trabalho, como em "O Mariachi", "A Balada do Pistoleiro", "Um Drink no Inferno, Pequenos Espiões", "Machete Mata" e por aí vai. Difícil entender, então, o que o levou a fazer uma trama tão dura, séria e engessada quanto em "Hypnotic: Ameaça Invisível".

Inicialmente, a trama parece um daqueles suspenses que passavam no Supercine, sessão de filmes no comecinho da madrugada na TV Globo. Afinal, Hypnotic acompanha a história de Danny Rourke (Ben Affleck), um detetive que acabou de viver o trauma de perder a filha, sequestrada em plena luz do dia, e que precisa lidar com um tipo diferente de ameaça: um ladrão de bancos que consegue hipnotizar pessoas comuns para ajudá-lo nos assaltos.

Hypnotic se complica mais do que precisa

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Ben Affleck e Alice Braga no filme 'Hypnotic' - STILL

A partir dessa premissa rocambolesca, envolvendo sequestro, assaltos a banco e hipnose, Rodriguez - que também assina o roteiro ao lado de Max Borenstein (Godzilla) - tinha um caminho muito claro à frente: fazer um filme que se diverte com esse absurdo da situação, brincado até mesmo com o senso de realidade do espectador. Algo como No Limite do Amanhã fez com o cinema de ação, deixando o espectador desnorteado na linha temporal.

No entanto, Rodriguez quis ser mais Christopher Nolan e menos Joel Schumacher. Hypnotic: Ameaça Invisível segue o caminho contrário de tudo que sempre deu certo nos filmes do diretor e se torna uma produção que exagera demais na dose de seriedade. A trama nunca abre espaço para rir de si mesma e de seus absurdos, acreditando que o fato de ter um hipnotizador que comanda pessoas aleatórias na rua é algo que poderia acontecer.

Com isso, tentando fincar demais o pé na realidade, o longa-metragem fica confuso e cansativo durante quase uma hora de projeção - e o filme tem apenas 93 minutos! As coisas vão acontecendo e, além de não ter nada de instigante, acabam virando uma massaroca de acontecimentos dos quais não somos convidados a participar. Vemos tudo de longe, com Ben Affleck fazendo sua cara de surpreso e/ou assustado. Difícil aguentar.

Acertos

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Alice Braga no filme 'Hypnotic' - STILL

Pelo menos o elenco, no geral, está bem. Ben Affleck não muda nada daquela atuação que já conhecemos, mas o vilão tem lá sua graça por conta do bom William Fichtner (Crash, Falcão Negro em Perigo), que sabe ser canastrão na medida certa.

Outro acerto é Alice Braga. Ela, que não tem escolhido bem seus filmes internacionais - O Duelo, A Cabana e Os Novos Mutantes são apenas alguns exemplos -, é uma das melhores coisas de Hypnotic. Ela sabe modular sua personagem para os diferentes momentos que o longa-metragem exige.

Arrisco dizer que, se não fosse Alice Braga no papel, o filme poderia ser um desastre em sua conclusão. Afinal, é sua mudança de tom que dá força à narrativa. O final é a melhor coisa (e não é pela chegada dos créditos!).

A coisa muda drasticamente, porém, quando Hypnotic: Ameaça Invisível entra em seu terço final. Ainda que siga tendo muito Nolan na equação (principalmente com inspiração em A Origem), o filme finalmente começa a se soltar - parece que está perdendo a vergonha frente ao público. Finalmente somos convidados a participar daquela festa e a sentir certa alegria de fazer parte. Rodriguez encontra diversão na trama. Mas aí já é tarde demais.

Afinal, quando as coisas esquentam, o filme acaba. Essa virada ficaria mais bem encaixada na transição do primeiro para o segundo ato. Teria despertado a atenção do público. Faltou desprendimento para Rodriguez, que ficou com essa vontade de guardar o plot twist (ou, melhor, plot twists, no plural) para os últimos 30 minutos. Às vezes, é melhor a surpresa vir antes para se livrar das amarras e brincar mais com a graça que é fazer cinema.

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