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Manu Dibango pavimentou o caminho para a aceitação da música africana

O coronavírus vitimou o artista de 86 anos, ainda em plena atividade

José Teles
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José Teles
Publicado em 24/03/2020 às 17:27 | Atualizado em 24/03/2020 às 17:27
Dibvulgação
Manu Dibango, um pioneiro - FOTO: Dibvulgação

O coronavírus fez a primeira fatal de um estrela de de fama internacional da música popular, Manu Dibango, africano, da República dos Camarões, de 86 anos, que morava em Paris desde o final dos anos 40. Sua morte foi anunciada pela família no Facebook. Manu Dibango faleceu nessa terça-feira 24, num hospital parisiense. Ele foi para a França, aos 15 anos, no final dos anos 40, mas só em 1968 gravou o primeiro álbum, que tem seu nome por título, e que não fez sucesso. O consumidor europeu ainda queria a África, dos filmes de Hollywood, percussiva, de tambores e danças exóticas, e não era o que Dibango fazia.

Emmanuel N'Djoké Dibang, nascido, em 12 de dezembro de 1933, de mãe da douala e pai da etnia yabassi (O Camarões tem cerca de 200 etnias, cada qual com seus costumes e idioma). O comum é que predomine a etnia paterna, mas ele optou pela Douala da mãe. Na época o que é hoje a República dos Camarões tinha uma parte do território como protetorado francês (antes tinha sido colônia da Alemanha), e parte como colônia inglesa. Manu Dibango conseguiu ter acesso a uma escola colonial, e aprendeu a falar francês. A música surgiu naturalmente, e com grande influência ocidental, já que no país se tocava muito música francesa. O violão foi trazido a Camarões pelos portugueses no século 14. Um dos ritmos camaronês, o ambass B vem de Ambassade de Belgique, que por sua vez deriva-se do assico, um ritmo local, como o kossa, e onde vem o makossa. Uma cultura complexa.

Aos 15 anos quando chegou à França, Manuel Dibango já era músico. Enquanto continuava o estudos na capital francesa, passou a tocar os mais diversos tipos de música, passou um tmpo na Bélgica, voltou a África, e em 1965 estava novamente em Paris, agora para sempre. Se hoje a música africana é admirada, cortejada, tem vários nomes de prestígio internacional, isto se deve muito a Manu Dibango, e o sucesso internacional de Soul Makossa, em 1972.

Uma música marcante da década. Mistura o ritmo dos Camarões com Jazz, ao mesmo tempo em que já contém elementos da disco music. Ao mesmo tempo para a música que se fazia no continente africano e no caribe, já que empregava elementos caribenhos em suas composições. O que é bem claro em que African Boogie, outro álbum que lançou em 1972, e tão bom quanto Soul Makossa.

EUA

Mas um artista só podia se garantir no pódio do sucesso, se emplacasse nos Estados Unidos. E Soul Makossa foi composta nos EUA, sem pretensões, como lado B de uma música dedicada seleção dos Camarões e a um campeonato entre nações africanas O acaso desta vez esteve ao lado de Manu Dibango que chegou aos Estados Unidos sozinho, por conta própria, e sem um agente pra representá-lo no concorrido mercado musical de Nova Iorque.

Um DJ, dizem de David Mancuso, comprou o single, gostou e passou a tocar o lado B na casa noturna badalada da vez em NYC, The Loft. Soul Makossa bombou. O disco esgotou, a pirataria passou a fabricá-lo, segundo a revista Rolling Stone, em 1972, oito versões diferentes da música frequentou o paradão da Billboard.

A partir dos anos 80, Manu Dibango foi presença constante em festivais de jazz, daí sua menor exposição em festivais de pop/rock. Vale ressaltar que ele já estava com 32 anos quando virou nome internacional. Sua música, no entanto,continua muito influente entre músicos. Em 1982, Michael Jackson enxertou o refrão de Soul Makossa (Ma-mako, ma-ma-sa, mako-mako ssa) em Wanna Starting Something (de Thriler, querela resolvida na justiça). O hit de Manu Dibango tornou-se o preferido de entre nove estrelas do pop desde então.

Kanie West o usa em Lost in the World, Rhianna em Don’t Stop the Music (também teve que encarcar o advogado de Dibango), A Tribe Called Quest tem makossa em (Devoted to the Art of Moving Butts), e Jay-Z em Face-Off. Por fim, em Da Lama ao Caos (1994), Chico Science prestou uma homenagem a uma de suas influências em Samba Makossa.

Embora não tenha repetido o fenomenal sucesso de Soul Makossa, Manu Dibango gravou compulsivamente, Em 1978, lançou seis álbuns, em 1989, quatro. Raramente lançava menos de dois álbuns por ano. A média era de três discos. Um músico do mundo, como costumava se definir, ele não apreciava quando acentuavam um "música africana" no que fazia. “Faço música, e música é do mundo”, enfatizava.

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