Entrevista

Maciel Melo diz que cultura está em isolamento desde 2019

forrozeiro faz primeira live hoje, num projeto do SESC/PE

JC
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Publicado em 22/06/2020 às 13:40 | Atualizado em 22/06/2020 às 14:08
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Maciel Melo, isolamento - FOTO: Divulgação


O cancelamento das festas juninas foi um baque forte para os artistas em geral, particularmente os do segmento forró. Embora o gênero já não seja mais sazonal, ainda é durante o período junino que eles são mais requisitados. Sobretudo os mais populares, como é o caso de Maciel Melo. No mês de junho é difícil encontrar vaga em sua agenda. Com a pandemia, ele teve todos seus contratos cancelados. Maciel Melo conversou com o JC, sobre o rumo e atitudes que tomou depois da desagradável surpresa aplicada pelo coronavírus, e o que imagina que seja o futuro para os músicos depois do isolamento social. Ele faz a primeira live solo nesta segunda-feira, às 20h, no projeto Festival Musicas que Alimentam, do SESC/PE ( https://www.youtube.com/user/sescpernambuco).
JORNAL DO COMMERCIO – Como é conviver com a pandemia?
Maciel Melo - Estou aqui numa casa em Petrolina, por trás da rua da casa da minha mãe. Pra mim é bom, por um lado, porque estou perto dos meus irmãos da minha mãe. Fazia 38 anos que eu não passava um São João, um mês de junho com ela. Mas eu queria estar na estrada. Também fiquei muito pelo mundo e, de uma certa maneira, me afastei muito da família. Tem um irmão meu caçula, tá com quarentas e poucos anos, eu me encontrava com ele, de vez em quando, um dia ou dois, agora a gente está se vendo mais.
JC – Como você está preeenchendo o tempo, sem ensaio, sem show, sem gravar?
Maciel Melo ¬- Continuo criando, continuo escrevendo, estou lendo mais, procurando ler algumas coisas que precisava ter lido antes. Estou descobrindo coisas, relendo coisas que li quando era adolescente. De certa maneira isto está me fazendo um certo bem. A questão da grana, lógico que faz falta. Vim do Recife pra cá porque vou passar um ano sem trabalhar, só vou trabalhar depois do carnaval. Os que mexem com cultura, somos os primeiros a entrar em isolamento e os últimos a sair.
JC – Até onde o isolamento incomoda?
Maciel Melo – na verdade, Zé, a gente já foi isolado desde que quando este cara entrou na presidência da República. Uma das primeiras coisas que ele fez foi acabar com o Ministério da Cultura, então a cultura já entrou no isolamento antes desta pandemia. E quando passar esta enfermidade toda, a gente vai continuar isolado. Estou pensando como vai ser o mundo daqui pra frente, esta questão governamental, isto tudo está me incomodando, me perturbando. Eu gosto de fazer forró, sou forrozeiro, sou cantador, e o cantador tem que tá a par do que está acontecendo. Daqui pra frente, música vai ter um formato diferente, vou ter que me adaptar a isto, sem perder o meu jeito, o mesmo caboclo sonhador que sempre fui.
JC – O que lhe é mais difícil nesta pandemia?
Maciel Melo – Primeiro, o São João que está triste, a gente vai passar um São João como nunca passamos. Depois, estou em Petrolina, mas não posso abraçar meus irmãos, abraçar minha mãe, peço a benção de longe. Todo mundo de máscara. Mesmo que as pessoas façam uma canjica , uma pamonha, vão comer distantes de um pro outro. Não é o São João de que todos gostamos, que é uma festa de confraternização.
JC – Está todo mundo fazendo lives. Você e seu irmão Maviael, fizeram uma live logo no começo da quarentena. E só agora você volta a fazer, explica esta motivação.
Maciel Melo - Vou fazer mais duas lives. Fiz uma logo quando veio a endemia, com Maviael, depois não quis mais. A internet fica caindo. queria fazer um negocio bem organizado. Fui convidado a fazer em parceria com o Sesc, vai ser a minha primeira live solo. Todo mundo tá fazendo. Mas acho esse negócio de live muito frio, não me acostumei ainda. Topei fazer porque o Sesc fornece a estrutura. Vou fazer ainda uma da Somax, dia 23 (no canal oficial da gravadora, no Youtube, às 19h). É uma forma do povo saber que a gente tá vivo, pra gente estar na mídia, Financeiramente não tem muito retorno. Muitas são feitas pra pedir donativos. No dia 29, a participo de uma da prefeitura no Sitio da Trindade, com uma banda base, que toca com todo mundo que se apresenta, não vai ter público. A gente ganha um cachê simbólico, mais para pagar os músicos.
Jc – E o que você espera, como vê, o futuro?
Maciel Melo - Este ano foi perdido. Mas foi uma coisa por que ninguém esperava. Mesmo que depois que passar, as pessoas vão passar um tempo temerosas de se aglomerar. No nosso caso, em que o período melhor é o junino, acho que só volto a trabalhar só depois do carnaval. Do futuro? Acho que a live, vai continuar o pessoal está acostumando a isso, mas pra gente não é bom. Fiquei produzindo em casa , no intuito de ter material pra trabalhar, quando sair. Fiz uma clipe e uma música com Bia Villa-Chan. Eu gosto muito de Bia, do jeito de se apresentar, da elegância, então mandei uma letra pra ela pra botar a melodia, mandei de manhã, de tarde, ela já mandava de volta com a música. E assim a gente vai se adaptando ao isolamento”.

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