Covid-19

Ellis Marsalis Jr, patriarca da família Marsalis, e outros músicos vitimados pelo Covid-19

Uma entidade do jazz, ele completaria 86 anos em novembro

José Teles
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José Teles
Publicado em 02/04/2020 às 13:23 | Atualizado em 02/04/2020 às 14:01
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Ellis Marsalis, patriarca do jazz - FOTO: Divulgação

Uma entidade musical de New Orleans, o pianista, compositor, e professor Ellis Marsalis Jr. foi mais uma baixa no jazz, em consequência de complicações provocadas pelo Covid-19. O músico, de 85 anos, foi o patriarca do clã dos Marsalis, que tem o trompetista Wynton Marsalis como o nome mais proeminente, com mais três irmãos com alto conceito no universo do jazz, Branford Marsalis, saxofonista, Delfeayo, trombonista, e Jason, baterista. Dois dos filhos de Ellis não seguiram a carreira de músico, Mboya and Ellis II.

O prefeito de Nova Orleans, cidade tida como o berço do jazz, afirmou nessa quarta-feira que Ellis Marsalis Jr. foi o protótipo do que se imagina ao se falar do jazz em Nova Orleans. No entanto, Ellis nunca se pautou pelo tradicionalismo cultivado em sua terra natal. Seus alunos muito menos. Ele não apenas formou grandes músicos, criou uma escola musical com nomes hoje consagrados feito Nicholas Payton, Harry Connick Jr. Terence Blanchard. Estes com Branford e Wynton Marsalis trouxeram o jazz de volta à vitrine, com um estilo ligado ao que se fazia nos anos 50, mas impetuosidade, até ganharam da imprensa o rótulo de “Young Lions”.

Em seu site oficial Wynton Marsalis publicou uma longa entrevista com a família Marsalis em torno do patriarca, numa época em que fizeram um concerto juntos. Indagado o que aprendeu com o pai, respondeu: “Tive a boa sorte de crescer vendo-o tocar. Foi uma luta crescer, uma luta pra nos alimentar, fazer tudo dar certo enquanto tocava. Ele tocou muitas vezes para poucas pessoas. A base inteira de tudo que sei veio dele. Um cara que estava sempre se exercitando e trabalhando, levava a música muito a sério. Me sinto honrado de saber o quanto fui sortudo em crescer numa família que o tinha à frente de tudo”

Ellis Marsalis Jr. embora tivesse como ídolos Charlie Parker e Thelonious Monk, principais nomes do be bop, que tornou obsoleto o jazz que se fazia antes deles, não se apartou de todo da tradição de Nova Orleans. Nesta citada entrevista no site de Wynton ele explica: “A qualidade de sua música reflete a natureza da cultura de onde você veio”. No entanto, foi um crítico das fusões do jazz com outros gêneros, com rock, música indiana, o que passou para Wynton Marsalis, um conservador, mas considerado o mais importante músico de jazz da atualidade. Foram notórias as rusgas entre ele e Miles Davis, um transgressor que virou a mesa do jazz em várias oportunidades. Enquanto Branford Marsalis, mais aberto, já tocou em todas as frentes, inclusive com roqueiros, Sting e o Grateful Dead.

A família realizou alguns concertos acompanhando o pai ao piano, mas tocaram pouco juntos. Cada qual seguiu seu rumo, com exceção do filho caçula, o baterista, Jason, o único que continuou morando em Nova Orleans, e tocando com Ellis Marsalis Jr, que gravou 20 discos solo (o último é de 2018), com uma infinidade de participações especiais.

OUTROS

A quem ainda duvida da poderosa carga letal do coronavírus vale lembrar que desde que o HIV começou a dizimar vidas no início dos anos 80, nunca tantos músicos foram vítima de um vírus, nos EUA. Na madrugada desta quinta-feira, faleceu, em consequência da Covid-19, Buck Pizzarelli, guitarrista, durante muitos anos mais conhecido como músico de estúdio, e de programas de TV, pai do também guitarrista John Pizzarelli. Ele estava com 94 anos.

Na quarta-feira, o vírus levou Adam Schlesinger, 52 anos, vocalista e compositor da banda Fountains of Wayne, que gravou seis álbuns de estúdio entre 1996 e 2011. Compositor profissional, Schlesinger compôs várias trilhas para série de TV, foi indicado dez vezes ao Emmy, o Oscar da TV, duas vezes ao Grammy, e uma ao Oscar, pela canção That Thing You Do (em 1997), em parceria com Tom Hanks, que dirigiu o filme homônimo (aqui chamado The Wonders – O Sonho Não Acabou).

O vírus matou, nesse domingo, Joe Diff, aos 62 anos, astro da música country. Do mesmo segmento, o cantor e compositor John Prine, um dos mais importantes do country, encontra-se desde o dia 26 de março na UTI. Ele tem 73 anos, e recuperava-se de um câncer. Na segunda-feira, foi a vez do trompetista Wallace Roney, 59 anos, que tocou entre os anos 80 e 90 com Miles Davis, e era considerado um dos mais importantes músicos do jazz contemporâneo. Também do jazz, o coronavírus foi o responsável pela morte do pianista Mike Longo, 84 anos incompletos, remanescente do grupo do trompetista Dizzy Gillespie.

Morando na França, desde final dos anos 40, o malinês Mano Dibango, que completaria 87 anos em 2020, do influente disco Soul Makossa, faleceu em 24 de março, em Paris, de complicações em consequência do coronavírus.

A única mulher atingida pelo Covid-19, na música americana, morreu em 1º de abril, a cantora pop Cristina Monet, 61 anos, mais conhecida no underground nova-iorquino, no final dos anos 70, inicio dos 80. Ela foi ao mesmo tempo da cena new wave e da anti-cena no wave, mas emplacou, em 1980, um sucesso pop internacional com Things Fall Apart.

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