Tropical Diáspora #1 a música das imigrações em Oropa, França e Bahia

Curadores ignoram fronteiras e privilegiam a origem dos músicos
José Teles
Publicado em 10/07/2020 às 22:47
Ska Maria Pastora, diáspora olindense Foto: Divulgação


A música anda cada vez mais junta e misturada; tomando obsoleto o conceito de "world music" Um exemplo desta derrubada de fronteiras está no disco Tropical Diáspora # 1; que reúne músicas e músicos de Oropa, França e Bahia. O álbum teve um lançamento, dia 6 de junho, numa live mediada peja cantora, de Olinda, Joanah Flor, com um bate-papo com DJ GArRincha e Dr. Sócrates, realizadores da coletânea, artistas que participaram d e pocket shows.
O álbum, lançado pelo selo Tropical Diáspora, de Berlim, tem dez faixas, e conta com nove bandas e artistas de países como Colômbia, México, Argentina, Porto Rico Estados Unidos, e Brasil. Quatro nomes brasileiros estão neste LP, Ska Maria Pastora (Olinda), Abeokuta (Recife), BantoNagojêje (Bahia) e Höröyá (São Paulo).
Um disco que começa séculos passados. com a viagem forçada de africanos para países distantes, a maioria no continente americano. E se viabiliza com viagens recentes de DJ GArRincha e Dr. Sócrates, o primeiro brasileiro, o segundo espanhol. Curiosamente, com pseudônimos de nomes de jogadores do futebol brasileiro. GArRincha porque quando começou a tocar em Berlim, usava muito discos de Elza Soares, um amigo colocou o apelido que ficou. O segundo, por ter feito doutorado em História da Arte, entre outros cursos acadêmicos, e pela simpatia pela Democracia Corintiana dos anos 70.
Uma delas uma viagem prosaica, de DJ Garrincha, que vinha de Chicago, onde morou, para São Paulo. Um amigo, Alejandro Ayala, ou King Hippo, colecionador de discos, lhe deu a incumbência de lhe trazer na volta um álbum de Ney Matogrosso, que ele encontrou na lendária Baratos & Afins, e loja paulistana que fez história na música brasileira. Garrincha começou um intercâmbio agora com Luis Calanca, dono fundador da loja, fornecedo-lhe o disco Olhos Negros ao Vivo, de Renato Gama, músico e ativista da causa negra na periferia de São Paulo, lançado pelo Tropical Diáspora Records em Berlim.
Um amigo em comum, perguntou a DJ Garrincha se conhecia o grupo Höröya, de São Paulo, formado por brasileiros e africanos, vindos recentemente de países da África Ocidental. Foram unindo-se os vários elos, de diásporas. O mundo vive já tem algum tempo de corrente migratórias. Em Madri, DJ Garrincha foi encontra La Rueda, um grupo formado por Colombianos. Depois o Bando grupo de rock de San Juan de Porto Rico. Volta ao Brasil com o Bantunagojêje, grupo baiano, que segue uma linha estética mais próxima da África, mas sem obrigatoriedade se prestar ao Carnaval, feito, por exemplo, Tiganá Santana. De Salvador para A Califórnia, e os mexicanos do El Santo Golpe, do selo Sonorama Discos.
Em contato há muito tempo com Pernambuco, o pessoal do Tropical Diáspora trouxa pro disco o Ska Maria Pastora, e da Espanha, o Los Made em Barcelona, formado por latinos de várias origens. DJ Garrincha retomar a Olinda e arrebanha o Abeokuta para suas hostes. Daí para a Alemanha La Por fim, o Riosenti, dupla do México e Argentina.
A relação da cantora Joanah Flor com os DJs surgiu através da Ska Maria Pastora: “Eu entrei na história porque tenho um projeto com o Ska Maria Pastora, de releitura, alguns meninos da Maria Pastora, passaram a tocar comigo no meu projeto solo autoral. Conheci Garrincha através deles. Garrincha gostou minha música Deixa Ela, e me convidou pra participar da próxima compilação do selo, que será de mulheres de vários países, com um trabalho mais voltado para estas questões sociais, que participam de algum movimento. Vai ter cantoras de São Paulo, da Argentina, tá sendo ainda feita a curadoria.
Ela iria começar a gravar um álbum quando veio a pandemia, e vai entrar na compilação do sele alemão com um faixas do repertório que preparou pro disco: “É a música Sereia da Maré, fiz pra dar uma forças as pescadoras marisqueiras, e ela tem tudo a ver com a Tropical Diáspora. A música está sendo produzida em Berlim, diz Joanah, que está também fazendo assessoria para o para o projeto dos dois DJs
DISCO
O disco é aberto com uma fala do pajé Davi Kopenawa Yanomami, com um discurso enfático: “... Civilização é nome bonito, e pra nós, pra nós como Yanomami, como outros parentes, agente fica olhando, o branco ele gosta de procurar de riqueza, como pedacinho de pedra, ouro, diamante, e outras coisa que faz isso aqui, coração da, da internet, eles procuram. Eles falam que índio é preguiçoso, ele é selvagem, é macaco, eles falam pra nós, mas eu posso devolver a palavra dele, um branco, eles são selvagens de verdade”.
Tantos nos escravos caçados, amarrado e jogados em porão de navios, quanto os africanos que deixam seu continente em busca de dias melhores, em metrópoles feito São Paulo, todos trouxeram com eles uma bagagem cultural com força transformadora que agiu de forma irreversível nos lugares onde aportou. A branquíssima bossa nova não teria existido não fosse a diáspora africana no Brasil, da mesma forma que tampouco existiram os Beatles, não fosse a música afro-americana.
Embora a convergência para a África os estilos não poderiam ser mais diferente. A Ska Maria Pastora mesmo sendo de Olinda como a Abeokuta, e tendo músico tocando em ambas, trazem duas sonoridades bem diversas. Los Made de Barcelona faz uma afrobeat com suingue latino. Curiosamente tanto a Abeokuta quanto El Bando, na levada de suas canções lembram Carlos Santana. um mexicano, desde adolescente nos EUA, que revolucionou a música latina, mesclando-a intuitivamente ao rock, com longos e líricos solos de guitarra, liderando uma banda formada por mexicanos e negros. Tropicais Diásporas é um disco viajado e engajado, que ignora fronteiras, e privilegia origens.




 

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