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Emanuelle Araújo viaja no universo de Jards Macalé

Cantora, que já foi da Banda Eva, montou um repertório com uma maioria de canções dos anos 70

JC
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Publicado em 10/03/2020 às 14:32 | Atualizado em 12/03/2020 às 17:06
Ana Cisso Pinto/Divulgação
Emanuelle Araújo gravou Macalé em Nova IOrque - FOTO: Ana Cisso Pinto/Divulgação

A baiana Emanuelle Araújo tem um dos currículos mais longos e ecléticos de uma cantora da MPB. Começou ainda criança na TV da Bahia, passou mais tarde pela banda pop Companhia Clic (que já teve Daniela Mercury como vocalista), incursionou pela axé music, substituindo Ivete Sangalo na Banda Eva. Logo estaria na Moinho, interessante proposta de um grupo de samba rock, com a percussionista Lan Lan (Cássia Eller), e o guitarrista Toni Costa (Caetano Veloso). Também foi atriz de novela global. Agora Emanuelle vem de Jards Macalé, em Quero Viver Sem Grilo (Deck), um álbum em que torna mais palatável as nem sempre facilmente digestivas canções do cantor e compositor carioca, muitas delas, feitas para incomodar.

Pode-se voltar a carreira de Macalé a 1965, quando tocou violão no histórico musical Opinião, que revelou Maria Bethânia. Com Bethânia, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Tom Zé, também foi violonista no espetáculo Arena Canta Bahia, em que os futuros tropicalistas foram apresentados ao publico do Sudeste. Apareceu para o grande público na bombástica performance de Gotham City (parceria com José Carlos Capinan), apresentada no Maracanãzinho, no Festival Internacional da Canção de 1969. Incluído na prateleira dos “malditos” da MPB, Macalé já flertou com o sucesso. assinando sucessos para Gal Costa, e foi de suma importância para o resultado do que é considerado um dos mais bem realizados discos e Caetano Veloso, o álbum Transa, de 1972.

“O trabalho que faço não tem nada de pop (...) é importante que fique claro que não nego a música pop, mas o trabalho de destruição, realizado por setores que a importam, transplantando-a à nossa realidade. Tod a diluição da música popular brasileira se concentra nesta visão submissa da nos arte”. Observações de Macalé em agosto de 1970, quando se desenhava como o novo na MPB. Mas não maldito. Não vivia metido em imbróglios com gravadoras, só não fazia concessões às diluições que se tornaram comum então. Uma fase em que a música brasileira era movida a balada românticas, de letras difusas, para evitar os cortes dos censores em Brasílias. Ou então de cantores brasileiros assumindo uma falsa identidade importada e cantando em inglês para não ocupar a turma da censura.

Quero Viver Sem Grilo - Uma Viagem a Jards Macalé foi produzido pela cantora com o Guilherme Monteiro, músico brasileiro que vive em Nova Iorque, cidade em que o álbum foi gravado. O repertório traz Emanuelle Araújo imersa no trabalho menos conhecido do compositor, numa fase que vai de 1970 a 77, em que, graças sobretudo ao tropicalismo, o público consumidor de música encontrava-se aberto ao não convencional. Contraculturas é o adjetivo que se pode colar a algumas canções. Não existe o Macalé “marginal”, feito, por Tom Waits, ele criou um estilo que não era exatamente apropriado ao mainstream, mas não o punha à margem do mercado. Claro, não era exatamente o que os programadores de rádios escolheriam para seus ouvintes.

Canções feito Tio Barnabé (parceria com Marlui Miranda e Xico Chaves), até então só recebera uma gravação, de Macalé e Marlui, para a trilha de Sítio do Pica-Pau Amarelo, em 1977. Boneca Semiótica (Duda/Ricardo Chacal), de aprender a Nadar (1974) só foi gravada pelo auto, enquanto Quero Viver Sem Grilo, de 1978 (com Capinam) só deixou a versão demo inédita, em disco de 2016, com selo da Discobertas, que foi num fundo do baú de rascunhos de Macalé e encontrou joias raras. Emanuelle também vai de canções que ganharam várias versões, tanto quanto ele foi descoberto nos anos 70, quanto pelos os que o redescobriram no século 21. Farinha do Desprezo (com Capinan), Anjo Exterminado (com Waly Salomão), e Hotel das Estrelas (com Duda). Não está no disco o maior hit de Macalé (com Waly Salomão), Vapor Barato.

PARTICIPAÇÕES

O disco contou com participações luxuosas do baixista francês Ben Zwerin (Angelique Kidjo e Nouvelle Vague), do baterista Bill Dobrow (ex-The Black Crowes), Mauro Refosco (percussionista brasileiro que já tocou com Red Hot Chili Peppers, David Byrne e da banda Forró in the Dark). Lan Lahn também toca no disco, que mixado por Kassin. No texto da Deck não é citado o nome da ótima guitarra que se escuta no álbum, mas tudo indica que seja de Guilherme Monteiro, que já foi da banda de Maria Bethânia.

Quero Viver Sem Grilo foi feito praticamente ao vivo no estúdio do astro da country music Jake Owen. O repertório é da primeira fase de Macalé, primeiros anos da década de 70, quando ele esboçou, Waly Salomão, o quase movimento/estilo morbidez romântica. No repertório Hotel das Estrelas, Meu Amor Me Agarra e Geme e Treme e Chora e Mata, Farinha do Desprezo, Anjo Exterminado, Boneca Semiótica, Rotações, Soluços, Movimento dos Barcos, E Quero Viver Sem Grilo. A música é boa, viajada, e ganha uma roupagem atual na ótima voz de Emanuelle Araújo

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