Lançamento

Pearl Jam aponta as armas contra Trump em novo álbum

A banda atualiza sua marca sonora com o primeiro disco de inéditas em sete anos

José Teles
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Publicado em 21/03/2020 às 13:43 | Atualizado em 21/03/2020 às 14:13
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SHOW Pearl Jam voltou aos palcos com turnê do disco "Gigaton", e deve passar pelo Brasil - FOTO: Foto: Divulgação

Donald Trump é chamado de Sitting Bullshit (grosso modo, “Babaca Sentado), na canção Seven O’Clock, faixa de Gigaton, primeiro disco da Pearl Jam em sete anos, e também o primeiro desde que o atual presidente americano assumiu o cargo. Nessa canção, citam-se dois índios que se insurgiram contra o governo dos EUA, Sitting Bull, (daí o trocadilho) e Crazy Horse (respectivamente, Touro Sentado e Cavalo Doido). Pode até não ter sido de propósito, mas Seven O’Clock lembra Bruce Springsteen, uma voz assumida contra o atual morador da Casa Branca.

Gigaton aponta para mais um campeão de vendagens da Pearl Jam. Em meio ao predomínio na música americana (e agora também no Brasil) do rap, e suas várias vertentes, e r&b pop, o grupo liderado por Eddie Vedder não apenas alerta que o rock and roll não morreu, como continua saudabilíssimo. Dos grupos surgidos na safra grunge de fins dos anos 80, a Pearl Jam foi a única banda que nunca perdeu o tesão, tanto no palco quanto no estúdio.

As bandas contemporâneas do Pearl Jam surgidas na região de Seattle empregavam um verso de John Lydon (em Rise), “A ira é energia”. A ira de Kurt Cobain contra tudo e todo era a energia com que se movia a Nirvana, e impulsionava a cena grunge, já irada normalmente pela faixa etária dos integrantes, todos nos vinte e poucos anos. Os tempos de hoje devem ter provocado a ira de Eddie Vedder para o rock and roll de Gigaton, com menos zoeira do que nos anos 90, mais melódico, e eclético, e, em boa parte do álbum, próximo do maximum r&b do The Who lá pelos idos de 1965.

As faixas rock and roll são iniciadas com o pé no acelerador, a canção começa logo em seguida aos primeiros dois ou três acordes, com o baterista Matt Cameron contribuindo para a usina sonora ser posta em ação. Aliás, a música que abre com introdução chama-se Dance of Clairvoyants, iniciada com um riff que se aparece com o som de Adam Clayton, do U2, enquanto Eddie Vedder incorpora maneirismos de David Byrne no vocal. A música soou estranha quando foi lançada como primeiro single do disco.

A temática das letras aponta para tanto para Donald Trump quanto para mudanças climáticas, estas já explícitas na capa (foto, tirada na Noruega, de uma geleira derretendo-se). Com Trump as letras são diretas e duras: “Cruzando as fronteiras para o Marrocos, Caxemira e Marraquesh/as distâncias que viajamos pra chegar até lá/para procurar um lugar que Trump ainda não f...”, versos de Quick Escape, uma das faixas mais rock and roll anos 70, com um longo solo de guitarra, daqueles tipo guitar hero, com direito a feedback no final. A música é do baixista Jeff Ament, e letra de Vedder.

Assinada pelo guitarrista Stone Gossard, Bluckle Up tem um riff hipnótico, e formato diferente da maioria das faixas, é menos rock and roll, meio psicodélica, lembra alguma coisa do Álbum Branco dos Beatles, muda a rota do álbum cuja faixa anterior, Take The Long Way, é um rock pesado, escrito por Matt Cameron, o primeiro da Pearl Jam com participação de uma voz feminina, a de Meagan Grandall, cantora conhecida pelo projeto Lemolo. A bem da verdade, ela não acrescenta muito à música, está mais com jeito de brodagem, a moça é de Seattle.

No final do disco, o grupo amacia no acelerador, com Comes Then Goes, uma típica balada acústica, à Pearl Jam, Depois Retrograde, de Mike McCready, um rock com andamento lento, e participação, nos teclados, de Josh Evans, também de Seattle. O disco termina com mais uma música lenta, em que a bateria de McCready e um órgão dão as coordenadas. O citado John Evans produziu e mixou Gigaton. Relativamente novato como produtor, Evans substitui Brendan O’Brien, produtor dos últimos seis discos da banda. Em Gigaton a Perl Jam conseguiu dar continuidade à sonoridade formatada no inicio dos anos 90, e ao mesmo tempo atualizá-la.

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