A música mais surpreendente de Bob Dylan foi lançada, de surpresa, no final da noite dessa quinta-feira nas plataformas digitais. No site oficial ele a anunciou com palavras de agradecimento e de solidariedade (uma citação sutil à endemia que assola o planeta): “Cumprimentos aos fãs e seguidores com agradecimentos pelo apoio e solidariedade através desses anos. Esta é uma canção que a gente gravou uns tempos atrás, espero que achem interessante. Se cuidem, fiquem atentos e que Deus esteja com vocês. Bob Dylan".
A música chama-se Murder Most Foul (Assassinato Muito Repugnante), é ilustrada com uma foto do Presidente John Fitzgerald Kennedy (assassinado em 22 de novembro de1963), estende-se por quase 17 minutos, a mais longa que já lançou. Ele começa cantando, quase declamando, sobre a morte de Kennedy, aos poucos vai enxertando citações que percorrem décadas, feito num filme. No acompanhamento, piano, bateria, baixo, acústico e violino
“Estava um dia escuro em Dallas, em novembro de 63/um dia que perdurará como infame”. As citações vão se seguindo “Os Beatles estão chegando/eles vão segurar suas mãos”. Pouca coisa no universo em que viveu e vive deixa ser citado na letra. Do filme A Hora do Pesadelo, a Tommy, a ópera rock do The Who, blueseiros, jazzmen, cultura pop, Wolfman Jack (uma lenda do rádio americano) e até William Shakespeare. Na letra mais extensa que já gravou, Kennedy é mais um mote para ele resumir o século 20.
Em Murder Most Foul, e sua letra, que lembra os melhores momentos de Allen Ginsberg, encontra-se mais o Prêmio Nobel de Literatura, do que o músico que revolucionou a música popular. A um ano de se tornar octogenário (completa 79 anos em maio), Bob Dylan ainda surpreende, com esta canção que é um quebra-cabeças, dentro de um enigma.
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